Diário da Covid-19: A Europa está vencendo o coronavírus

Na praça do Trocadero, em frente à Torre Eiffel, uma máscara na estátua lembra os meses sofrimento na França. Hoje o pais começa a relaxar o isolamento. Foto Ludovic Marin/AFP

Continente europeu já passou pelo pior e agora começa a administrar a saída do isolamento. A desesperança ficou para trás

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 11 de maio de 2020 - 09:50 • Atualizada em 11 de fevereiro de 2021 - 20:20

Na praça do Trocadero, em frente à Torre Eiffel, uma máscara na estátua lembra os meses sofrimento na França. Hoje o pais começa a relaxar o isolamento. Foto Ludovic Marin/AFP

A Europa está conseguindo conter o avanço da covid-19 e já apresenta taxas muito baixas de variação diária dos casos e das mortes. A pandemia assustou o continente europeu nos meses de março e abril. Primeiro foram cenas dramáticas ocorridas na Itália e na Espanha. Depois foi a vez da França e do Reino Unido. A Alemanha não chegou a ser um epicentro, mas sofreu bastante, embora em uma menor proporção. Mas estes 5 países que estão no topo das vítimas da pandemia na Europa, e também no mundo (só atrás dos EUA), começaram a descer a curva ainda no mês passado e agora, no mês de maio, já apresentam taxas de variação diárias abaixo de 1%. Os EUA, líder absoluto do ranking, está acima destes 5 países europeus e, imediatamente abaixo (em vítimas fatais), vem o Brasil. Os gráficos deste diário comparam o panorama destes 7 países e, por fim, faz um apanhado do cenário dos continentes.

O panorama nacional e global

Os dados do Ministério da Saúde, da tarde de domingo (10/05), indicam que o país atingiu 162.699 casos e 11.123 mortes pela covid-19, com uma taxa de letalidade de 6,8%. O número diário de pessoas infectadas foi de 6.760 casos (atrás apenas dos EUA e da Rússia) e o número diário de vítimas fatais foi de 496 óbitos nas últimas 24 horas (atrás apenas dos EUA). Portanto, o número diário de casos e de mortes no Brasil está à frente da variação diária de todos os países europeus. Por um lado, isto reflete o sucesso atual das nações europeias e indica o fracasso atual da nação brasileira, que ainda continua distante do pico da curva pandêmica.

O gráfico abaixo mostra o número de casos acumulados para os 7 países entre os dias 15 de fevereiro e 10 de maio de 2020. Nota-se que a Itália, a Alemanha e a Espanha apresentavam os maiores volumes de pessoas infectadas pelo novo coronavírus na maior parte do mês de março, enquanto França e Reino Unido (UK) aceleraram o ritmo em abril e os EUA dispararam no meio do caminho e é o único país com mais de um milhão de casos.

O Brasil que vinha muito atrás no número de casos, foi se aproximando progressivamente e, atualmente, está em vias de ultrapassar a Alemanha. No dia 10/05 estes 7 países tinham o seguinte número de casos: EUA (1,37 milhão), Espanha (264,7 mil), Reino Unido (219,2 mil), Itália (219,1 mil), França (176,9 mil), Alemanha (171,8 mil) e Brasil (162,7 mil). Como a curva dos países europeus está quase estabilizada, a tendência é o Brasil passar todos eles durante o restante do mês de maio, ficando atrás apenas dos EUA.

O gráfico abaixo mostra o número de casos diários para os mesmos 7 países. Observa-se, que com exceção do Brasil, o número de casos diários já está diminuindo em todos os países, sendo que a Alemanha, a França e a Itália já estão com variações diárias abaixo de 1 mil casos. No dia 10 de maio, os EUA tiveram 20,3 mil casos, o Brasil (6,8 mil), o Reino Unido – UK (3,9 mil casos), a Espanha (1,9 mil), a Itália (802), a Alemanha (456) e a França (312 casos). Portanto, o Brasil está em segundo lugar no ranking global da variação diária do número de pessoas infectadas e é o único dos 7 países, em questão, que apresenta tendência de aumento.

No mundo, o número de casos acumulados atingiu 4,2 milhões no dia 10/05, com um aumento de 79,7 mil nas últimas 24 horas, que é o valor mais baixo para o atual mês. Houve uma variação percentual de “apenas” 1,9% no dia, que é a variação relativa mais baixa desde o final de fevereiro. Assim, o mundo está descendo a curva e tendo acréscimos de casos cada vez menores.

