Um dia depois da abertura oficial da COP30, Belém viveu um dia de protestos nas ruas e também de confusão na Zona Azul, a área reservada da COP30. A ocupação das ruas por manifestantes já era esperada – principalmente depois de três conferências climáticas realizadas em países com governos autoritários – mas a segurança do evento não esperava ser testada logo no segundo dia, com uma tentativa de invasão do pavilhão principal.
Na tarde desta terça-feira (11/11), médicos, enfermeiros, estudantes, lideranças indígenas e representantes de movimentos sociais ocuparam as ruas de Belém nesta durante a Marcha Global Saúde e Clima, manifestação para denunciar uma face negligenciada da emergência climática: a saúde pública. “Na Amazônia, a crise climática já é uma emergência de saúde. O calor extremo, a fumaça das queimadas, a contaminação dos rios e a falta de energia nas comunidades mostram que não dá mais pra separar clima, saúde e justiça”, afirmou Luti Guedes, coordenador da campanha Energia dos Povos, da ONG 350.org, uma das organizadoras
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosA marcha reuniu centenas de participantes que seguiram entre a Embaixada dos Povos e a Zona Azul da COP30, com cartazes e cantos que pediam “Saúde e Clima, uma só luta” e “Sem planeta saudável, não há futuro”. A marcha foi organizada pelo Movimento Médicos pelo Clima, idealizado pelo Instituto Ar, em parceria com a Rede de Trabalho Amazônico (GTA), movimento que atua na defesa dos povos da floresta e da diversidade amazônica. “A mudança do clima é hoje uma crise de saúde. Os efeitos são enormes: adoecimentos, mortes e um custo imenso para os sistemas de saúde. O Brasil precisa sair da inércia e se preparar”, disse a médica patologista Evangelina Araújo, fundadora do Instituto Ar.
Líderes dos movimentos destacaram que a crise climática já compromete a saúde de milhões de brasileiros o aumento das temperaturas agrava casos de estresse térmico e doenças cardiovasculares; a poluição do ar intensifica quadros de asma e bronquite; e eventos extremos como enchentes e secas prolongadas comprometem o abastecimento de água, a produção de alimentos e aumentam doenças como dengue, zika e malária..
Também participaram da organização da Marcha Global Saúde e Clima a Fiocruz, o Conselho Regional de Enfermagem do Pará (COREN-PA), 350.org Brasil, Manas da Periferia, Coletivo Pororoka, Movimento Saúde Sustentável, Médicos Sem Fronteiras, Red Clima Salud, Juntos!, DNDi, Grupo de Trabalho de Saúde Planetária da SBMFC, Hospitais Saudáveis, IPSA, CIRAT, IPAD e Global Climate and Health Alliance, com apoio da RD Saúde.
Depois da marcha, confusão na sede da COP30
Após o fim da Marcha Global Saúde e Clima, um grupo de ativistas chegou a invadir a Zona Azul da COP30, centro diplomático da conferência climática da ONU. Houve tumulto e os manifestantes foram expulsos após confronto com seguranças, que isolou a área da entrada principal da Zona Azul com dois cordões humanos.
O grupo de ativistas defendia “taxar os bilionários” e conseguiu entrar no Parque da Cidade de Belém, que concentra o evento. Os manifestantes também entoavam gritos contra a exploração de petróleo na Foz do Amazonas: “Governo Lula, que papelão, destrói o clima com essa perfuração”.
Vídeos do protesto mostram que a tentativa de invasão começou com a aproximação de um grupo que usava trajes indígenas. Eles passaram pelos portões da entrada principal do Parque da Cidade e pela área das máquinas de raio-x do pavilhão principal. Eles se espalharam pelo saguão, perto da área de credenciamento. Na sequência, outros manifestantes carregando bandeiras de coletivos estudantis e faixas de protesto contra a exploração de petróleo chegaram ao espaço da Zona Azul e também foram contidos pelos seguranças.
As entidades promotoras da manifestação nas ruas de Belém negaram envolvimento com a iniciativa do grupo. “As organizações que integram a Marcha Global Saúde e Clima vêm a público esclarecer que não têm qualquer relação com o episódio ocorrido na entrada da Zona Azul da COP30 após o encerramento da marcha”, informaram, em nota, os organizadores.
