A chapa vai ferver

Solo rachado pela seca às margens do Rio Jacareí, em São Paulo. Foto Nelson Almeida/AFP

Prepare-se, 2019 será um dos cinco anos mais quentes da história da humanidade

Por José Eduardo Mendonça | ODS 13 • Publicada em 16 de janeiro de 2019 - 09:00 • Atualizada em 16 de janeiro de 2019 - 15:37

Solo rachado pela seca às margens do Rio Jacareí, em São Paulo. Foto Nelson Almeida/AFP
Solo rachado pela seca às margens do Rio Jacareí, em São Paulo. Foto Nelson Almeida/AFP
Solo rachado pela seca às margens do Rio Jacareí, em São Paulo. Foto Nelson Almeida/AFP

Não há dúvida. Para os cientistas, a tendência de elevação do calor desde o início da era industrial é uma mostra clara das mudanças climáticas causadas pela emissão de gases de efeito estufa. Nada menos do que dezenove dos vinte anos mais quentes do planeta, incluindo 2019, terão ocorrido do ano de 2000 para cá.

E como o aquecimento ocorre? Durante o dia absorvemos a energia do sol. Ao longo do próprio dia e à noite esse calor é irradiado de volta para o espaço. Em nossa atmosfera há três gases que impedem que essa energia seja dissipada: vapor de água, dióxido de carbono e metano. Os três funcionam como um cobertor que cobre o corpo de um animal, impedindo que o calor escape.

Vivemos em um mundo que não apenas é mais quente do que costumava ser.  Ainda não chegamos a um novo normal

No caso de nosso planeta, os gases impedem a irradiação de infravermelho, e em vez disso a reabsorve, fazendo com que esta energia retorne à Terra. Quando mais estes gases estão presentes, o calor do sol é retido de forma mais longa e eficiente. O conteúdo do vapor d`água é determinado pelos oceanos, temperatura local e umidade.

O problema está no dióxido de carbono (CO2) e no metano (CH4), cujas concentrações são primariamente determinadas por atividades humanas. É bem documentado, por exemplo, que o CO2 cresceu mais de 50% de seu valor nos anos 1700, devido à queima de combustíveis fósseis, coincidente com o início da revolução industrial.

Cada vez mais recorrente, o calor de 35º na Praça Mauá, no Rio de Janeiro. Foto Erbs Jr./AGIF
Cada vez mais recorrente, o calor de 35º na Praça Mauá, no Rio de Janeiro. Foto Erbs Jr./AGIF

“O aquecimento nem é mais um brado de alerta”, diz Cynthia Resensweig, que dirige o grupo de impactos do clima do Instituto de Estudos Espaciais Goddard, da Nasa. “Acontece agora para milhões de pessoas em todo o planeta”. As temperaturas ainda estão subindo, e as ondas de calor devem se tornar mais intensas e frequentes com o aumento das emissões de gases de efeito estufa. No horizonte, temos um futuro de falhas em cascata do sistema do clima ameaçando as necessidades básicas de alimentos e eletricidade.

“Vivemos em um mundo que não apenas é mais quente do que costumava ser.  Ainda não chegamos a um novo normal”, afirma Daniel Swain, cientista do clima da Universidade da Califórnia.  Os dados oficiais de 2018 ainda não são conhecidos, mas as emissões industriais de CO2 alcançaram um novo recorde em 2017, depois de se manterem estacionadas nos três anos anteriores. O carbono na atmosfera se encontra em seus níveis mais altos em 800 mil anos.

Infelizmente, a ciência dos impactos do clima e as políticas para a área caminham em direções opostas. Em tese, as políticas públicas deveriam considerar que o mundo caminha rápido para uma situação perigosa. No entanto, a ascensão de governos de extrema-direita prejudica a solidariedade internacional necessária para evitar uma catástrofe. É o caso do Brasil, onde o novo governo nega mesmo a existência do aquecimento global. Mesmo quando os eleitores pensam de forma diferente. Uma pesquisa do Pew Research Center mostrou metade da população brasileira crê que o aquecimento é uma ameaça séria.  Nos EUA, mais de 80% das pessoas, incluindo os que simpatizam com o Partido Republicano, acreditam que a mudança do clima está ocorrendo. No entanto, o governo Trump solapa o território de defesa conquistado em governos anteriores.

O calor de 2019 poderá ser ainda mais exacerbado pelo comportamento do fenômeno El Niño. Há uma chance de 90% de que ele se formará e continuará a acontecer no Hemisfério Norte durante o verão de 2018-2019, segundo previsão da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA. O El Niño é parte de um padrão de rotina do clima que ocorre quando temperaturas de superfície do mar ficam acima do normal por um período extenso de tempo. Pode durar de quatro a dezesseis meses e tem influência no aquecimento na temperatura global.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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