Incêndio sem controle na Chapada dos Veadeiros

A falta de chuva, os ventos fortes e a alta temperatura, em torno de 37º C, contribuem para a expansão das chamas. Foto ICMBio

Fogo já destruiu 35 mil hectares, o equivalente a quase dez Florestas da Tijuca

Por Agostinho Vieira | ODS 14 • Publicada em 23 de outubro de 2017 - 18:53 • Atualizada em 25 de outubro de 2017 - 23:20

A falta de chuva, os ventos fortes e a alta temperatura, em torno de 37º C, contribuem para a expansão das chamas. Foto ICMBio
A falta de chuva, os ventos fortes e a alta temperatura, em torno de 37º C, contribuem para a expansão das chamas. Foto ICMBio
A falta de chuva, os ventos fortes e a alta temperatura, em torno de 37º C, contribuem para a expansão das chamas. Foto ICMBio

Um incêndio já destruiu cerca de 35 mil hectares de vegetação de cerrado do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, na região de Alto do Paraíso, em Goiás, segundo estimativas dos técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O fogo começou na última terça-feira, dia 17, na rodovia GO-118, e se alastrou rapidamente dentro e fora do parque, que possui mais de 240 mil hectares. A área destruída até agora equivale a mais ou menos dez Florestas da Tijuca, localizada no Rio de Janeiro, ou mais de 200 Parques do Ibirapuera, em São Paulo. Em 2001, a Chapada foi declarada Patrimônio Natural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

As informações iniciais dão conta de que o fogo teria sido provocado pela queda de um raio, mas alguns moradores da região falam em incêndio criminoso. Em sua página no Facebook, os responsáveis pelo restaurante Savana, que fica em Alto Paraíso, acusam proprietários de terras da região de estarem envolvidos com o crime. A causa seria o crescimento recente do Parque. Após anos de luta de ambientalistas e entidades da sociedade civil, no dia 5 de junho deste ano, Dia Nacional do Meio Ambiente, a área do Parque foi ampliada de 65 mil hectares para 240 mil hectares. Esse crescimento teria gerado insatisfação entre alguns ruralistas. Criado em 1961, a área original do Parque era de 650 mil hectares, que foi sendo reduzida ao longo do tempo.

Só nos primeiros 27 dias de setembro foram identificados 105 mil focos de incêndio no Brasil. Foto ICMBio
Só nos primeiros 27 dias de setembro foram identificados 105 mil focos de incêndio no Brasil. Foto ICMBio

Na semana anterior, um incêndio destruiu mais de 18 mil hectares do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, na região sul de Mato Grosso do Sul. Incêndios ocorridos no final do período de seca – que vai de abril a setembro – são potencialmente perigosos para o meio ambiente. Por causa do acúmulo de vegetação seca, o fogo costuma ser mais intenso e mais difícil de controlar. Áreas sensíveis ao fogo, como matas de galeria e veredas, se atingidas pelas chamas, costumam causar grande mortalidade de fauna e flora. Também significam grande prejuízo para a sociedade, como danos à saúde (doenças de pele e respiratória) e impactam negativamente na economia das cidades, já que o turismo é a fonte de renda de grande parte dos cidadãos.

De acordo com o Instituto ICMBio, órgão responsável pelo Parque, a falta de chuva, os ventos fortes e a alta temperatura, em torno de 37º C, têm contribuído para a expansão das chamas. Várias instituições estão envolvidas no combate: além de brigadistas do ICMBio e de outras unidades de conservação no país, IBAMA PrevFogo, Grupo Ambientalista do Torto (GAT), Bombeiros de Goiás e do Distrito Federal, Polícia Rodoviária Federal, Prefeitura de Alto Paraíso e centenas de voluntários estão em campo ou prestando apoio logístico à operação.

Além disso, quatro aviões “Air Tractor” e três helicópteros foram mobilizados. O ICMBio também dispõe de equipamentos como turbo sopradores que otimizam o combate ao fogo. “O engajamento da sociedade civil no apoio direto à proteção de toda a área da Chapada tem sido fundamental para combater os incêndios florestais”, afirma o coordenador-geral de Proteção do ICMBio, Luiz Felipe de Luca.

COMBUSTÍVEL

Dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), divulgados pela Folha de S. Paulo, indicam que o número de queimadas vêm batendo recordes este ano. Só nos primeiros 27 dias de setembro foram identificados 105 mil focos de incêndio, recorde desde que o instituto começou a monitorá-los, em 1998. Em setembro de 2016, foram 44 mil focos. A média para o mês é 55 mil.

O acumulado de janeiro a setembro também é o maior da série histórica, com 195 mil focos, 51% a mais que em 2016. Especialistas ouvidos pelo jornal foram unânimes quanto à origem do fogo: “Nessa época do ano, praticamente 100% dos incêndios são causados por ação humana”, disse Gabriel Zacharias, coordenador do Prevfogo, órgão do Ibama de prevenção e combate às queimadas.

“A intensidade, a expansão, o impacto na vegetação, a dificuldade de combate, tudo isso tem relação com o clima seco e ajuda a propagar o incêndio florestal. Mas isso não começa o fogo, o que começa é a ação humana”, disse Alberto Setzer, coordenador do monitoramento de queimadas do Inpe, em entrevista ao jornal. Ele relacionou uma série de motivações, como facilitar a derrubada de florestas, dar fim à matéria orgânica, impedir que a vegetação renasça e criar pastos.

No entanto, não é preciso ser um especialista para identificar as razões do crescimento das queimadas em 2017. Um governo fraco e sem legitimidade, somado à crise econômica e à falta de recursos são um combustível básico para as queimadas. Eles provocam o corte de despesas em áreas estratégicas como o meio ambiente. Sem recursos para ações de comando e controle, órgãos de fiscalização como o Ibama são prejudicados e algumas pessoas se sentem menos inibidas para riscar o fósforo da impunidade.

Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, Patrimônio da Humanidade. Foto BLANCHOT Philippe /Hemis.FR
Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, Patrimônio da Humanidade. Foto BLANCHOT Philippe /Hemis.FR

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

Newsletter do #Colabora

Um jeito diferente de ver e analisar as notícias da semana, além dos conteúdos dos colunistas e reportagens especiais. A gente vai até você. De graça, no seu e-mail.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *