Troca-troca de brinquedos

Feira de brinquedos em Vitória é promovida pelo Instituto Alana, ONG que trabalha o desestímulo ao consumo infantil (Foto: Divulgação)

Antiga prática do escambo ressurge para desestimular o consumismo infantil

Por Laura Antunes | ODS 12ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 25 de dezembro de 2015 - 09:00 • Atualizada em 28 de setembro de 2021 - 13:08

Feira de brinquedos em Vitória é promovida pelo Instituto Alana, ONG que trabalha o desestímulo ao consumo infantil (Foto: Divulgação)

O fofíssimo e elétrico Guilherme Mariscal Ferreira, de 4 anos, é aquele tipo de criança que adora um brinquedo novo, embora já tenha uma montanha deles em casa. Os olhos, claro, brilham diante de um embrulho de presente. Mas, como a maioria dos pequenos nessa faixa etária, ele se cansa, rapidamente, da novidade e o brinquedo da vez acaba tendo o mesmo destino dos anteriores: fica esquecido num canto e logo é substituído por outro. A mãe de Guilherme, a designer gráfica Carol Mariscal Troque, conta que, como o menino acaba colecionando um número incontável de carrinhos, jogos, bonecos etc, ela sempre o incentiva a separar para doação o que não quer mais. Mesmo assim, ainda sobra bastante. Foi então que ela partiu para uma forma de praticar o que chama de consumo mais consciente, ao descobrir grupos em rede redes sociais, sites e apps especializados na troca de brinquedos.

O antigo escambo vem ressurgindo com força, especialmente em tempos de orçamento curto. E assim, num piscar de olhos, um carrinho pode virar um jogo ou um par de patins, por exemplo. Isso, claro, sem doer no bolso.

Quando Guilherme pede um brinquedo novo, eu o questiono se realmente precisa de mais um

A mãe de Guilherme descobriu o site Brincou trocou no facebook. Recentemente, trocou uma pista de carrinhos – fruto de uma troca anterior – por um par de patins.

O criador do site, o administrador Daniel Pinho, comemora o sucesso da empreitada: “O brinquedo não precisa ser novo, basta ser diferente! Com isso na cabeça, pensei em criar um site de troca, mas percebi que já existiam alguns. No entanto, um problema comum em todos eles era a necessidade de haver a combinação perfeita entre as duas partes para que a troca ocorresse. Isso dificulta o processo, pois além da criança gostar do brinquedo de outra pessoa, ela ainda precisa ter um brinquedo que agrade aquela pessoa. É nesse ponto que nos diferenciamos dos outros sites. Você troca o seu brinquedo por moedas virtuais, que permitem escolher o brinquedo de qualquer outra criança no site. Ainda criamos aplicativos que facilitam o cadastramento dos brinquedos”.

Guilherme Mariscal/ Foto Laura Antunes
Guilherme já trocou pista de carrinho por patins

O negócio está dando certo. Com cerca de três meses de existência e nenhum investimento em marketing, o site já tem 1.200 usuários e 130 brinquedos cadastrados. Ao se cadastrar, o usuário recebe dez moedas virtuais. E, ao cadastrar um brinquedo, ele ganha mais 10 moedas (por brinquedo). Oúmero de moedas é equivalente ao custo do sedex para envio.

O site Quintal das trocas  foi um dos primeiros do gênero. Nele, pais têm a oportunidade de fazer as trocas pelos Correios, em pontos pré-combinados ou nos locais sugeridos pelo próprio site, como museus e bibliotecas. A prática vem se disseminando em vários estados do país, como em Salvador.

Mãe de um casal de crianças (um menino, de 1 ano e quatro meses, e uma menina, de 5 anos), a jornalista Marialina Antolini participou da festa do troca-troca de Vitória, Espírito Santo, uma iniciativa do Instituto Alana, uma ONG que trabalha o desestímulo ao consumo infantil. A instituição faz parte de um grupo de pesquisa do Observatório da Mídia, da Universidade Federal do Espírito Santo. As feiras costumam ocorrer próximo às datas conhecidas pelo consumo: Natal e Dia das Crianças.

“Em casa, a gente busca praticar e ensinar o consumo sustentável. É um desafio neste mundo em que vivemos e não apenas pelas propagandas direcionadas às crianças, mas também pela convivência com outras crianças. Um amiguinho leva um tablet, e, então, temos que explicar que ela não precisa de um tablet, que pode usar o nosso. E o que vale não é o valor financeiro do brinquedo, mas sim o valor afetivo que a criança dá a ele. Isso é muito bacana, principalmente quando os pais entendem essa filosofia e deixam as crianças livres para fazerem as trocas que elas julgam interessantes”, diz.

Laura Antunes

Depois de duas décadas dedicadas à cobertura da vida cotidiana do Rio de Janeiro, a jornalista Laura Antunes não esconde sua preferência pelos temas de comportamento e mobilidade urbana. Ela circula pela cidade sempre com o olhar atento em busca de curiosidades, novas tendências e personagens interessantes. Laura é formada pela UFRJ.

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