Ilhas de calor atormentam as metrópoles

Moradores de Tóquio usam sombrinhas para se proteger de sol no último verão: diferença das ilhas de calor para pontos mais frescos da capital japonesa chega a cinco graus centígrados (Foto: Charly Triballeau/AFP)

Pesquisadores buscam soluções para amenizar altas temperaturas causadas por excesso de asfalto e concreto nas grandes cidades

Por José Eduardo Mendonça | ODS 11 • Publicada em 9 de dezembro de 2019 - 19:12 • Atualizada em 9 de dezembro de 2019 - 21:49

Moradores de Tóquio usam sombrinhas para se proteger de sol no último verão: diferença das ilhas de calor para pontos mais frescos da capital japonesa chega a cinco graus centígrados (Foto: Charly Triballeau/AFP)
Moradores de Tóquio usam sombrinhas para se proteger de sol no último verão: diferença das ilhas de calor para pontos mais frescos da capital japonesa chega a cinco graus centígrados (Foto: Charly Triballeau/AFP)
Moradores de Tóquio usam sombrinhas para se proteger de sol no último verão: diferença das ilhas de calor para pontos mais frescos da capital japonesa chega a cinco graus centígrados (Foto: Charly Triballeau/AFP)

Basta sair alguns quilômetros de um centro urbano movimentado, ou mesmo irmos para um parque dentro dele, e poderemos sentir uma queda notável de temperatura, de até cinco graus centígrados – efeito do que se chama de ilhas de calor urbano, detectadas há 200 anos, e agravadas com o aquecimento global .  Asfalto e concreto absorvem mais energia do sol do que paisagens naturais, com as plantas tendo o efeito de resfriamento com a água do solo que evapora de suas folhas. Em grandes cidades como Nova York, por exemplo, as ilhas aumentam a temperatura em 4.5 graus, e, em Tóquio, a diferença alcança 5 graus.

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A busca de soluções para reduzir as temperaturas em cidades específicas vai exigir análises adicionais e um conhecimento profundo dos microclimas

Há ainda o efeito trazido por desperdício de energia para iluminarmos nossos lares, emissões de veículos, mesmo unidades de ar condicionado contribuindo com um ambiente já de si quente.  Mas há cientistas trabalhando em soluções para refletir o sol antes que ele aqueça temperaturas, como materiais mais frios para telhados e o uso de pigmentos de pintura que ajudam no resfriamento, além de parques na vizinhança de ilhas de calor.  A cidade de Los Angeles criou uma obrigação de os materiais de construção de residências tenham telhados de alta refletividade, um passo adiante a leis do passado que impunham os requisitos apenas para edifícios comerciais. Estão sendo feitas também calçadas com materiais mais frios.

Los Angeles no verão perto dos 40 graus e com calor agravado por metal, concreto e asfalto: cidade criou uma obrigação de os materiais de construção de residências tenham telhados de alta refletividade (Foto: AFP)
Los Angeles no verão perto dos 40 graus e com calor agravado por metal, concreto e asfalto: cidade criou uma obrigação de os materiais de construção de residências tenham telhados de alta refletividade (Foto: AFP)

Mas os efeitos das ilhas de calor não são os mesmos para todos, mesmo na mesma cidade: caso de Nova York, cujos bolsões mais quentes, perto de estradas e indústrias pesadas, com menos espaços verdes, apresentam comunidades mais vulneráveis, com maior proporção de pobres. A cidade oferece abrigos em casos de eventos de calor extremo, mas eles podem, muitas vezes, serem de difícil acesso ou desconhecidos para a população.

Há muito mais nuances dentro de uma cidade. Descobrimos variações de mais de cinco graus dentro delas

Quando combinadas  com ondas de calor, as ilhas urbanas são uma ameaça real para os idosos, doentes e outras pessoas vulneráveis. Cientistas da Universidade ETH, em Zurique,  investigaram vários locais do planeta e descobriram que eficácia da redução do calor depende de climas regionais. “Já sabemos que plantas criam um ambiente mais agradável em uma cidade, mas queríamos quantificar quanto espaços verdes são de fato necessários para produzir um efeito de resfriamento significativo”, diz Gabrielle Manoli, da área de administração de recursos naturais da instituição.  O efeito ilha é mais pronunciado quanto maior a cidade e quanto mais chuva há na região. De maneira geral, mais chuva encoraja o crescimento de mais plantas em seu entorno. 

Manoli explica que o benefício principal do estudo é uma classificação primária das cidades, na forma de uma visualização clara para que planejadores possam usar abordagens de mitigação do calor. “Ainda assim, a busca de soluções para reduzir as temperaturas em cidades específicas vai exigir análises adicionais e um conhecimento profundo dos microclimas”, afirma o pesquisador.

Moradora se protege do sol na ponte do Brooklyn, em Nova YorK: cidade tem abrigos para proteger os mais vulneráveis do calor intenso (Foto: Drew Angerer/AFP)
Moradora se protege do sol na ponte do Brooklyn, em Nova YorK: cidade tem abrigos para proteger os mais vulneráveis do calor intenso (Foto: Drew Angerer/AFP)

Estudos passados das ilhas de calor urbano dependeram de satélites que mensuram as temperaturas refletidas por telhados e ruas.  Mas Vivak Shanfas, professor de estudos urbanos na Universidade de Portland, diz que o efeito é mais complicado do que os satélites indicam. “Há muito mais nuances dentro de uma cidade”, afirma ele. “Descobrimos variações de mais de cinco graus dentro delas”. 

Ao  entender em detalhes onde ficam os pontos de mais calor, as cidades podem lidar com o problema de bairro a bairro, escolhendo uma variedade de estratégias que incluem a remoção de asfalto, acrescentar mais árvores para se ter mais sombra,  a variação da altura de novos prédios, e o aumento do fluxo de ar. 

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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