Laboratório da Coppe/UFRJ busca remédios mais seguros

Pesquisas desenvolvem medicamentos biológicos, mais eficazes e com menos efeitos colaterais para tratamento de colesterol alto e febre amarela

Por Barbara Lopes | ODS 3ODS 4 • Publicada em 17 de junho de 2019 - 08:19 • Atualizada em 21 de junho de 2019 - 19:27

Laboratório de Biofármacos da Coppe/UFRJ: desenvolvimento de anticorpos para o tratamento de alto colesterol (Foto: Divulgação)
Laboratório de Biofármacos da Coppe/UFRJ: desenvolvimento de anticorpos para o tratamento de alto colesterol (Foto: Divulgação)

Um dos grandes avanços no tratamento de doenças como artrite, câncer, diabetes, febre amarela e hepatite são os medicamentos biológicos, os chamados biofármacos. Obtidos de células vivas modificadas geneticamente, sintetizam as proteínas com a estrutura e complexidade necessárias para promover tratamentos eficazes, seguros e com menos efeitos colaterais. Poucos países são capazes de produzir esses medicamentos, já que é preciso muito investimento em pesquisa. Há pouco tempo, o Brasil passou a fazer parte dessa seleta lista. A Coppe, na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), está desenvolvendo pesquisas para permitir a produção de biofármacos no Brasil, com tecnologia nacional e menor custo.

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Criado em 2003, o Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (LECC) da Coppe/UFRJ, se tornou referência nas pesquisas de biofármacos no país. Há dois anos, foi um dos ganhadores do prêmio Santander Banespa de Ciência e Inovação. A coordenadora do LECC, professora Leda Castilho, afirma que os avanços, entretanto, têm acontecido de forma cada vez mais lenta: “As verbas para a manutenção do laboratório estão mais escassas nos últimos três anos. O número de bolsas e editais para concorrer a verbas para pesquisa vem caindo”.

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Para continuar seu trabalho, a pesquisadora, além de utilizar seus conhecimentos, precisa recorrer à criatividade. Leda tem buscado recursos para pesquisa em organizações internacionais. Além disso, em 2017, conseguiu a cessão por vários anos de equipamentos científicos usados no NIH (National Institute of Health), o maior centro de pesquisa em saúde dos Estados Unidos. Estes aparelhos usados foram muito úteis para as pesquisas de diversos laboratórios da UFRJ, já que as verbas para ciência no Brasil atualmente são insuficientes para custear a manutenção dos equipamentos já existentes ou a aquisição de novos. Sem essa cessão, seria inviável manter o ritmo das pesquisas.

As verbas para a manutenção do laboratório estão mais escassas nos últimos três anos. O número de bolsas e editais para concorrer a verbas para pesquisa vem caindo

Dentre as pesquisas em biofármacos atualmente desenvolvidas no LECC, destaca-se o desenvolvimento de anticorpos monoclonais (anticorpos produzidos por um único clone de linfócito B, específicos para uma única região do antígeno), incluindo uma molécula destinada ao tratamento de alto colesterol. Além dos medicamentos biológicos,  o LECC pesquisa o desenvolvimento de vacinas contra os vírus zika e febre amarela. Estes medicamentos são do tipo recombinantes, o que torna a vacina muito segura, já que é formada por partículas que imitam a estrutura tridimensional e a superfície externa dos vírus, mas não contêm nada em seu interior, sendo incapazes de causar doenças.

Estas partículas, conhecidas como VLPs (do inglês virus-likeparticles), são produzidas por células manipuladas geneticamente em laboratório e capazes de estimular a produção de anticorpos que podem neutralizar o vírus. Os medicamentos  recombinantes, como os que o LECC está desenvolvendo, são em geral tão seguros que podem ser aplicados em bebês recém-nascidos, como no caso da vacina contra hepatite B, e em crianças, como no caso da vacina contra o HPV.

Leda Castilho, coordenadora do Laboratório de Biofármacos da Coppe: criatividade para garantir recursos (Foto: Divulgação)
Leda Castilho, coordenadora do Laboratório de Biofármacos da Coppe: criatividade para garantir recursos (Foto: Divulgação)

Para chegar a esse grau de segurança, os medicamentos passam por vários estágios: “Na área da saúde, quando se desenvolve um produto e a tecnologia para produzi-lo em larga escala, devem ser realizados testes não clínicos (em animais) e testes clínicos (humanos). É uma etapa muito cara e que dura vários anos, obrigatória para o desenvolvimento de produtos para a saúde. No caso das vacinas que estamos desenvolvendo, os ensaios em animais serão iniciados esse ano. Primeiro, as vacinas serão testadas em camundongos, para confirmar que os animais desenvolvem anticorpos e se tornam protegidos contra os vírus. Dando certo, depois será a vez de animais maiores, como macacos, e só então será possível prosseguir para testes em humanos”, afirma a pesquisadora

Os laboratórios Cristália e Eurofarma estão dentre os primeiros laboratórios a desenvolverem um biofármaco nacional. Em breve, Biomanguinhos, pertencente à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), vai inaugurar uma fábrica para a produção de biofármacos aplicando tecnologia de produção que foi transferida de laboratórios estrangeiros.

Em todo o mundo, é grande a demanda por fármacos cada vez mais inteligentes e eficazes. Para o Brasil, priorizar as inovações estrangeiras não é a melhor saída, já que, segundo a professora Leda, “não necessariamente a tecnologia transferida é a melhor, ou a mais recente”. Laboratórios como o LECC são a prova de que é possível criar soluções brasileiras para esse problema, desde que haja recursos suficientes para isso.

31/100 A série #100diasdebalbúrdiafederal pretende mostrar, durante esse período, a importância  das instituições federais e de sua produção acadêmica para o desenvolvimento do Brasil.

 

 

Barbara Lopes

Formada em Letras/Literaturas pela Universidade Federal Fluminense, carioca que não vai à praia, mas vive na floresta e na selva da cidade. Cursando graduação em Jornalismo na UFRJ. Acredita que a leitura e o diálogo transformam o mundo.

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