Cidade do Piauí, com pouco mais de 10 mil habitantes, é epicentro da desertificação no país.
Fotos: Márcio Pimenta
— Uma viagem a
Quando se fala em mudanças climáticas como resultado da ação humana, logo vêm à mente imagens de ursos polares no Ártico ou a elevação do nível do mar arrasando a costa dos países.
Sim, isso é verdade, mas há problemas tão ou mais urgentes e que estão acontecendo bem ao nosso lado.
Um deles é a desertificação de regiões que, antes da ação humana, eram lugares de grandes riquezas naturais. E ela está avançando no Nordeste.
Mas elas têm um ponto em comum: são provocadas pela ação humana.
As razões são diversas: da pecuária extensiva a monoculturas, mineração, desmatamento e queimadas.
No Brasil, são ao todo seis núcleos de desertificação oficialmente reconhecidos pelo Estado e objeto de estudos da Organização das Nações Unidas (ONU). Todos no Nordeste.
Dos 1.488 municípios afetados, um dos mais tragicamente atingidos é Gilbués, no Piauí. Segundo o Inpe, são 7,8 mil km² de áreas degradadas no estado. Área 5 vezes maior que a cidade de São Paulo.
Márcio Pimenta, fotógrafo especialista em documentários, viagens e culturas, foi até Gilbués conduzindo seu jipe e produziu este material que se tornou uma série especial do #Colabora.
Lá, a comunidade local ganha um novo perfil: os mais velhos ficam com o que ainda dá para ser explorado, e os mais jovens abandonam a comunidade. Na foto, Agripino Borges, garimpeiro.
Aos 72 anos, dos quais os últimos 50 morando na região, Zé Capenga é testemunha ocular do processo de degradação ambiental que transformou o sertão de Gilbués num deserto em pleno Cerrado piauiense.
“O arroz, que era comum na região, deixou de ser produzido”
Na foto, Zé e seu inseparável instrumento de trabalho, o facão. Vive da pequena roça, que só dá milho e mandioca, e de 30 cabeças de gado.
O que acontece nessas regiões é diferente da formação de um deserto natural, como o deserto do Atacama, resultado de uma combinação entre solo e clima.
Não se sabe exatamente quando começou. Mas estudos apontam uma relação direta entre a desertificação e o início de atividades como a pecuária extensiva e agricultura, sobretudo do plantio de arroz.
A tal ponto que esgotaram a capacidade do solo e seu poder de renovação!
As queimadas acabaram com a nascente de vários rios locais, deixando apenas as marcas por onde corriam as águas e pontes sobre um solo seco.
E como se fosse pouco, no caso de Gilbués ainda há a exploração de diamantes. A extração teve início por volta dos anos 1940, e, desde então, o processo de degradação do solo vem acelerando.
Mas a riqueza extraída do subsolo de Gilbués não mudou o perfil socioeconômico do município:
E chega a 22,5% o percentual da população sem instrução nenhuma ou com menos de um ano de estudo.
64,1% da população vivem com até um salário mínimo.
A desertificação de Gilbués é parte de um problema de dimensão mundial. Mas o tema perdeu força no Brasil de Bolsonaro. Ninguém do governo fala sobre, como se o problema tivesse sido resolvido.
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