País sem saneamento é país sem saúde

Doenças “antigas” como diarreias, hepatite A, verminoses, esquistossomose, leptospirose e dermatites, ganharam a companhia de surtos provocados pelo mosquito

Em tempos de Aedes aegypti, novos números de coleta e tratamento de esgotos decepcionam e preocupam

Por Edison Carlos | ODS 6 • Publicada em 11 de março de 2016 - 08:00 • Atualizada em 5 de junho de 2019 - 03:27

Doenças “antigas” como diarreias, hepatite A, verminoses, esquistossomose, leptospirose e dermatites, ganharam a companhia de surtos provocados pelo mosquito
Doenças "antigas" como diarreias, hepatite A, verminoses, esquistossomose, leptospirose e dermatites, ganharam a companhia de surtos provocados pelo mosquito
Doenças “antigas” como diarreias, hepatite A, verminoses, esquistossomose, leptospirose e dermatites, ganharam a companhia de surtos provocados pelo mosquito

Na primeira quinzena de fevereiro foram divulgados os novos números do saneamento básico do país. “Novos” é uma forma de dizer, pois estamos falando dos indicadores de 2014. O ministério das Cidades, através da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA) apresentou os últimos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS que, apesar das críticas, continua sendo a melhor base de informações sobre o setor.

É impossível pensar num país onde todos tenham serviços elementares de saneamento se vemos que a região Norte se mantém paralisada com menos de 10% das pessoas com coleta de esgotos; o Nordeste menos de 25% e mesmo a região Sul ainda não tem sequer 40%.

Para a tristeza de todos os que militam em prol de avanços mais concretos nos serviços de água tratada, coleta e tratamento dos esgotos, os dados apresentados são decepcionantes. Sabemos agora que em 2014, que talvez tenha sido o último ano de um ciclo de recursos financeiros mais sólidos para o saneamento, continuávamos com cerca de 35 milhões de brasileiros ainda sem acesso à água tratada, mais de 100 milhões sem coleta de esgoto e pouco mais de 40% do esgoto tratado. As perdas de água potável nos sistemas de distribuição, indicador tão comentado no auge da crise hídrica no Sudeste, se manteve em incríveis 37%.

De positivo, vale parabenizar o Secretário Nacional de Saneamento, Paulo Ferreira, pela transparência mostrada à imprensa, especialmente ao dizer que, se forem mantidos os pífios avanços dos últimos anos, dificilmente o Brasil alcançará as metas de universalização até 2033, prazo definido pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB).  É mesmo impossível pensar num país onde todos tenhamos esses serviços elementares se vemos que a região Norte se mantém paralisada com menos de 10% das pessoas tendo coleta de esgotos; o Nordeste menos de 25% e mesmo a região Sul ainda não tem 40% de coleta.

Vários estados do Norte e Nordeste perdem mais de 50% da água já potável, São Paulo e Rio de Janeiro mais de 30%, seja por vazamentos, ligações clandestinas ou erros de medição. Isso mostra como estamos distantes de tratar a água como o bem precioso que é. Há avanços, é importante que se diga, e várias cidades caminham mais fortemente para dar dignidade aos seus cidadãos, mas ainda é muito pouco frente ao desafio. O país investiu, pela primeira vez, mais de R$ 12 bilhões no setor, mas os indicadores insistem em andar em marcha lenta.

Estes resultados colocam em atenção o país, pois a falta generalizada de saneamento básico cada vez mais está sendo associada pelos especialistas às doenças provocadas pelo Aedes aegypti. Se já não bastavam os impactos diretos na saúde por enfermidades “antigas”, como diarreias, hepatite A, verminoses, esquistossomose, leptospirose, dermatites…, agora temos os surtos das doenças do mosquito.

Em tempos de Aedes aegypti, o cidadão tem um papel essencial; precisa ser mais responsável não jogando lixo em qualquer lugar, se preocupando com os focos do mosquito em seu quintal e no do vizinho, mas as autoridades não podem abrir mão de sua responsabilidade de olhar a cidade como um todo. Assegurar serviços de água mais constantes evitando a necessidade de as pessoas armazenarem em baldes e bacias, ampliar a coleta e tratamento dos esgotos, eliminar os lixões e locais de descarte clandestino, zelar pelas águas das chuvas.

Em resumo, um país sem saneamento básico não tem saúde, não tem rios e praias limpas, não tem boa educação, nem produtividade, não amplia o turismo, não valoriza os imóveis, não tem dignidade. Será que esta comoção nacional pelas novas doenças atreladas à falta de saneamento fará diferença? Difícil saber.

Edison Carlos

É Presidente Executivo do Instituto Trata Brasil. Químico industrial de formação, por muitos anos atuou em áreas ligadas à Comunicação e Relações Institucionais nos setores químico e petroquímico. Além de formado em Química pelas Faculdades Oswaldo Cruz, o executivo é pós-graduado em Comunicação Estratégica, já tendo atuado nas áreas de tratamento de águas e efluentes. Atuou por quase 20 anos em várias posições no Grupo Solvay, sendo que nos últimos anos foi responsável pela área de Comunicação e Assuntos Corporativos da Solvay Indupa. Em 2012, Édison Carlos recebeu o prêmio “Faz Diferença – Personalidade do Ano” do Jornal O Globo – categoria “Revista Amanhã” que premia quem mais se destacou na área da Sustentabilidade em todo o país.

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