Da inclusão ao empoderamento digital

Evento do CDI de reconhecimento de melhores ideias de apps

CDI - Comitê para Democratização da Informática

Por Fernanda Portugal | Mapa das ONGsODS 10 • Publicada em 25 de outubro de 2015 - 03:42 • Atualizada em 3 de setembro de 2017 - 01:47

Evento do CDI de reconhecimento de melhores ideias de apps
Evento do CDI de reconhecimento de melhores ideias de apps
Evento do CDI de reconhecimento de melhores ideias de apps

Ideias brotam em megabits por segundo e, de repente, acontece aquele ‘clique’ que faz a diferença. Na tela até então em branco, começam a surgir os atalhos. Para os jovens atendidos pelo CDI (Comitê para Democratização da Informática), a descoberta de que através da tecnologia são capazes de mudar suas vidas, e as de suas comunidades, tem sabor de futuro. A ONG, que tinha como bandeira a inclusão digital, releu sua causa aos chegar aos 20 anos, em agosto, passando a classificá-la como empoderamento digital. Para marcar a nova fase, lançou o Movimento ‘Recode’ – a meta, agora, é ‘reprogramar para transformar’.

Os sistemas que nos regem – econômico, político, ambiental, social – estão em colapso. Os jovens podem protagonizar a reprogramação destes sistemas. Não queremos só ensinar tecnologia, mas formar pessoas autônomas e conectadas, que percebam os problemas do século 21 e se sintam empoderadas para buscar soluções

O CDI nasceu carioca, no Morro Dona Marta, Botafogo, e hoje tem 842 espaços de capacitação e 24 escritórios, em 16 estados brasileiros e 15 países na América Latina e na Europa, além dos Estados Unidos. Já foram impactadas 1,64 milhão de pessoas.

Na prática, os primeiros sinais do empoderamento são o olhar confiante e o sorriso aberto, como os de Helcio Ricardo, 23 anos, e Thais Cabral, 19, que fizeram cursos de desenvolvimento de aplicativos do CDI, e estão entre os quase 80 mil brasileiros atendidos por ano, em média.

Helcio Ricardo Thais Cabral são alunos do CDI
Helcio Ricardo Thais Cabral são alunos do CDI

Ricardo, de Itaboraí, Região Metropolitana do Rio, já idealizou sete softwares. Ele se dedica, hoje, a tirar do papel o Explore, pensado nas aulas do CDI no Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), no Centro do Rio. O app busca aumentar o acesso dos jovens à cultura e divulgar eventos, inclusive os de comunidades, invisíveis na programação tradicional. “Apertando um botão, o usuário saberá rapidamente que eventos estão rolando, mas só os que tenham a ver com as suas preferências. Também estou pensando num plano de negócios: como manter o software e torná-lo rentável”, explica o empreendedor, atualmente no 1º período de Sistemas de Informação na UFF, em Niterói. Seu protótipo foi finalista em premiação do CDI em março.

Para Thais, aquele ‘clique’ que fez a diferença foi a ideia do app Four Hands. “Percebi que as pessoas acumulam muita coisa, como roupas, que não usam, nem doam. Imaginei que, a cada doação feita a ONGs, o usuário ganhasse pontos e os trocassem por ingressos, produtos e serviços de empresas que apoiem a iniciativa. É uma maneira de estimular o bem”, conta a moradora de Campo Grande, Zona Oeste do Rio, que foi aluna do Recode em Comunidades, numa parceria do CDI com o Banco da Providência, em Realengo. Em premiação realizada em dezembro, ficou em 2º lugar e ganhou um smartphone.

Segundo a CEO da ONG, Elaine Pinheiro, o CDI aposta em parcerias público-privadas para o financiamento de suas ações: “Acreditamos na união dos três setores”. Os cursos nas comunidades são realizados em convênio com ONGs locais e investimento de gigantes como Microsoft, Disney e HSBC. O Movimento Recode atua também em 50 escolas da rede estadual do Rio e em 50 bibliotecas públicas do Brasil.

Jovens dos cursos do programa Recode comunidades do CDI em parceria com o INPAR (Instituto Presbiteriano Álvaro Reis), na Cidade de Deus
Alunos do CDI na Cidade de Deus

Nas instituições de ensino, a parceria é com a B2W Digital, empresa de comércio eletrônico, e com o BNDES, além da Secretaria Estadual de Educação. Para desenvolver projetos com os alunos, 150 professores receberam laptops e smartphones do CDI. A iniciativa beneficia cerca de 15 mil estudantes. O patrocínio para as ações nos espaços de leitura é da Fundação Bill & Melinda Gates, com apoio do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas do Ministério da Cultura. O Recode equipou os locais com dez computadores e promoveu a capacitação de bibliotecários. Cerca de 300 mil usuários são impactados. Há previsão de expandir a ideia a outros 1,5 mil pontos no país.

“Nossa ideia é trazer novos parceiros, como empresas, estados e prefeituras. Queremos influenciar políticas públicas nacionais”, declara a diretora. Segundo ela, uma das dificuldades do CDI é a de criar modelo de atuação que gere captação de recursos financeiros de forma recorrente, sem que seja preciso redesenhar projetos com frequência. Daí a aposta em iniciativas como o Recode, que preencham necessidades do governo e da sociedade, além de criar mão de obra qualificada para empresas.

O CDI avança, mas ainda não faz uma prestação de contas transparente. “Por enquanto, são apresentadas a um Conselho Consultivo, formado por executivos de mercado. Estamos caminhando para ter um relatório no nosso site em 2016”, informa Elaine. Com orçamento de R$ 5 milhões e 81 funcionários, a organização também agrega uma rede de voluntários. “Um grande atrativo é o voluntariado digital, ou seja, que pode ser realizado remotamente, nas áreas de Comunicação, Planejamento e Tecnologia”, acrescenta.

As gestões nos diferentes países são descentralizadas: em cada um, é constituída uma ONG que represente o CDI. O quadro de patrocinadores também varia. “A Microsoft, por exemplo, investe no Brasil, no México, na Colômbia e no Chile. Dependendo do estágio da parceria, o patrocinador pode querer ir para outros países”, explica Elaine, que está à frente do CDI no Brasil desde janeiro de 2015, ano em que seu fundador, Rodrigo Baggio, mudou-se para os Estados Unidos. Lá, acumula a presidência da ONG com novos projetos para a construção de redes no campo do empreendedorismo social e da tecnologia, em parceria com organizações globais como a Ashoka.

Fernanda Portugal

Fernanda Portugal é carioca, formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Já foi editora de Saúde, Mundo, Meio Ambiente e Cidade do jornal 'O Dia'. Como repórter, no mesmo jornal, fazia matérias com temas ligados aos Direitos Humanos e ganhou o Prêmio SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) três vezes.

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