ONG combate subnutrição infantil e replica projeto pelo país

Criança atendida pela ONG CREN, de São Paulo

CREN – Centro de Recuperação e Educação Nutricional

Por Larissa Rosa | Mapa das ONGsODS 10 • Publicada em 19 de novembro de 2015 - 11:39 • Atualizada em 3 de setembro de 2017 - 01:29

Criança atendida pela ONG CREN, de São Paulo
Criança atendida pela ONG CREN, de São Paulo
Criança atendida pela ONG CREN, de São Paulo. Com o aval do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, programa para reverter a subnutrição infantil foi replicado em cidades mineiras

“Cenourinha, cenourão, vou comer de montão”. Na rua das Azaléias, em Mirandópoles, zona sul de São Paulo, é esse o som que escapa de uma das cinco janelas do prédio que anuncia presença pela vivacidade de suas cores: vermelho, azul e amarelo. A canção é puxada por uma voz adulta que, a cada refrão, ganha coro infantil. Outro sentido é aguçado quando se cruza o portão do número 244: o olfato. É uma terça-feira, dez e meia da manhã, e o almoço que está sendo preparado remete às refeições de domingo em família, ou do final de tarde, na casa da avó.

Conhecido como Cren, o Centro de Recuperação e Educação Nutricional atende crianças e adolescentes em situação de subnutrição e obesidade. Tudo começou nos anos 1980 como um programa de extensão de professores e estudantes da antiga Escola Paulista de Medicina (Unifesp) para tratar desnutrição infantil em favelas. Batizado de ‘Projeto Favela’, ele surgiu da constatação de que as crianças das comunidades carentes ao redor da universidade eram portadoras de um índice de subnutrição três vezes maior do que os indicadores do município.

Lobby do bem pela saúde

O ‘Projeto Favela’ foi o embrião da ONG, que nasceu em 1993 com dinheiro do governo italiano e da Fundação Avsi, também da Itália. Vinte dois anos depois, o Cren atende em dois endereços em São Paulo: Vila Mariana e na Vila Jacuí. A equipe de 135 pessoas, das quais 95 com carteira assinada, se divide no atendimento à comunidade, ambulatorial e no hospital dia. A capacidade de atendimento é de mil crianças no ambulatório e de 142 pacientes no hospital-dia.

Tentamos influenciar nas  políticas públicas

O trabalho desenvolvido pelo Cren chamou a atenção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que, nos anos 2000, pediu para a metodologia de trabalho ser sistematizada. O objetivo era permitir que o projeto fosse replicado em outras regiões do país. Novos parceiros foram atraídos: o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP) montou um grupo de trabalho para ajudar à equipe do Cren a dialogar com o poder público. A parceria nunca mais foi desfeita e redundou em um projeto em Minas Gerais – feito a quatro mãos entre o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e a Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais. O programa, batizado de “Eu aprendi, eu ensinei”, foi implantado em 53 escolas públicas mineiras, na região Norte do Estado, atingindo 16 mil alunos e 800 professores.

Com a metodologia sistematizada, a equipe do Cren ainda pode viabilizar cartilhas em outros idiomas. A coleção ‘Vencendo a desnutrição’ foi traduzido para espanhol e francês.

De 1993 até 2006, o combate à subnutrição era o principal objetivo do Cren. À medida que os mais desfavorecidas passaram a ter acesso a alimentos industrializados – mais baratos, mas também mais ricos em gordura e açúcar – os indicadores de obesidade infantil começaram a preocupar, comenta Juliana Calia, nutricionista do Cren. É um equívoco pensar, diz ela, que obesidade e subnutrição são problemas contrários entre si e dizem respeito à riqueza e à pobreza, respectivamente. O total de refeições balanceadas servidas em 2014 foi de 32.805.

Os alimentos industrializados são mais baratos, mas também são mais ricos em gordura e açúcar

A prestação de contas do Cren não é publicada no site, mas está entre as metas de Gisela, a gerente-geral da ONG. Só não tem ainda data para começar. Anualmente a instituição diz publicar em jornais locais o balanço das atividades. São veículos de circulação pequena, como ‘Ipiranga News’ e ‘Jabaquara News’. Os executivos explicam que a escolha dos jornais foi motivada por uma decisão financeira: preço mais baixo. Periodicamente, diz Gisela, a ONG apresenta sua contabilidade à Prefeitura Municipal de São Paulo e conta com auditorias externas independentes, onde é avaliado contratos, fluxos de pagamento e patrimônio. Nos últimos anos, as auditorias foram realizadas pela Ernst & Young e pela Cokinos Auditores & Consultores.

Larissa Rosa

Fotógrafa e estudante do 2º ano de jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, onde também trabalha como monitora da Pós-graduação e assistente editorial da Revista Líbero.

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