Uma história de lutas na Maré

Eliana chegou à Maré aos 7 anos e aos 22 se tornou a primeira mulher presidente da Associação de Moradores de Nova Holanda – uma das 16 comunidades do complexo de favelas, onde vivem 140 mil pessoas. Foto Divulgação

A eterna batalha de Eliana Sousa Silva por uma vida mais digna na comunidade carioca

Por Adriana Pavlova | ODS 1 • Publicada em 29 de novembro de 2016 - 16:43 • Atualizada em 30 de novembro de 2016 - 12:02

Eliana chegou à Maré aos 7 anos e aos 22 se tornou a primeira mulher presidente da Associação de Moradores de Nova Holanda – uma das 16 comunidades do complexo de favelas, onde vivem 140 mil pessoas. Foto Divulgação

Desde os anos 1980, o nome de Eliana Sousa Silva se confunde com os projetos de infraestrutura, moradia, educação, arte-cultura e segurança no Complexo de Favelas da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Paraibana de 54 anos, Eliana chegou à Maré aos 7 anos e aos 22 se tornou a primeira mulher presidente da Associação de Moradores de Nova Holanda – uma das 16 comunidades do complexo de favelas, onde vivem 140 mil pessoas.

Fundadora do primeiro pré-vestibular comunitário da Maré, ainda nos anos 1990, e uma das ativistas que criaram a Redes de Desenvolvimento da Maré, em 2007, responsável por mais de uma dezena de projetos na região, hoje o foco principal de Eliana é a questão da segurança pública nas favelas cariocas. Uma preocupação que foi mote de sua tese de doutorado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC- RJ), transformada no livro “Testemunhos da Maré” (disponível em PDF no site da Redes), e que fez com que criasse e coordenasse, com apoio do British Council, o seminário “Diálogos sobre segurança pública: experiência Brasil e Reino Unido”.

Eliana chegou à Maré aos 7 anos e aos 22 se tornou a primeira mulher presidente da Associação de Moradores de Nova Holanda – uma das 16 comunidades do complexo de favelas, onde vivem 140 mil pessoas. Foto Divulgação
Eliana chegou à Maré aos 7 anos e aos 22 se tornou a primeira mulher presidente da Associação de Moradores de Nova Holanda – uma das 16 comunidades do complexo de favelas, onde vivem 140 mil pessoas. Foto Divulgação

O evento – que teve uma primeira edição em Londres, em fevereiro e se repete agora, no dia 30 de novembro, na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, reunindo especialistas daqui e de fora – é fruto de um projeto idealizado por Eliana em parceria com o inglês Paul Heritage, diretor do People’s Palace Projet, ligado à Queen Mary University, de Londres. A partir de 2015, com apoio do Newton Fund, fundo de desenvolvimento de pesquisas econômicas e sociais do Reino Unido, Eliana pôde conhecer de perto diferentes engrenagens e projetos de segurança pública em Londres. Desde o início, sua proposta foi promover intercâmbios de experiências e saberes, vislumbrando possíveis inspirações para a questão da segurança pública no Estado do Rio de uma forma geral, mas sem nunca deixar de lado a busca de soluções para a violência que faz parte do dia a dia das favelas cariocas há décadas.

Interessou-me pesquisar sobre a segurança pública no Reino Unido e mais especificamente em Londres, entre outros motivos, porque lá, diferentemente dos Estados Unidos, que tem forte influência no Brasil, a corporação é treinada sem dar tiros e muitos policiais não usam armas.

Curiosamente, quis o destino que a versão fluminense do evento aconteça em meio à crise de segurança no Rio, motivada por uma série de fatores, incluindo a crise financeira do estado, a saída recente de José Mariano Beltrane do cargo de secretário de Segurança Pública, o episódio da queda do helicóptero da Polícia Militar na Cidade de Deus, onde, na sequência, sete jovens moradores foram mortos, além de uma operação policial na Maré recente que resultou na morte de mais quatro pessoas. Sem dúvida, um momento fundamental para refletir sobre diferentes formas de lidar com a violência.

“Interessou-me pesquisar sobre a segurança pública no Reino Unido e mais especificamente em Londres, entre outros motivos, porque lá, diferentemente dos Estados Unidos, que tem forte influência no Brasil, a corporação é treinada sem dar tiros e muitos policiais não usam armas. Outro dado interessante é que um policial que comete um crime é julgado por um órgão independente. Há, ainda uma série de projetos e ações para minimizar os danos das vítimas quando a violência é praticada pelo próprio Estado”, diz Eliana, complementando. “O seminário tem como objetivo oferecer uma reflexão para quem trabalha na gestão da segurança pública e para os agentes de segurança. A proposta não é fazer comparações, mas sim oferecer ideias sobre outras possibilidades de segurança pública, vindas de sociedades muito diferentes.”

Entre os convidados vindos do Reino Unido estão Dan Hales, chefe de Estratégia e Planejamento Corporativo do Departamento de Policiamento e Crime da Prefeitura de Londres; Mick Duthie e Nick Fallowfield, especialistas em homicídios e policiamento comunitário da Polícia Metropolitana de Londres; Cindy Butts, representante da Comissão Independente de Queixas Policiais de Londres; e Deborah Coles, diretora da Inquest, ONG que oferece apoio a familiares de pessoas mortas sob poder policial ou em prisões.

Já do Brasil, estão sendo esperados representantes da Secretaria de Segurança Pública e do Comando Geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro, além de Miriam Krenzinger, criminóloga e pesquisadora de Violência e Direitos Humanos da UFRJ; Rivaldo Barbosa, diretor da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro; Daniel Lozoya, defensor Público do Núcleo de Defesa de Direitos Humanos (NUDEDH) da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro; Silvia Ramos, coordenadora do CESeC/UCAM e doutora na área de Violência e Saúde pela Fundação Oswaldo Cruz; e Jailson Silva, fundador do Observatório de Favelas.

Adriana Pavlova

Trabalhou durante 13 anos no jornal O Globo, de onde saiu em 2005 para morar em São Paulo. Foi setorista de dança na Folha de S. Paulo de 2007 a 2010 e colaborou regularmente com as revistas Época São Paulo e Exame. De volta ao Rio, é crítica de dança do Globo desde 2013. Em 2015 tornou-se mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da Escola de Comunicação da UFRJ.

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