Mulheres francesas também engordam

A woman poses in front of the Eiffel tower as she waits for the start of the Rick Owens 2015 Spring/Summer ready-to-wear collection fashion show, on September 25, 2014 in Paris. AFP PHOTO / JOEL SAGET / AFP PHOTO / JOEL SAGET

OMS alerta que, até 2030, Europa enfrentará epidemia de obesidade

Por Marlene Oliveira | ODS 3 • Publicada em 5 de abril de 2017 - 17:00 • Atualizada em 7 de abril de 2017 - 12:03

A woman poses in front of the Eiffel tower as she waits for the start of the Rick Owens 2015 Spring/Summer ready-to-wear collection fashion show, on September 25, 2014 in Paris. AFP PHOTO / JOEL SAGET / AFP PHOTO / JOEL SAGET
Joel Saget/AFP
Derrubado o mito de que as francesas são todas magras: 40,9% delas estão com sobrepeso (Joel Saget/ AFP)

Cerca de 50% da população francesa com mais de 30 anos está com sobrepeso. Até aí, tudo bem. Mais um país desenvolvido com gente comendo mais e pior do que deveria. O problema é que essa previsão derruba um mito, o de que as mulheres francesas não engordam. Título, aliás, de um best-seller homônimo, muito vendido no Brasil, escrito por Mireille Giuliano.

Na França, estudo publicado pelo Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica revela que 56,8% dos homens e 40,9% das mulheres estão com sobrepeso

Se é assim na França, imagine nos Estados Unidos? Pois é, acabou o tempo em que achávamos que a obesidade era um problema de saúde pública apenas para os americanos. As pesquisas demonstram que, em termos de sobrepeso e obesidade, a França é hoje o que eram os Estados Unidos há 20 anos. Mas o problema não atinge apenas os franceses. Na verdade, os números mostram um aumento, rápido e progressivo, de sobrepeso e de obesidade em outros países.

Na França, estudo publicado pelo Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica revela que 56,8% dos homens e 40,9% das mulheres estão com sobrepeso. Importante lembrar que, já não basta “apenas” registrar o peso e calcular o IMC – Índice de Massa Corporal*, medida internacional usada para calcular se uma pessoa está no peso ideal. Agora, deve-se medir também a circunferência abdominal, pois a gordura nessa região estaria associada a doenças cardiovasculares e ao diabetes tipo 2.

Menina gordinha com videogame. Foto de Roos Koole/ ANP/ AFP
O sedentarismo é uma das causas da obesidade infantil. (Foto de Roos Koole/ ANP/ AFP)

Se a França carrega a bandeira da liberdade, igualdade e fraternidade, no quesito “balança” a igualdade é, no mínimo, desigual: a condição sócio-econômica é “o” fator determinante quando se fala em obesidade. Em um grupo de mulheres com renda mensal inferior a €450, a obesidade atinge 30%. A taxa cai para 7% no grupo de mulheres com renda mensal superior a €4200.

Segundo Gema Frühbeck, especialista em endocrinologia e nutrição e presidente do comitê executivo da Associação Europeia de Estudo da Obesidade, não há soluções mágicas. Não se trata obesidade como a uma infecção: você toma um antibiótico e em alguns dias estará curado. Ela exige reflexão e ações de diferentes profissionais, como políticos, urbanistas, arquitetos, nutricionistas, médicos, educadores…Gema identifica dois grandes vilões: o sedentarismo, trazido pelas tecnologias, e o impacto da crise econômica no cardápio, obrigando as famílias a abrirem mão de uma alimentação mais saudável e a recorrerem a alimentos mais baratos e calóricos.

No Brasil, a obesidade e o sobrepeso vêm aumentando, assim como em toda a América Latina e Caribe. Com um impacto maior sobre as mulheres e uma tendência de crescimento entre as crianças

Vivemos em uma sociedade onde a comida ocupa um espaço importante no convívio social e familiar. Segundo os pesquisadores, é aí que pais e educadores devem se concentrar para sensibilizar as crianças a terem um modo de vida mais saudável, onde haja espaço para passeios e caminhadas, ao invés de passar o dia sentadas, jogando videogame. Mais frutas e legumes e menos refrigerantes e doces.

A obesidade também é desigual em termos de geografia: enquanto no norte da França, 25,6% da população está obesa, os grandes centros, onde o nível de vida dos habitantes é mais elevado, têm as menores taxas de obesidade: 10,7% em Paris e 12,3% em Lyon.

No Brasil, a obesidade e o sobrepeso vêm aumentando, assim como em toda a América Latina e Caribe. (Foto de Berliner Verlag/Steinach Zentralbild/ DPA/ AFP)

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o sobrepeso atinge 1,4 bilhão de pessoas de 20 anos ou mais, em todo o mundo e, até 2030, atingirá 3,3 bilhões de pessoas. Esses números são confirmados por cientistas do Imperial College London que se debruçaram para estudar dados de cerca de 20 milhões de homens e mulheres, de 1975 a 2014, vindos de 186 países. Os resultados demonstram que, desde 1975, a obesidade triplicou entre homens e dobrou entre mulheres. Se há 40 anos o número de pessoas abaixo do peso era o dobro das obesas, hoje há mais obesos que pessoas abaixo do peso. Uma surpresa: 6 países de língua inglesa reúnem 1/5 dos adultos obesos do planeta: 118 milhões de pessoas. São eles: Estados Unidos, Austrália, Canadá, Irlanda e Nova Zelândia.

No Brasil, a obesidade e o sobrepeso vêm aumentando, assim como em toda a América Latina e Caribe. Com um impacto maior sobre as mulheres e uma tendência de crescimento entre as crianças, aponta relatório conjunto da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e da Organização Pan-americana de Saúde (Opas).

De acordo com o levantamento, intitulado Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe, mais da metade da população brasileira está com sobrepeso e a obesidade já atinge 20% das pessoas adultas no país. Ou seja, ao mesmo tempo em que o Brasil conseguiu superar a fome, alcançando níveis inferiores a 5% desde 2014, quando o país saiu do mapa da fome da ONU, o crescimento econômico, a urbanização e a mudança nos padrões de consumo provocaram um crescente aumento da obesidade.

*Para calcular seu IMC: dividir seu peso pelo quadrado da sua altura.

Marlene Oliveira

Jornalista e profissional de comunicação, vive em Paris e conhece bem a ebulição do ambiente corporativo. Acredita que a queda do império romano "é pouco" perto das transformações que a sociedade está vivendo mas, otimista até a raiz dos cabelos, acredita que dias melhores virão. Inxalá!

Newsletter do #Colabora

Um jeito diferente de ver e analisar as notícias da semana, além dos conteúdos dos colunistas e reportagens especiais. A gente vai até você. De graça, no seu e-mail.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *