Manifesto de 62 entidades pede moratória no desmatamento da Amazônia

Operação contra o desmatamento realizada em 2019, pelo Ibama, no Pará: 62 entidades pedem moratória do desmatamento, punições mais severas para os responsáveis e fortalecimento dos órgãos ambientais (Foto: Fernando Augusto/Ibama)

Documento enviado aos presidentes da Câmara e do Senado, parlamentares e investidores lista medidas emergenciais para conter devastação da floresta

Por Observatório do Clima | ODS 13ODS 15 • Publicada em 6 de agosto de 2020 - 19:52 • Atualizada em 10 de agosto de 2020 - 12:50

Operação contra o desmatamento realizada em 2019, pelo Ibama, no Pará: 62 entidades pedem moratória do desmatamento, punições mais severas para os responsáveis e fortalecimento dos órgãos ambientais (Foto: Fernando Augusto/Ibama)

Mais de 60 organizações e coletivos da sociedade civil entregaram nesta quinta-feira (6/8) aos presidentes da Câmara e do Senado, a investidores estrangeiros e a parlamentares brasileiros e europeus uma carta com cinco propostas emergenciais para conter a crise do desmatamento na Amazônia. Uma das medidas é o estabelecimento de uma moratória de pelo menos cinco anos ao corte da floresta.

A devastação em 2020 já é a maior desde o início da série de alertas do sistema de monitoramento por satélite Deter B, do Inpe, e pode vir a ser a maior desde 2006. A explosão do corte raso e das ameaças aos povos indígenas no governo Bolsonaro fizeram investidores estrangeiros ameaçarem retirar investimentos do país.

Na carta, as organizações lembram que o Brasil, no começo do século, conseguiu reduzir a taxa de desmatamento e ao mesmo tempo ampliar a produção agropecuária e o PIB. “O atual governo, porém, não apresenta qualquer resquício de interesse ou capacidade em seguir este caminho”, afirma o documento. “Suas ações baseiam-se em medidas falaciosas e campanhas publicitárias que tentam mascarar a realidade. Mesmo o envio de forças militares para a Amazônia tem sido pouco eficaz”, aponta.

O objetivo é resolver uma situação aguda na qual o paciente — no caso, a Amazônia — está sob risco de vida para depois discutirmos as medidas estruturantes que permitirão a recuperação do doente. Algumas delas, aliás, já constavam no plano de prevenção e controle do desmatamento enterrado pelo governo Bolsonaro

As cinco medidas emergenciais propostas incluem, além da moratória no desmatamento, o endurecimento das penas aos crimes ambientais, inclusive o bloqueio de bens dos cem maiores desmatadores da Amazônia; a retomada imediata do PPCDAm — o plano de controle do desmatamento que vigorou por cinco mandatos presidenciais até ser engavetado por Jair Bolsonaro; a demarcação de terras indígenas, a titulação de territórios quilombolas e criação de 10 milhões de hectares em unidades de conservação; e a reestruturação do Ibama, do ICMBio e da Funai, desarticulados e aparelhados pelo atual governo.

O manifesto – assinado por entidades que vão do Greenpeace à Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, do MST ao WWF Brasil, do Engajamundo ao Instituo Sociambiela – cita o aumento da destruição da floresta. “Tal cenário vem acompanhado do aumento da violência, dos incêndios florestais, da
expansão de garimpos irregulares, do crescimento da grilagem de terras públicas e outras atividades ilícitas, com destaque para as invasões de terras indígenas e áreas protegidas”.

O documento destaca, entre as razões para a grave situação da Amazônia “a postura irresponsável do Presidente da República, que pratica uma agenda antiambiental e anti-indígena perversa e declarada, atentando contra a própria Constituição” As entidades alertam ainda para as consequências. “Investidores e empresas internacionais ameaçam retirar seus negócios do Brasil, intensificando a crise econômica, ameaçando empregos e agravando o quadro de desigualdade e pobreza do país”, aponta a carta.

A moratória ao desmatamento comporta exceções: atividades de subsistência de populações tradicionais, agricultura familiar e planos de manejo sustentável de madeira, por exemplo, ainda seriam admitidos. “Todas as medidas elencadas na carta são factíveis. Algumas delas são inclusive obrigações constitucionais, que o governo não está cumprindo”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, uma das organizações signatárias. “O objetivo é resolver uma situação aguda na qual o paciente — no caso, a Amazônia — está sob risco de vida para depois discutirmos as medidas estruturantes que permitirão a recuperação do doente. Algumas delas, aliás, já constavam no plano de prevenção e controle do desmatamento enterrado pelo governo Bolsonaro”, acrescentou.

Observatório do Clima

O Observatório do Clima é uma rede que reúne entidades da sociedade civil para discutir a questão das mudanças climáticas no contexto brasileiro.

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