Até mortos, humanos prejudicam o meio ambiente

Cemitério na cidade de Nova Jersey, nos Estados Unidos:, em 2017: (Foto: William Volcov/Brazil Photo Press)

Impacto de enterros e cremações leva americanos a planejarem ritos funerários com caixões biodegradáveis e corpos envoltos em mortalhas

Por José Eduardo Mendonça | ODS 15 • Publicada em 2 de novembro de 2019 - 11:22 • Atualizada em 17 de janeiro de 2023 - 16:21

Cemitério na cidade de Nova Jersey, nos Estados Unidos:, em 2017: (Foto: William Volcov/Brazil Photo Press)

Até mesmo mortos, humanos são capazes de prejudicar o meio ambiente. Nos Estados Unidos, a cada ano, enterros consomem cerca de 73 quilômetros de placas de madeira, 58 toneladas de aço, 17 mil toneladas de cobre e bronze, 1.5 milhão de toneladas de concreto e 12 milhões  de litros de formaldeído (utilizado para embalsamar). Um pequeno cemitério típico contém madeira para a construção de 40 casas e volume de formaldeído para encher uma piscina. O formaldeído é uma substância cancerígena.

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“As pessoas pensam: vou ser embalsamado, colocado em um caixão e ter uma existência calma e agradável para meu corpo”,  diz Chris Coutss, professor de planejamento urbano da Universidade Estadual da Flórida. “Mas isto é uma total farsa. Os corpos começam rapidamente a apodrecer, e fluido vaza dos caixões para o solo, podendo migrar para o lençol freático. É usado porque não degrada, e assim vai estar no solo por um longo tempo”.

Cada vez mais, diz ele, as pessoas rejeitam cemitérios tradicionais e escolhem o depósito de seus restos em um local mais natural  – este é o hoje o desejo de mais da metade dos americanos. Isto significa deixar de lado os ritos funerários comuns e enterrar os corpos sem substâncias químicas em caixões biodegradáveis ou mesmo envolto em mortalhas. Assim, deixam suas vidas sem provocar danos físicos à natureza, ajudando ainda a proteger e conservar terras ameaçadas para aqueles que vivem.

Há uma outra questão, a de falta de terrenos para construção de moradias em centros urbanos. Permitiriam construções mais sustentáveis por utilizarem infraestrutura existente. Parte substanciais dos cemitérios se encontram nestes centros. 

Existem outras alternativas. Uma delas é congelar os corpos e depois fragmentá-los em partículas.  A técnica foi testada com sucesso em porcos, que são anatomicamente semelhantes aos humanos.  O primeiro passo da promissão, como ela é chamada, envolve o uso de nitrogênio líquido a 190 grans abaixo de zero. O segundo é quebrar o corpo com vibrações ultrassônicas. Depois, usa-se um processo de secagem. Mercúrio e outras substâncias estranhas encontradas são separadas antes da transferência dos cadáveres para caixões biodegradáveis, onde serão enterrados em cova rasa. Os restos se tornam solo em cerca de doze meses. 

Pode parecer radical aos mais religiosos,  mas outra técnica que começa a ser utilizada é a “decomposição sobre o solo”. É similar à compostagem de alimentos, e mistura os restos mortais com coisas como aparas de madeira e palha, transformando o chorume em solo em um prazo de semanas. Corpos se decompõem naturalmente, mas o método acelera a transição para a matéria orgânica. No ano passado, pesquisadores da Universidade do Estado de Washington conduziram um teste piloto, considerado um sucesso. Produziram um solo sem odor, aprovado pelas autoridades da regulação de exposição pública a patógenos e poluentes.

A cremação não é um modo de disposição de corpos mais verde. Libera na atmosfera uma poluição considerável de partículas, CO2 (cerca de 50 quilos por pessoa), e toxinas como dioxinas, furanos e mercúrio – em média, cada um de nós tem de 2 a 4 gramas de mercúrio em nossos dentes. Sem contar próteses, implantes, marcapassos e outros dispositivos disponíveis nos corpos.  São necessários 36 quilos de gás para queimar um morto a uma temperatura de mil graus centígrados durante 90 minutos.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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