A água e o senso de urgência

Garantir a segurança hídrica é um compromisso das empresas e uma tarefa para toda a sociedade

Por Marina Grossi | ODS 6 • Publicada em 21 de abril de 2018 - 10:33 • Atualizada em 26 de abril de 2018 - 19:23

Ribeirinhos da comunidade de Anumã, no Tapajós, carregam caixa d’agua comunitária (Foto Chico Ferreira/Divulgação).Março/2017
Ribeirinhos da comunidade de Anumã, no Tapajós, carregam caixa d'agua comunitária (Foto Chico Ferreira/Divulgação)
Ribeirinhos da comunidade de Anumã, no Tapajós, carregam caixa d’agua comunitária (Foto Chico Ferreira/Divulgação)

A construção de agendas globais é uma excelente maneira de fazer avançar temas relevantes para a sociedade e o planeta, pois nos incentiva não apenas a assumir compromissos, mas também a agir em busca de soluções palpáveis. Nesse sentido, a Agenda 2030 das Nações Unidas é uma referência exemplar na medida em que alia compromissos amplos, por meio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a metas e indicadores mais concretos, que facilitam a ação local e individualizada de empresas e organizações da sociedade civil.

Um bom exemplo de como essa integração pode se dar está expressa no ODS 6, voltado para a disponibilidade de água potável e saneamento, tema que deve ser prioridade global máxima pela sua influência na qualidade de vida e no desenvolvimento social e econômico, e que se desdobra por outros 13 dos 17 ODS propostos. É por meio da água também que, segundo Estudo da Agência Nacional da Água (ANA), publicado em 2016, a população mundial deverá perceber mais rápida e fortemente os efeitos das mudanças climáticas.

Tendo recém terminado de participar do 8º Fórum Mundial da Água, mais importante evento voltado ao tema e pela primeira vez realizado na América Latina, uma reflexão sobre as principais metas relacionadas ao ODS 6 – acesso universal, melhoria da qualidade, uso eficiente, gestão integrada e proteção dos ecossistemas, entre outros – indica que ainda há enormes desafios a serem enfrentados por governos, pelo setor produtivo e, também, pela sociedade civil. Afinal, a missão de bom gerenciamento hídrico depende de cada segmento e de ações conjuntas entre todos.

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Mas, se o problema é global e coletivo, as soluções serão necessariamente locais e individualizadas: não há receitas genéricas e são poucas as respostas que conseguem unir relevância e aplicação universal.

No entanto, quando se atua em uma instituição como o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), como eu faço há sete anos, é possível ver que empresas brasileiras têm experiências relevantes, que dialogam com metas e indicadores propostos pelo ODS 6, e que apontam para caminhos viáveis para a superação dos dilemas relacionados.

Mais de 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada. Sem saneamento básico fica difícil pensar em futuro. Foto Custódio Coimbra

Esse é o caso dos estudos das condições de disponibilidade e perdas na distribuição de água, conduzidos sob a liderança da Braskem em parceria com a Sanasa e o Instituto Trata Brasil, em São Paulo e Rio de Janeiro. Outro importante estudo diz respeito ao cálculo do real valor da água que, quando considerado todos os riscos socioambientais, mostram que a água de reúso possui vantagens efetivas e representa importante redução de consumo, permitindo a manutenção da produtividade mesmo em cenários de escassez, diminuindo também o impacto ambiental. Isso pode ser verificado na prática pelo uso de água de reúso pela Braskem do projeto Aquapolo da BRK Ambiental em São Paulo, que permitiu à empresa aumentar os ciclos de uso de água de resfriamento de quatro para oito e não sentir os impactos da crise de 2014/15 na sua produção.

Os resultados apresentados pelo projeto intensificam a necessidade de discutirmos fatores que deveriam ser levados em conta no cálculo do custo da água para os mais diversos usos. Somente uma gestão responsável pode garantir o acesso universal. A compreensão de que a água não é mais um recurso abundante como no passado exige correta valoração e estímulo à medição.

Nesse sentido, várias empresas associadas ao CEBDS apresentam tecnologias e práticas que aumentam a produtividade, diminuem as perdas e intensificam a recirculação da água em seus processos industriais. O aprendizado de muitas dessas experiências já está registrado no Guia de Eficiência e Economia Circular da Água, que lançamos durante o Fórum, como forma de replicar as ações para outras empresas.

Além disso, lideradas pelo CEBDS, essas empresas assinaram um Compromisso Empresarial Brasileiro para a Segurança Hídrica, também lançado no evento, que servirá de base para a construção de uma plataforma que concentrará, de maneira transparente, as ações e metas das empresas em relação a sua gestão hídrica. Por meio dessa plataforma, será possível ampliar o alcance das boas práticas empresariais, de forma a influenciar atitudes no dia-a-dia da sociedade, e especialmente de outras empresas.

Absolutamente alinhados ao propósito de compartilhamento da água, principal lema do Fórum, os dois documentos serão um legado empresarial, especialmente considerando que no Brasil ainda convivemos com cenários que remontam ao século XIX, como na questão do saneamento, por exemplo. Mais do que nunca, as mudanças do clima e seus desdobramentos em relação à água nos obrigam a agir com senso de urgência.

Marina Grossi

Marina Grossi, economista, é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com mais de 100 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileiro. Foi negociadora do Brasil na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima entre 1997 a 2001 e coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2001 e 2003.

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