Diário da Covid-19: Brasil é o epicentro da pandemia na América do Sul

No Hospital Universitário de São Paulo, profissionais de saúde soltam balões em homenagem aos colegas que morreram no combate ao coronavírus. Foto Nelson Almeida/AFP

Nos próximos dias país chegará ao horrendo quarto lugar no ranking mundial das nações mais impactadas pelo coronavírus

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 16 de maio de 2020 - 09:25 • Atualizada em 21 de dezembro de 2021 - 12:27

No Hospital Universitário de São Paulo, profissionais de saúde soltam balões em homenagem aos colegas que morreram no combate ao coronavírus. Foto Nelson Almeida/AFP

O Brasil trocou o ministro da saúde pela segunda vez em menos de um mês, só não mudou a tendência de aumento do número de pessoas infectadas e do aumento do número de mortes. O país tem batido recordes sucessivos e, nos próximos dias, deve pular do sexto para o quarto lugar no horrendo ranking das nações mais impactadas pela pandemia.

O acéfalo Ministério da Saúde informou no final da tarde do dia 15/05 que o país atingiu 218.223 casos e 14.817 mortes pela covid-19, com uma taxa de letalidade de 6,8%. O número diário de brasileiros infectados foi de impressionantes 15.305 casos (cifra só alcançada pelos EUA) e o número diário de vítimas fatais foi de, não menos assustadores, 824 óbitos nas últimas 24 horas (segundo lugar no ranking global).

O Brasil tinha 91,3 mil casos em 01 de maio e passou para 218,2 mil casos no dia 15 de maio, um aumento de 2,6 vezes (ou 6,5% ao dia). No mesmo período passou de 6,3 mil mortes para 14,8 mil mortes, um aumento de 2,5 vezes (ou 6,3% ao dia). Portanto, o Brasil ainda está “subindo a ladeira” rumo ao pico da pandemia que se localiza em algum patamar elevado – ainda não visível – pois está obnubilado pelas subnotificações e pela volatilidade dos dados locais e nacionais.

Globalmente, no dia 15 de maio, o número de pessoas doentes chegou à marca de 4,6 milhões de casos e 308,2 mil mortes, com taxa de letalidade de 6,7%. O número diário de pessoas infectadas no mundo aumentou em 96 mil casos e o número de mortes aumentou em 5,3 mil óbitos em 24 horas. O mundo passou de 3,4 milhões de casos para 4,6 milhões em 15 dias, um aumento de 1,3 vezes (ou 1,9% ao dia). O número de mortes passou de 240 mil para 308,2 mil de 01/05 a 15/05, um crescimento de 1,3 vezes (ou 1,9% ao dia).

Olhando a série histórica internacional, nota-se que a pandemia já atingiu o pico e desde a segunda quinzena de abril os números diários já começaram a diminuir, embora ainda oscilando em um patamar alto. Se não houver nenhuma surpresa, podemos considerar que o mundo já começou a “descer a ladeira”, rumo à planície do controle da pandemia. O ritmo da pandemia no mundo tem uma velocidade 3 vezes menor que no Brasil.

Em Buenos Aires, vista da primeira sessão virtual da Câmara dos Deputados para evitar a propagação do novo coronavírus. Foto Juan Mabromata/AFP
Em Buenos Aires, vista da primeira sessão virtual da Câmara dos Deputados para evitar a propagação do novo coronavírus. Foto Juan Mabromata/AFP

O panorama da América do Sul

O descontrole brasileiro afeta todo o continente sul americano. A pandemia no Brasil cresce não somente em relação à média mundial, mas também em relação aos seus vizinhos da América do Sul. Por conta do avanço do coronavírus brasileiro o continente do sul das Américas é o que apresenta as maiores taxas de crescimento do planeta.

