Famílias invisíveis: noivas e mães  encarceradas

O dia em que a jornalista Ana Morett foi ao casamento de mães presas em Bangu.

De acordo com a Depen, das mais de 40 mil mulheres que se encontram no sistema prisional, mais de 4 mil estão grávidas ou já são mães. No Rio, elas ficam na Unidade Materno Infantil, na penitenciária Talavera Bruce, em Bangu. 

Foi lá que ocorreu o primeiro casamento coletivo realizado pelo TRJ em um presídio feminino, em dezembro de 2016. O evento fez parte da Semana da Justiça pela Paz em Casa, que mobiliza medidas de atendimento às mulheres.

Estavam presentes assistentes sociais, assessores de imprensa e representantes da Justiça de diferentes ONGs. Em outros cômodos, noivos se arrumavam e outras mães participavam de um desfile de moda.

"Ah, meu Deus, minha filha está tão linda", exclamou T., mãe de Maria, que ficou responsável por levar o buquê e as alianças e chamou atenção no tapete vermelho um sorriso tímido e um vestido rodado.

Um dos noivos contou que estava ao lado da parceira há anos e que a visitava quinzenalmente. "A ideia era casar lá fora. É uma pessoa boa, fez besteira, mas mudou. Se eu abandoná-la, será pior". 

A penitenciária Talavera Bruce recebe as detentas grávidas de todo o estado. É na UMI também que elas ficam até que as crianças completem entre seis meses e um ano. 


Após esse período, caso as detentas não obtenham liberdade, ocorre o “desligamento”. Ou seja, o bebê é separado da mãe, levado para uma família ou abrigo. 

Se o dia em que estive no casamento foi festivo, as cenas que se seguem quando uma mãe precisa se despedir do filho são o oposto. Os efeitos dessa separação vão além da tristeza dos envolvidos.

A psicóloga e consultora da UNICEF Isabel Abelson explica: a primeira infância é um período decisivo para a formação de uma pessoa. A falta de um vínculo, como o materno, pode afetar esse desenvolvimento. 

É por isso que eventos como esse se mostram tão importantes. A Semana do Bebê existe há décadas, mas é realizada na UMI há sete anos. 


O objetivo do UNICEF com essas iniciativas é garantir e valorizar o vínculo entre mães e filhos. A semana também envolveu palestras, oficinas e assistência médica adequada para proteger a dignidade das detentas. 

Em um país onde muito se fala que “bandido bom é bandido morto”, ações como essas existem para tentar mudar o cenário e a realidade de crianças que, para muitos, são invisíveis. 

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Reportagem: Ana Morett
Fotos: Flávio Emanuel
Edição: Vinicius Barros
Webstory: Guilherme Leopoldo