O gráfico abaixo mostra o número de mortes acumuladas para os 7 países entre os dias 15 de fevereiro e 10 de maio de 2020. Nota-se que a Itália e a Espanha apresentavam os maiores volumes de mortes pelo novo coronavírus na maior parte do mês de março, mas foram ultrapassadas primeiro pelos EUA e depois pelo Reino Unido (UK). A França teve um momento de aceleração, mas não chegou a ultrapassar a Itália e a Espanha. A Alemanha sempre teve os menores montantes de mortes entre os grandes países europeus.

O Brasil, que estava bem atrás, nos meses de março e abril, já passou a Alemanha em maio e caminha para ultrapassar os demais países europeus e ficar atrás apenas dos EUA. No dia 10 de maio o número total de mortes nos 7 países foram: EUA (80,8 mil), Reino Unido (31,9 mil), Itália (30,6 mil), Espanha (26,6 mil), França (26,4 mil), Brasil (11,1 mil) e Alemanha (7,6 mil).

No mundo, o número de mortes acumuladas atingiu 283,7 mil no dia 10/05, com um aumento de 3,5 mil nas últimas 24 horas, que é o valor mais baixo desde o final de março. Houve uma variação percentual de apenas 1,3% no dia. Isto mostra que o mundo já está “descendo a ladeira” e caminha para valores bem mais baixos. Já se vê a esperança no ar mundial.

O gráfico abaixo mostra o número de mortes diárias para os mesmos 7 países. Observa-se, que com exceção do Brasil, o número de mortes diárias já está diminuindo em todos os países, sendo que a Alemanha teve apenas 11 mortes no dia 10 de maio. A França teve 70 mortes, o menor valor desde final de março. Itália e Espanha tiveram, respectivamente, 165 e 143 mortes nas últimas 24 horas, valores só comparáveis com os da metade de março.

Mesmo os EUA, com 750 mortes no dia 10/05, não tinham um valor tão baixo desde março. Infelizmente, a tendência do Brasil é aumentar as mortes, embora no domingo (10/05) tenham ocorrido 496 mortes, valor abaixo das mais de 700 óbitos do meio da semana passada. O Brasil já está em 2º lugar no aumento diário de óbitos, mas como tem tendência de alta e os EUA tem tendência de baixa. O maior país da América do Sul pode atingir o 1º lugar em número diário de mortes nos próximos dias ou no máximo na próxima semana.

O fato é que os 5 países da Europa que estão no topo do ranking global já estão vencendo a batalha pelo controle da pandemia e apresentam variações diárias cada vez mais baixas. Tudo indica que o continente europeu já passou pelo pior e agora vai começar a administrar a saída do lockdown. A desesperança ficou para trás.

A tabela abaixo mostra que, nos últimos 15 dias, entre 25/04 e 10/05 a variação média diária do número de casos foi de 2,4% no mundo e de 1,8% na Europa, que conseguiu o menor valor entre os continentes. Em relação ao número de mortes, o mundo teve uma variação média diária de 2,3% e a Europa de 1,6%, também o menor valor entre os continentes. Ainda falta um certo tempo para zerar o número de casos e mortes, mas a Europa já começa a ver o horizonte do fim da pandemia.

Por outro lado, a América do Sul é o continente com as maiores variações diárias no período, com valores superiores aos da África que é o outro continente com maiores taxas diárias atualmente. Dentro da América do Sul quem empurra para cima os números é o Brasil que tem taxas três vezes maiores do que a média mundial.

O Brasil tem 2,7% da população mundial e estava com 2% dos casos e das mortes acumuladas do mundo no dia 25/04, porém passou para 3,9% no dia 10/05. Na América do Sul, o Brasil tinha 44,6% dos casos e 66,9% das mortes no dia 25/04 e passou, respectivamente, para 52,5% e 67,9% no dia 10/05. Portanto, o Brasil é o polo de irradiação do continente e cresce mais do que todo o mundo, constituindo-se no foco de espraiamento da doença.

A Europa sofreu muito com a expansão da pandemia, mas depois de muito esforço está começando a vencer a batalha e já vislumbra a erradicação do coronavírus do “velho” continente. O Brasil precisa aprender a lição e limitar a altura do pico do surto pandêmico e acelerar na descida da curva para zerar os casos e as mortes pela covid-19 e começar a organizar o cenário social e econômico pós covid-19. O Brasil precisa aprender a lição europeia.

Frase do dia 11 de maio de 2020

“Cada pôr-do-sol que vejo me inspira o desejo de partir para um oeste tão distante e belo quanto aquele onde o sol sumiu”

Henry Thoreau (12/07/1817 – 06/05/1862)

Autor de “Desobediência Civil” e “Walden ou A Vida nos Bosques”

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

Newsletter do #Colabora

Um jeito diferente de ver e analisar as notícias da semana, além dos conteúdos dos colunistas e reportagens especiais. A gente vai até você. De graça, no seu e-mail.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *