Ameaça de seca e tempestades na Europa e na América do Norte

Plantação de girassóis destruída pela seca prolongada no sul da França: novo estudo prevê aceleração de eventos climáticos extremos na Europa e na América do Norte (Foto: Pascal Guyot/AFP)

Novo estudo aponta que eventos extremos do clima vão se agravar no Hemisfério Norte: na África, falta de chuva prolongada faz dois milhões passarem fome no Zimbábue

Por José Eduardo Mendonça | ODS 13 • Publicada em 20 de setembro de 2019 - 10:02 • Atualizada em 20 de setembro de 2019 - 16:42

Plantação de girassóis destruída pela seca prolongada no sul da França: novo estudo prevê aceleração de eventos climáticos extremos na Europa e na América do Norte (Foto: Pascal Guyot/AFP)
Plantação de girassóis destruída pela seca prolongada no sul da França: novo estudo prevê aceleração de eventos climáticos extremos na Europa e na América do Norte (Foto: Pascal Guyot/AFP)
Plantação de girassóis destruída pela seca prolongada no sul da França: novo estudo prevê aceleração de eventos climáticos extremos na Europa e na América do Norte (Foto: Pascal Guyot/AFP)

Em algumas partes do mundo, como Europa, América do Norte e partes da Ásia, deverão ocorrer períodos mais longos e intensos de seca e chuva durante o verão. Isso vai afetar saúde, agricultura e ecossistemas, sugere estudo publicado na Nature Climate Change. O trabalho acrescenta que limitar o aquecimento global em 1.5 grau centígrado sobre níveis pré-industriais teria o efeito de evitar tais impactos. Esta é a meta do Acordo de Paris do clima, mas esta parece cada vez mais inviável.

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Os eventos de tempo extremo de diversos tipos já estão aumentando nas latitudes médias. Mas o trabalho talvez seja o primeiro a quantificar como a persistência de ondas de calor, seca e períodos de verão chuvosos aumentariam nas zonas de temperatura do norte do hemisfério global. Modelos já mostram que estes fenômenos deverão ser mais longos no geral. Mas a nova pesquisa também examinou se estes dias mais quentes que a média iriam se agrupar, produzindo ondas de calor mais severas no futuro. E projeta que períodos de seca e chuva extremas também aconteceriam em sucessão.

“Vimos uma mudança significativa nas condições de tempo de verão”, disse o principal autor estudo, Peter Pfeiderer, cientista da Climate Analytics e da Universidade Humbold, ambas baseadas em Berlim. Segundo o co-autor Kai Kornhuber, “quanto mais os eventos extremos duram, mais danos trarão”. Ele cita como exemplo o Furacão Harvey, que pairou sobre o Texas durante dias em 2017, trazendo enchentes recordes e danos à infraestrutura.

O Parque Nacional de Harz, no noroeste da Alemanha com partes sem árvores: secas prolongadas e falta de umidade no ar tornam mais difícil recuperação da natureza (Foto: Swen Pförtner/DPA)

Se o mundo aquecer 2 graus, as chances de períodos quentes durarem mais de duas semanas aumenta 4%. Mas as alterações seriam mais pronunciadas na Europa Central, norte da Ásia e especialmente no leste da América do Norte, onde as ondas se tornariam 20% mais prováveis. A ciência indica que a própria atmosfera já sofre com uma seca importante. A falta de umidade no ar suga água das plantas, levando a uma redução das colheitas e prejudicando seu crescimento em todo o mundo.

Em um estudo há dois anos, Wenping Yuan, ecologista da Universidade Sun Yat-Sen, na China, percebeu que, desde o final dos anos 1990, o ritmo de crescimento das plantas declinou globalmente. Ele deixou de lado fatores como temperatura e precipitação como a raiz do problema, mas não conseguiu determinar uma causa, até que no ano passado que uma ligação entre aquecimento global e água na atmosfera inspirou uma ideia.

O deficit entre quanta umidade o ar pode conter, e o quanto na verdade cria algo como uma bomba que retira a umidade do solo para a atmosfera, pode explicar o decréscimo no crescimento dos vegetais. Este deficit aumentou 17 vezes desde os anos 1990, diz o estudo, publicado no Science Advances.

Plantação de milho arrasada pela seca prolongada no oeste de Zimbábue: fome ameaça dois milhões de pessoas no país africano (Foto: Jekesai Njikizana/AFP)

O estudo coordenado por Peter Pfeiderer contempla regiões mais ricas, com mais possibilidades de combater desastres. O mesmo não se pode dizer de país vulneráveis como o Zimbabue, onde o povo passa fome depois de uma seca ter dizimado a agricultura. São mais de dois milhões de pessoas atingidas.  “Enfrentamos uma seca não vista em muito tempo”, afirma David Beasley, do Programa Mundial de Alimentos.

A ONU e o governo da nação lançaram um apelo humanitário de U$ 331 milhões de dólares para ajudar a parte da população afetada. Mas quase 5.5 milhões de pessoas, um terço de sua população, necessitará de assistência em 2020, de acordo com estudo da Unicef. “A situação de insegurança alimentar trouxe uma fome nunca presenciada”, diz o trabalho.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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