Apartheid amoroso

Recém-lançado nos EUA, site destinado a encontros de casais brancos e heterossexuais provoca polêmica. Criador nega que seja racismo

Por Valquiria Daher | ODS 1 • Publicada em 11 de janeiro de 2016 - 08:00 • Atualizada em 11 de janeiro de 2016 - 13:58

whitepeople

Where White People Meet – em português, “onde as pessoas brancas se encontram” – é a mais nova e inacreditável criação da internet. O site de encontros estreou na rede em dezembro e, apesar das inúmeras acusações de racismo,  já angariou mais de 2 mil usuários, segundo a imprensa americana.

Eu já saí com uma garota negra uma vez

O fundador, Sam Russell, é um caucasiano de 53 anos, que nunca usou a internet para namorar e que afirma que o site não é racista e está aberto a negros, asiáticos, latinos… que tenham atração por pessoas brancas. Criticado, ele parece usar o marketing da ironia em suas respostas. Depois que Whoopi Goldberg protestou contra o site no “The View”, programa que apresenta na TV americana, Russel enviou à atriz, pelo Twitter, uma adesão de seis meses grátis ao “WWPM”.

Russel também diz não ser racista, mas sua justificativa revoltou parte das vozes negras americanas: “Eu já saí com uma garota negra uma vez”, conta. A outra forma que ele usa para rebater as críticas é citar a existência de outros, como o Black people meet, rede de encontro voltada para negros, e o JDate, para judeus. Críticos respondem à justicativa de Russel com números que mostram que não há a necessidade de um ponto de encontro para brancos na internet. Pesquisas do “OKCupid”, maior site de encontros dos Estados Unidos, mostram que homens brancos são os que atraem mais interesse com seus perfis. Já as mulheres brancas recebem tanta atenção quanto as de outros grupos, mas tendem a responder principalmente a homens brancos.

Mas a verdade assustadora é que, ainda que alguém concorde com as justicativas de Russel, o site atrai dicursos fascistas típicos do “orgulho branco”. Um comentário em um vídeo de Russel postado no blog do site agradece a ele por “finalmente ter criado algo para equipar a minoria global da mesma forma que as maiorias vêm sendo equipadas”. Em outro ponto, o internauta escreve: “É uma violação do artigo 2, seção C da resolução 260 da ONU sobre genocídio, negar a nós, a minoria étnica global, os mesmos direitos que todas as maiorias mundiais já têm. (…) Não se pode negar a nós a habilidade de se conectar e se reproduzir”.

Numa rápida olhada, depois de uma inscrição gratuita no site,  percebemos que, apesar do número crescente de usuários, muitos parecem não ser ativos e sequer têm fotos de perfil. Os poucos são homens brancos, a maior parte de 35 para cima, cristãos. Quase nenhum deles estava on-line. Outro tipo de segregação é contra quem procura parceiros do mesmo sexo. Se você é mulher, não existe a opção de preferir o sexo feminino. Idem para os homens.

Num mundo em que, a cada dia surge um novo aplicativo ou site de encontros, nossos votos são que o Where White People Meet caia rapidamente no esquecimento e no lixo virtual para onde tanta coisa já foi.

Valquiria Daher

Formada em Jornalismo pela UFF, nasceu em São Paulo, mas cresceu na cidade do Rio de Janeiro. Foi repórter do jornal “O Dia”, ocupou várias funções no “Jornal do Brasil” e foi secretária de redação da revista de divulgação científica “Ciência Hoje”, da SBPC. Passou os últimos anos no jornal “O Globo”, onde se dedicou ao tema da Educação. Editou a Revista “Megazine”, voltada para o público jovem, e a “Revista da TV”. Hoje é Editora do Projeto #Colabora e responsável pela Agência #Colabora Marcas.

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