Oscar nem tão branco: Hollywood se redimiu?

Premiação tem 'recorde de diversidade', mas indústria do cinema persiste priorizando homens brancos

Por Valquiria Daher | ODS 9 • Publicada em 24 de janeiro de 2017 - 19:02 • Atualizada em 25 de janeiro de 2017 - 11:03

Denzel e Viola em “Cercas”: ambos foram indicados ao Oscar 2017 (Foto de divulgação)
Mahershala Ali, de "Moonlight": ele foi indicado a melhor ator coadjuvante
Mahershala Ali, de “Moonlight”: ele foi indicado a melhor ator coadjuvante

O Oscar 2017 não está tão branco quanto aquele que passou. Depois da divulgação dos indicados nesta terça-feira (24/01), a premiação já ganhou o título de “recordista de diversidade”. Três produções com temática afro-americana estão na briga pela estatueta de Melhor Filme: “Moonlight: sob a luz do luar” (Moonlight), “Cercas” (Fences) e “Estrelas além do tempo” (Hidden Figures). Pelo menos dez atores e diretores negros foram lembrados em diferentes categorias, de superestrelas como Denzel Washington e Viola Davis, a nomes menos conhecidos por aqui, como a atriz Ruth Negga e o jovem diretor Barry Jenkins. Hora de comemorar? Sim, mas nem tanto.

Para começar, a Academia de Artes e Ciências não poderia mesmo ter repetido o vexame do ano anterior, em que negros foram banidos, numa edição que ficou conhecida como “Oscar so White”. A repercussão foi tão terrível que ameaçou o reinado de “maior festa do cinema”.

E o execrado 2016 teve lá seus pontos positivos. Um deles foi a leva de ótimas produções com negros em posição de destaque, como Gil Robertson, presidente da African American Cristics Association, destacou recentemente: “Foi um ano excepcional para os negros nos filmes. De comédias a dramas de alta qualidade e documentários, 2016 vai sempre representar um ano de bonança para o cinema negro, e para todo o cinema”.

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Denzel e Viola em “Cercas”: ambos foram indicados ao Oscar 2017 (Foto de divulgação)

Para Mahershala Ali, indicado a Ator Coadjuvante por “Moonlight”, o importante é o bom trabalho feito: “Eu espero que não tenha sido indicado por ser negro. Isso não tem relevância. Espero que tenha sido indicado por meu trabalho”, destacou ao “Hollywood Reporter”.

Então é hora de comemorar mesmo, certo? Sim, mas… Não vamos nem falar da ausência de diretoras entre as indicadas. Isso fica para outra hora. A questão é: o número de indicações representa, de fato, uma redenção de Hollywood? Ou seria apenas uma reação ao mal-estar provocado pelo erro da Academia no ano anterior? Números recentes mostram que a indústria de filmes norte-americana ainda é quase tão branca quanto o Oscar 2016. Uma pesquisa da Universidade do Sul da Califórnia levantou que, em 2014, 73% dos papéis em filmes foram para brancos, contra 13% para negros.

O relatório anual sobre diversidade em Hollywood, do Bunche Center, da Universidade da Califórnia (UCLA), revela números parecidos, apesar de os negros serem mais de 40% da população nos Estados Unidos. Os autores concluíram que, ainda que a presença de afro-americanos melhore a performance nas bilheterias, a discrepância ainda é enorme em decorrência de os homens brancos americanos estarem no poder nos grandes estúdios. A pesquisa avalia que, se não houver uma mudança, a indústria do entretenimento não seguirá sustentável. Ou seja: diversidade é um bom negócio.

Confira a presença negra nas principais categorias do Oscar:

Melhor Filme: “Moonlight: sob a luz do luar” (Moonlight), “Cercas” (Fences) e “Estrelas além do tempo” (Hidden Figures)

Melhor Diretor: Barry Jenkins, por  “Moonlight: sob a luz do luar”

Melhor atriz: Ruth Negga, por “Loving”

Melhor ator: Denzel Washington, por “Cercas”

Melhor atriz coadjuvante: Viola Davis, por “Cercas”; Naomie Harris, por “Moonlight: Sob a Luz do Luar”;  Octavia Spencer, por “Estrelas Além do Tempo”

Melhor ator coadjuvante: Mahershala Ali, por “Moonlight: sob a luz do luar”

Melhor documentário: “I Am not Your Negro”, de Ava DuVernay; “OJ: Made in America”, de Ezra Edelman

Melhor roteiro adaptado: “Moonlight: sob a luz do luar” (Barry Jenkins e Tarell Alvin McCraney) e “Cercas” (August Wilson)

Valquiria Daher

Formada em Jornalismo pela UFF, nasceu em São Paulo, mas cresceu na cidade do Rio de Janeiro. Foi repórter do jornal “O Dia”, ocupou várias funções no “Jornal do Brasil” e foi secretária de redação da revista de divulgação científica “Ciência Hoje”, da SBPC. Passou os últimos anos no jornal “O Globo”, onde se dedicou ao tema da Educação. Editou a Revista “Megazine”, voltada para o público jovem, e a “Revista da TV”. Hoje é Editora do Projeto #Colabora e responsável pela Agência #Colabora Marcas.

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