Portaria (também) é coisa de mulher

A síndica Denise, entre a porteira-chefe Heloísa e a zeladora Elis Regina: equipe 100% feminina e bem entrosada à frente de edifício em Copacabana (Foto: Carolina Moura)

Comandado por síndica, edifício em Copacabana tem equipe 100% feminina

Por Carolina Moura | ODS 11ODS 5 • Publicada em 4 de junho de 2019 - 08:03 • Atualizada em 4 de junho de 2019 - 15:20

A síndica Denise, entre a porteira-chefe Heloísa e a zeladora Elis Regina: equipe 100% feminina e bem entrosada à frente de edifício em Copacabana (Foto: Carolina Moura)
A síndica Denise, entre a porteira-chefe Heloísa e a zeladora Elis Regina: equipe 100% feminina e bem entrosada à frente de edifício em Copacabana (Foto: Carolina Moura)
A síndica Denise, entre a porteira-chefe Heloísa e a zeladora Elis Regina: equipe 100% feminina e bem entrosada à frente de edifício em Copacabana (Foto: Carolina Moura)

A gente pensa em portaria e já se lembra do uniforme do porteiro: azul, calça preta e sapato preto. Ou então dos nomes: Severino, Gilson, Junior, Agnaldo, Reginaldo. Mas, no Edifício Thedin Costa, é diferente. No lugar da roupa tradicional, uma blusa cinza clara, de manga curta, calça preta, sapatilha, penteado e maquiagem. Esse é o uniforme do time formado por cinco mulheres responsáveis pelo prédio da rua Barata Ribeiro, no início de Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro.

‘Técnica’ dessa equipe feminina, a atual síndica Denise Costa conta que o edifício teve sua primeira porteira-chefe em 2008, quando o resto do time, inclusive o síndico, era todo formado por homens.  “Claro que no início houve um estranhamento entre os moradores. Uns perguntavam sobre o fato de ser uma mulher na portaria, mas não houve objeção”, recorda.

Heloísa Helena Barreto Ribeiro, de 52 anos, vai completar uma década de portaria. Moradora de Alcântara, bairro de São Gonçalo, trabalhou sete anos no turno da manhã e hoje, como porteira-chefe, cumpre seu horário à noite.  “No começo alguns moradores, principalmente homens, não gostavam. Não achavam legal, pensavam que uma mulher não ia dar conta do recado”, disse. “Só que deu tão certo, funcionou tanto, que estou aqui até hoje. E, melhor ainda, somos todas mulheres. Agora somos elogiadas, os moradores notam a diferença e até falam que a organização e o cuidado são maiores”, acrescenta Heloísa.

Segundo a porteira-chefe do edifício, o condomínio fornece cursos para os funcionários e síndicos. “Eu fiz alguns cursos no Senac e na Secovi. Não é só tomar conta de prédio. A gente precisa estar pronta para qualquer coisa que aconteça, incêndio, como proceder com falta de energia e tudo mais”, explica. “Não é porque somos mulheres que o prédio fica mais inseguro quando a questão é violência. Ninguém muda a cabeça do bandido. Se ele quiser assaltar, ele vai assaltar, independentemente de a pessoa que está cuidando do local ser homem ou mulher”, completa.

Denise já estava no Conselho Fiscal quando Elis Regina Vale, de 38 anos, foi contratada como zeladora.  “Um amigo do Rafael, que era o síndico, conhecia a Elis. Fui eu quem fiz a entrevista dela. Acreditei no seu perfil por ser mulher. Acho que somos mais caprichosas”, argumenta a síndica do Thedin Costa. Encostada na escada, com um rodo na mão, Elis diz estar satisfeita de ter trocado o trabalho de diarista pelo de zeladora. “É bom participar de uma equipe unida”, garante. “Gosto de fazer meu trabalho. Eu era doméstica antes de vir trabalhar aqui, então limpeza sempre foi meu forte. Eu capricho, tento deixar sempre tudo limpo. É a minha primeira vez como zeladora de um prédio”, conta Elis Regina, que tem o nome em homenagem à cantora gaúcha.

Moradora no prédio desde que nasceu, Denise assumiu o lugar de síndica em 2015. “Aos poucos fomos precisando de mais funcionários e as indicações eram de mulheres. Uma era trocadora de ônibus, outra já foi porteira em um prédio no Centro. Agora, somos cinco mulheres tomando conta de tudo por aqui”, explica.

A portaria exala um cheiro de lavanda. No caminho até o elevador, algumas plantas, hortênsias de plástico em cima de uma mesa de vidro, com duas cadeiras pintadas de branco. “Comprei a decoração toda em Petrópolis. Eu adoro enfeites, acho que dá outro toque na portaria”, acrescenta Denise.

A síndica garante que o time está bem entrosado. “Aqui nunca tivemos problemas com fofocas, como muita gente imagina, por ter só mulher na equipe. Pelo contrário, com homem acontecia muito mais. Nós prezamos conversar sempre, uma ajuda a outra. Tem a compreensão: se alguém precisa trazer filho para o trabalho, ou está com cólica, a gente vai entender”, pondera.

De acordo com Denise, a escolha apenas de mulheres para compor o quadro de funcionários do prédio não é proposital. “Se tiver algum homem que eu veja que se encaixa no que a gente procura, quando abrir vaga, não vejo por que não contratar. Acho que as mulheres têm que ocupar espaços sim, mas não fechamos a porta se um homem for bom profissional”, garante.

 

Carolina Moura

Jornalista com interesse em Direitos Humanos, Segurança Pública e Cultura. Já passou pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Jornal O DIA e TV Bandeirantes. Como freelancer já colaborou com reportagens para Folha de São Paulo, Al Jazeera, Ponte Jornalismo, Agência Pública e The Intercept Brasil.

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