Retrato de um casal de noivos. A noiva, à direita, é uma mulher de pele negra, usando um vestido branco e colar no pescoço. Ela posiciona as mãos sobre as do noivo, ambos usando alianças douradas no dedo anelar. O noivo é um homem negro vestindo gravata e paletó na cor preta, com camisa branca por baixo.

Famílias invisíveis: noivas e mães  encarceradas

O dia em que a jornalista Ana Morett foi ao casamento de mães presas em Bangu.

Logotipo do Colabora
Foto da entrada da penitenciária Talavera Bruce. O nome da unidade está escrito em letras garrafais em uma placa, que fica acima de um portão de metal cinza. Há janelas acima da placa e a parede do prédio é pintada na cor branca, com uma faixa verde-escura no piso térreo.

De acordo com a Depen, das mais de 40 mil mulheres que se encontram no sistema prisional, mais de 4 mil estão grávidas ou já são mães. No Rio, elas ficam na Unidade Materno Infantil, na penitenciária Talavera Bruce, em Bangu. 

Logotipo do Colabora
Uma noiva se prepara para a cerimônia. É uma mulher negra, usando um vestido de casamento branco e rendado, usando um colar de pérolas. Não é possível ver seu rosto, mas é possível ver que ela possui cabelos pretos e enrolados. No quarto, é possível ver um berço branco de madeira e um armário de metal e vidro. Atrás da noiva, em uma mesa de plástico branca, há adereços típicos do evento, como um buquê.
Logotipo do Colabora

Foi lá que ocorreu o primeiro casamento coletivo realizado pelo TRJ em um presídio feminino, em dezembro de 2016. O evento fez parte da Semana da Justiça pela Paz em Casa, que mobiliza medidas de atendimento às mulheres.

Uma noiva, fotografada do inferior do rosto para baixo, segura um bebê no colo e parece estar brincando com ele, enquanto um homem apoia as costas da criança com a mão direita. A noiva tem pele branca e cabelos castanhos, e está no canto direito da foto, usando um vestido branco, sentada em uma bancada verde. A criança tem cabelos escuros e usa calça jeans e uma camisa camuflada. No canto esquerdo, o homem que apoia o bebê está de costas para a foto, usando um paletó preto. As rugas em sua mão indicam que ele tenha cerca de 50 anos. Na bancada, estão copos brancos de plástico e é possível ver outras pessoas usando trajes de gala ao redor da noiva.

Estavam presentes assistentes sociais, assessores de imprensa e representantes da Justiça de diferentes ONGs. Em outros cômodos, noivos se arrumavam e outras mães participavam de um desfile de moda.

"Ah, meu Deus, minha filha está tão linda", exclamou T., mãe de Maria, que ficou responsável por levar o buquê e as alianças e chamou atenção no tapete vermelho um sorriso tímido e um vestido rodado.

Um dos noivos contou que estava ao lado da parceira há anos e que a visitava quinzenalmente. "A ideia era casar lá fora. É uma pessoa boa, fez besteira, mas mudou. Se eu abandoná-la, será pior". 

A penitenciária Talavera Bruce recebe as detentas grávidas de todo o estado. É na UMI também que elas ficam até que as crianças completem entre seis meses e um ano. 


Após esse período, caso as detentas não obtenham liberdade, ocorre o “desligamento”. Ou seja, o bebê é separado da mãe, levado para uma família ou abrigo. 

Se o dia em que estive no casamento foi festivo, as cenas que se seguem quando uma mãe precisa se despedir do filho são o oposto. Os efeitos dessa separação vão além da tristeza dos envolvidos.

A psicóloga e consultora da UNICEF Isabel Abelson explica: a primeira infância é um período decisivo para a formação de uma pessoa. A falta de um vínculo, como o materno, pode afetar esse desenvolvimento. 

É por isso que eventos como esse se mostram tão importantes. A Semana do Bebê existe há décadas, mas é realizada na UMI há sete anos. 


O objetivo do UNICEF com essas iniciativas é garantir e valorizar o vínculo entre mães e filhos. A semana também envolveu palestras, oficinas e assistência médica adequada para proteger a dignidade das detentas. 

Em um país onde muito se fala que “bandido bom é bandido morto”, ações como essas existem para tentar mudar o cenário e a realidade de crianças que, para muitos, são invisíveis. 

CLIQUE AQUI

Quer ver mais
Web Stories?

Reportagem: Ana Morett
Fotos: Flávio Emanuel
Edição: Vinicius Barros
Webstory: Guilherme Leopoldo