‘Porte ouverte’, nem tudo
está perdido

Na porta do Le Petit Cambodge, um dos alvos dos ataques em Paris, flores e luto

Na noite de terror em Paris, franceses oferecem abrigo pelas redes sociais

Por Agostinho Vieira | ODS 1ODS 11 • Publicada em 14 de novembro de 2015 - 12:11 • Atualizada em 15 de novembro de 2015 - 14:24

Na porta do Le Petit Cambodge, um dos alvos dos ataques em Paris, flores e luto
Na porta do Le Petit Cambodge, um dos alvos dos ataques em Paris, flores e luto
Na porta do Le Petit Cambodge, um dos alvos dos ataques em Paris, flores e luto

Paris, uma das mais belas capitais do mundo, sofre um ataque brutal, o maior desde a Segunda Guerra Mundial. O número de mortos varia de acordo com as fontes, 123, 140, 153. Cerca de 80 morreram enquanto assistiam a um show de rock no Bataclan, famosa casa de espetáculos. Fronteiras fechadas, milhares de soldados nas ruas. Quem fez isso? Homens-bomba, atiradores que passaram dias ou meses se preparando para morrer em nome de uma causa. Causa? O que justificaria tanta violência? Religião, poder, territórios. Acabou. Game over. O mundo está perdido, vamos desistir.

Talvez não. No meio desse pesadelo pipocavam nas redes sociais os primeiros sinais de que ainda havia esperança. Acompanhado da hashtag “#porteouverte”, os parisienses começaram a mandar mensagens oferecendo suas casas para receber todos que estavam perdidos nas ruas, com medo, sem saber para onde ir: “Quem precisar de um lugar seguro, mande uma mensagem”, dizia Florian Duretz, às 20h20. “Se necessitar de ajuda, eu tenho um lugar para você dormir no quinto distrito”, completava Thomas Nigro. E assim seguiu a noite toda:

“Tenho dois lugares na rua Ordener, 43”, Julien Phillippe – 22h

“Aqui vão os telefones das Embaixadas em Paris”, George Aillet – 22:12

“Motoristas de taxi estão oferecendo corridas gratuitas”, Gemma Bonvenizer – 23:23

A expressão “#porteouverte” foi repetida quase 500 mil vezes ao longo da noite. Só sendo superada, no Twitter, pela “#fusillade” (disparo). Uma outra hashtag também fez muito sucesso nesta noite sangrenta, a “#rechercheParis”, com apelos comoventes de pessoas procurando notícias de parentes e amigos. “Se alguém tiver notícias de Lola, 17 anos, no #Bataclan, entre em contato conosco”, dizia um dos posts. Outro se mostrava preocupado com o amigo Thibault: “Ele não está respondendo às minhas mensagens. Me ajudem”. No entanto, um dos mais comuns era: “Obrigado a todos pelos seus RT (retweets), fulana está bem”.

O Facebook também lançou um recurso de check-in para que as pessoas soubessem que os amigos estavam a salvo em Paris. E dizia: “Marque seguro, se você sabe que o que amigo está OK”. Daria para encher páginas e páginas com essas demonstrações de solidariedade. Elas são muito, mas muito mais numerosas do que as notícias de mortos e feridos. A sexta-feira, 13 de novembro, de 2015, certamente terá um lugar de destaque numa das páginas tristes da nossa história. Mas neste dia, ficou claro mais uma vez, que a luta não está perdida: os bons ainda são maioria.

No Twitter, franceses mostraram solidariedade com a hashtag #porteouverte
No Twitter, franceses mostraram solidariedade com a hashtag #porteouverte

 

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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