Candomblecista e professora de ensino religioso de um colégio estadual em Itaboraí, Waldineia Teles faz parte do pequeno grupo de docentes credenciados por um credo de matriz africana no RJ.
Em sala de aula, ela, que acaba de passar no doutorado, costuma abordar sobre tolerância, preconceito, ancestralidade e história. A sua, em especial, carrega um pouco de tudo isso.
ATIVE O SOM
“O lugar das religiões de matrizes africanas ainda é o da demonização. Além das aulas serem demonizadas, o corpo dessa professora negra também será. Tenho preocupação em chegar, permanecer e sair da escola. ”
Waldineia acredita que um dos principais empecilhos para a aplicação do ensino religioso de matrizes africanas é o pré-julgamento sobre o que essa disciplina retrata.
"O que marca é a sutileza. As pessoas já vêm com algo pré-definido, e não se abrem para aprender. A grande maioria da população aqui é negra, e qual é o impedimento de saber da sua história?"
Waldineia debate em sala sobre os diversos preconceitos que regem a sociedade. Ela considera que essas intolerâncias colaboram com a demonização do ensino religioso.
“A religião do candomblé, da umbanda, no Sudeste, são perseguidas porque são religiões de negros. Antes de tratar da questão da religião, eu desconstruo a questão dos preconceitos.”
“O que tem por trás da demonização das religiões de matrizes africanas? Eu trabalho a intolerância, o genocídio (...) Se eu começar a falar sobre Orixás, eu vou ficar sozinha em sala. Assusta!”
Alexsandro dos Anjos, é um exemplo do quão rica é a troca, ainda mais quando há diversidade de pensamentos. O ex-aluno é católico, mas gosta dos debates da professora candomblecista.
Ele conta que no início tinha resistência, queria ir embora mais cedo para casa. Mas foi gostando e começou a participar da aula de Waldineia.
A possibilidade de opção dos alunos de cursarem ou não a disciplina no Rio de Janeiro é um ponto visto com bons olhos por Waldineia, mesmo que isso possa explicar em parte o baixo número de optantes.
Waldineia já sofreu discriminação dentro e fora das salas de aula. Entretanto, a professora também relata boas experiências que o ensino religioso proporcionou.
"Uma das experiências negativas foi um coro de alunos me chamando de 'macumbeira'. E fiz um acordo: 'eu não quero saber mais a religião de vocês e vocês não precisam saber da minha'".
Ela se lembra de um aluna que afirmou que a partir das aulas sobre afirmação da negritude resolveu usar tranças. "Não tem preço, não tem mesmo... A gente não pode desistir, né?"