A tabela abaixo mostra que entre 10/05 e 15/05 a variação média diária do número de casos no mundo foi de 2%, com a Europa, a América do Norte e a Oceania crescendo abaixo deste patamar e a Ásia, a África e a América do Sul crescendo acima deste patamar. O destaque é a América do Sul que tem 5 vezes mais casos do que a África e está crescendo a 5,3% ao dia, além de 8 vezes mais mortes do que a África e está crescendo a 5,4% ao dia em termos de vítimas fatais.

Solo le pido a Dios
Que el dolor no me sea indiferente
Que la reseca muerte no me encuentre
Vacía y sola sin haber hecho lo suficiente

Depois do leste asiático, o epicentro da pandemia passou para a Europa, depois para os Estados Unidos e agora está na América do Sul, sendo que no continente sul americano o epicentro da pandemia está no solo da “mãe pátria, Brasil”, que tinha 3,9% dos casos no dia 10/50 e passou para 4,7% no dia 15/05, além disto tinha 3,9% das mortes do mundo no dia 10/05 e passou para 4,8% no dia 15/05.

Na América do Sul o Brasil tinha 52,5% dos casos e 67,9% das mortes no dia 10/05 e passou, respectivamente, para 54,5% e 69,6% no dia 15/05. Portanto, o Brasil cresce mais de 3 vezes a média mundial e cresce muito mais do que os demais países sul americanos.

A tabela abaixo mostra os 10 maiores países da América do Sul. O Brasil, como vimos, no dia 15/05, tinha 54,5% dos casos e 69,6% dos óbitos pela covid-19 na América do Sul (soma destes 10 países). Portanto, o Brasil é o grande responsável pela expansão da pandemia no continente.

Contudo, quando se analisa os dados ponderados pela população, nota-se que os maiores coeficientes de incidência estão no Peru, Chile e Equador, enquanto os menores estão no Paraguai, Uruguai e Venezuela.

Já os maiores coeficientes de mortalidade estão no Equador (147 por milhão), Peru (73 por milhão) e Brasil (70 por milhão), todos eles acima da média da América Latina e da média mundial.  Os menores coeficientes de mortalidade estão no Paraguai (2 por milhão), Uruguai (5 por milhão) e Venezuela (menos de 1 por milhão).

O gráfico abaixo mostra as taxas geométricas médias diárias de casos e mortes, entre os dias 01 de maio e 15 de maio de 2020, para todos os 10 países e a América do Sul. Nota-se que as maiores taxas do número de casos estão na Bolívia e no Paraguai, que possuem números absolutos baixos. O Uruguai, mesmo tendo números absolutos baixos, também apresenta baixas taxas de crescimento dos casos.

Em relação às taxas de crescimento do número de mortes, se destacam Bolívia, Brasil e Equador, sendo que o Uruguai também apresenta as menores taxas. Os dados da Venezuela não apresentam nenhuma morte nos primeiros 15 dias de maio.

Considerando, as duas tabelas e o gráfico, podemos dizer que o Brasil é o epicentro da pandemia na América do Sul, pois além de estar em alto patamar nos números absolutos da pandemia, continua apresentado altas taxas de crescimento relativo e cresce mais rápido do que a média dos seus vizinhos de continente.

É claro que existe uma grande subnotificação do número de casos e de mortes no continente e em alguns países os problemas de dados são mais problemáticos do que outros. Por exemplo, os institutos internacionais de pesquisa questionam muito os dados da Venezuela. Mas optamos por reproduzir aqui os dados do Worldometers e mostrar os dados tais como são divulgados. Em outro momento pretendemos aprofundar melhor a análise para cada país em particular. A América do Sul e a América Latina são as regiões mais desiguais do mundo e merecem mais análises para entender a complexidade continental.

Frase do dia 16 de maio de 2020

“Solo le pido a Dios

Que el dolor no me sea indiferente

Que la reseca muerte no me encuentre

Vacía y sola sin haber hecho lo suficiente”

León Gieco (1951-)

Músico argentino

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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