Conheça a biblioteca do futuro

Mais de 750 mil pessoas já visitaram o projeto que vem mudando a cara da zona portuária na Dinamarca

Por Flavia Milhorance | ODS 11 • Publicada em 29 de janeiro de 2016 - 08:00 • Atualizada em 29 de janeiro de 2016 - 09:55

O Dokk1 é a mais nova biblioteca de Aarhus, na Dinamarca e, atualmente, a maior da Escandinávia
O Dokk1 é a mais nova biblioteca de Aarhus, na Dinamarca e, atualmente, a maior da Escandinávia

Um sol tímido não conseguia disfarçar os congelantes -5 ºC em Aarhus, na Dinamarca, no último sábado. A neve caída nos dias anteriores ainda ocupava a zona portuária da cidade, onde um destoante projeto arquitetônico de quase 30 mil metros quadrados abrigava do frio uma pequena multidão.

Mesmo num final de semana, um burburinho vinha especialmente de crianças entretidas com jogos hightech, brinquedos enormes ou livros coloridos. Cadeiras posicionadas ante vidraças dispersas em 360 graus com vista para o Mar do Norte ou para o centro urbano eram ocupadas por gente de todas as idades, de adolescentes a idosos, com seus laptops, fones de ouvidos e livros. Mesas eram usadas para jogos de tabuleiro, discussões em grupo ou, numa delas, para um workshop com máquina de costura. Em outra área, uma cafeteria – como de costume o espaço mais movimentado. Ali perto, um salão dividido por baias para serviços diversos disponíveis aos habitantes. A área é tão espaçosa e a acústica tão bem pensada que o som se dispersa. Mas, ainda assim, há também um setor mais reservado, de silêncio. E, claro, estantes e mais estantes que abrigam 350 mil livros, revistas, vídeos e discos.

O Dokk1 é a mais nova biblioteca de Aarhus e, atualmente, a maior da Escandinávia. Mas vai além disso. Desde sua inauguração, em junho do ano passado, já recebeu 750 mil visitantes (duas vezes mais do que os museus da cidade) e foi apelidada de “biblioteca do futuro”. Rolf Hapel, diretor de bibliotecas e serviços ao cidadão, prefere dizer que é ela “bem contemporânea”:

– O projeto foi concebido como um lugar para seres humanos aprenderem e se desenvolver, em vez de apenas um repositório de livros. Oferece, com isso, uma abordagem diferente do que é uma biblioteca.

Ocupação do espaço público

 O prédio de 2 bilhões de coroas dinamarquesas (R$ 1,2 bilhão) do governo municipal (junto à organização filantrópica Realdania) também é o ponto inicial de um largo processo de transformação em curso naquela região, que, por isso, vem perdendo a cara de porto industrial deserto e ganhando contornos de espaço público bem ocupado. Também estão sendo construídas praças e áreas de recreação, além de um sistema de veículo leve sobre trilhos ou metrô leve.

– O Dokk1 é uma ótima inspiração a empresários e políticos para resolver o que fazer com o cais Mauá, em Porto Alegre – sugere a gaúcha Helena Gertz, que é mestranda na Universidade de Aarhus. – Em lugar de shoppings e torres comerciais na beira do rio Guaíba, ali ficaria muito melhor uma biblioteca moderna, cinema, sala de exposições, centro de eventos e, ainda por cima, repartição pública.

Helena conta que visitou pela primeira vez o Dokk1 quando precisou dar entrada no seu “CPF dinamarquês”. Levou seu livro na expectativa de que demoraria para ser atendida. Não demorou. Mas no curto tempo, aproveitou para explorar o lugar. E logo percebeu que aquela não era bem uma repartição pública.

– Lembro que estava sendo exibido um filme sobre a ditadura chilena. Achei livros em várias línguas, inclusive português, filmes e CDs que podem ser alugados ou lidos ali mesmo. E me deparei com uma vista linda para o Mar do Norte – comenta.

Sustentável e acessível

 Todo o projeto é sustentável. O Dokk1 é resfriado pela água do mar; há mais de 2.400 metros quadrados de painéis solares no telhado; a iluminação LED está em todos os ambientes; e há sensores para os sistemas de água. É acessível, com rampas e elevadores em todos os cantos.

Há uma variedade grande de eventos, apresentações e workshops, a maioria em parcerias com instituições educacionais, associações ou voluntários. Painéis de informações, visitas guiadas e mirantes não deixam o turista desassistido. Áreas para reuniões podem ser reservadas gratuitamente, e um sistema automático e gratuito garante o aluguel de livros e mídias. Além disso, Rolf Hapel diz que há um constante empenho para ter crianças e famílias sempre por perto. E é o que acontece:

– Venho aqui com frequência desde que o prédio foi inaugurado – conta Lisa Nielsen, que brincava sábado com a filha Anne, de 3 anos. – A ideia é excelente e já mudou muito essa área, que era um tanto feia e vazia. É um lugar para recreação, mas que também, de uma maneira leve, estimula a educação. Quero que ela cresça frequentando este ambiente.

 

Flavia Milhorance

Jornalista com mais de dez anos de experiência em reportagem e edição em veículos de imprensa do Brasil e exterior, como BBC Brasil, O Globo, TMT Finance e Mongabay News. Mestre em jornalismo de negócios e finanças pelas Universidade de Aarhus (Dinamarca) e City University, em Londres.

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