Sustentável, premiada e cara

Instalada em um terreno próximo à entrada do Parque Nacional de Cabañeros, perto de Toledo, a pousada rural El Refugio de Cristal é um paraíso da sustentabilidade

Pousada na Espanha vira exemplo de preocupação ambiental, mas sofre para virar um bom negócio

Por Fernanda Godoy | ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 9 de fevereiro de 2016 - 10:47 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:51

Instalada em um terreno próximo à entrada do Parque Nacional de Cabañeros, perto de Toledo, a pousada rural El Refugio de Cristal é um paraíso da sustentabilidade
Instalada em um terreno próximo à entrada do Parque Nacional de Cabañeros, perto de Toledo, a pousada rural El Refugio de Cristal é um paraíso da sustentabilidade
Instalada em um terreno próximo à entrada do Parque Nacional de Cabañeros, perto de Toledo, a pousada rural El Refugio de Cristal é um paraíso da sustentabilidade

Cuidadosamente instalada num terreno próximo à entrada do Parque Nacional de Cabañeros, perto de Toledo (a 130 km de Madri), a pousada rural El Refugio de Cristal é um paraíso da sustentabilidade.

Os materiais escolhidos foram os mais naturais, incluindo um isolamento de cortiça. A energia é solar ou de biomassa de caroço de azeitona, encontrada na região. A água da chuva e dos chuveiros dos seis apartamentos é reciclada.  O paisagismo foi feito com plantas da região que consomem pouca água.

Falta consciência sobre temas ambientais na Espanha. É preciso educar a sociedade para que as pessoas entendam que o turismo não é um gasto sem controle.

Nada de gramados, banheiras, jacuzzis e outros luxos que abundam em outros empreendimentos do tipo. A única concessão foi a construção de uma piscina, cuja água é tratada com solução salina.

A implantação no terreno foi feita de forma a aproveitar o calor do sol no inverno e permitir o máximo de circulação de ar no verão, reduzindo os gastos com aquecimento e ar-condicionado. Aliás, a pousada utiliza um sistema alternativo de climatização que consome muito menos que o tradicional e reduz em até 10 graus a temperatura ambiente.

E nem é preciso dizer que todo o lixo é tratado, separado por tipo e reciclado.

Toda essa tecnologia de sustentabilidade encareceu o empreendimento em 15%, segundo Álvaro Ares, dono da pousada. O projeto rendeu prêmios, mas não retorno financeiro. As pessoas não querem (ainda) pagar mais por uma hospedagem que agrida menos o meio ambiente.

Ares já esperava isso. Apostou no modelo sustentável por acreditar que nele está o futuro. E tabelou seus preços (66 euros a diária na baixa temporada, 88 euros na alta), de acordo com a classificação da pousada, três espigas, a máxima para turismo rural na região.

“Falta consciência sobre temas ambientais na Espanha. É preciso educar a sociedade para que as pessoas entendam que o turismo não é um gasto sem controle”, diz Ares.

A pousada foi feita de forma a aproveitar o calor do sol no inverno e permitir o máximo de circulação de ar no verão, reduzindo os gastos com aquecimento e ar-condicionado
A pousada foi feita de forma a aproveitar o calor do sol no inverno e permitir o máximo de circulação de ar no verão, reduzindo os gastos com aquecimento e ar-condicionado

Um dos exemplos disso é o consumo de água, que superou em muito a expectativa inicial de Ares. A queixa dele é geral entre hoteleiros espanhóis: os hóspedes pensam que o pagamento da diária lhes dá direito ao consumo irrestrito de água e de energia.

“Não podemos dizer aos clientes quanto tempo eles podem ficar embaixo do chuveiro”, diz Ares, que elaborou um manual de conduta colocado à disposição dos hóspedes.

Na Espanha, turismo é coisa séria. O país recebeu, em 2015, 68 milhões de visitantes estrangeiros, seu novo recorde. A eficiência energética e outras formas de atenção à sustentabilidade estão na pauta dos empresários do setor.

“O destino turístico que não for sustentável estará fora do mercado. A Europa decidiu apostar em energias renováveis e o trabalho regulador será cada vez mais forte”, diz Rodrigo Morell, diretor-geral da Creara, empresa especializada em eficiência energética que desenvolve projetos-piloto de 14 hotéis na Europa.

De acordo com Morell, investimentos para reformar um edifício, torná-lo eficiente do ponto de vista energético e dotá-lo de painéis solares ou outros equipamentos para fontes de energia renovável são amortizados em um prazo de cinco a oito anos. E, com isso, se reduz o consumo de energia em até 60%.

No extenso litoral espanhol, que recebe enxames de turistas todos os verões, os hoteleiros já acordaram. A Hosbec (associação empresarial hoteleira da região litorânea de Valência) mantém extremamente ocupado o engenheiro José Luis Egido, contratado como assessor energético para atender aos 220 estabelecimentos afiliados.

“Fazemos auditorias energéticas, orientamos para a adoção de fontes renováveis, elaboramos manuais de boas práticas. Não é só uma questão de economia, é uma questão de responsabilidade social”, diz Egido.

Todos os envolvidos nessa linha de ação são conscientes de que a queda vertiginosa do preço do petróleo nos últimos meses torna menos atraente, do ponto de vista econômico, a transição para as fontes de energia renováveis no momento. A pressa para fazer a transição pode ter diminuído. Mas eles não se enganam:  a Espanha não tem petróleo, mas lhe sobram a luz do sol e a força dos ventos que movem moinhos.

Fernanda Godoy

É jornalista, formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Trabalhou em "O Globo" e na "Folha de S. Paulo". Foi correspondente em Nova York nos períodos 1993-94 e 2010-13. Atualmente vive em Madri e trabalha como repórter freelancer na Europa.

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