O misterioso desaparecimento dos pinguins africanos

Pinguins africanos na Cidade do Cabo: desaparecimento

Aquecimento global e pesca predatória dos peixes que alimentam as aves são razões apontadas por cientistas

Por France Presse | ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 10 de dezembro de 2015 - 17:58 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:53

Pinguins africanos na Cidade do Cabo: desaparecimento
Pinguins africanos na Cidade do Cabo: desaparecimento
Pinguins africanos na Cidade do Cabo: desaparecimento

Na praia de Boulders, na Cidade do Cabo, na África do Sul, pinguins são fotografados e até nadam entre turistas. Mas a bela cena esconde, no entanto, uma tragédia. Os pinguins estão morrendo, e cientistas tentam descobrir qual a razão: será consequência da atividade humana? Muitos indícios apontam que  sim.

Entre 2004 a 2014, o número de casais de pinguins capazes de se reproduzir caiu 90% nas colônias sul-africanas, passando de cerca de 32.000 a cerca de 3.000, segundo números oficiais. O pinguim do Cabo, também conhecido como africano ou de óculos, que se caracteriza por um grunhido que lembra um burro zurrando, vive apenas na África do Sul e na vizinha Namíbia.

As principais presas dessas aves incapazes de voar, as sardinhas e as anchovas, mudaram de comportamento e tem se deslocado rumo ao sul e ao leste, longe da costa ocidental africana. Entre os cientistas o debate gira em torno das razões desta mudança: a pesca predatória ou o aquecimento global.

“A distribuição de peixes mudou, obviamente, mas a causa desta mudança é um mistério”, disse Rob Crawford, cientista do ministério do Meio Ambiente sul-africano. “A pesca excessiva e as mudanças climáticas são as duas hipóteses principais, mas é muito difícil determinar se um dos dois prevalece sobre a outro”, disse à AFP.

“A região que era mais favorável para a reprodução de anchovas e sardinhas acabou mudando na sequência de alterações de temperatura na superfície do mar na década de 1990 e início dos anos 2000”, acredita Richard Sherley, um pesquisador da Universidade de Exeter, afirmando que não é possível comprovar se foi o aquecimento global o responsável pela redução da população de pinguins: “Consideramos que desempenha um papel importante”.

A nova marcha dos pinguins

Mas existe uma certeza: o homem é responsável pela diminuição inicial do número de pinguins na Cidade do Cabo, considerado espécie em perigo pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Durante muito tempo os habitantes da costa consumiam carne de pinguim.

Embora o recolhimento de ovos esteja proibido desde 1967, a atividade parece continuar. Nos anos 1920, eram contabilizados um milhão de casais na África do Sul, contra apenas 19 mil em 2012, de acordo com o ministério do Meio Ambiente. Uma das colônias mais afetadas é Robben Island, famosa ilha onde Nelson Mandela e os principais opositores ao apartheid ficaram presos.

A população de pinguins do Cabo caiu drasticamente também na Namíbia, passando de 12.162 casais reprodutores em 1978 a 4.563 em 2008, segundo a organização Birdlife International.

Os cientistas agora vislumbram uma solução radical para tentar salvar esses animais: movê-los e estabelecer uma nova colônia na costa sul, mais perto de suas fontes de abastecimento.

Para evitar qualquer trauma às aves, todo o possível será feito para criar a ilusão de que a nova colônia já existia, explica a organização Birdlife África do Sul, que idealizou o projeto. Eles gravarão os barulhos dos pássaros, colocarão chamarizes e espelhos para que os pinguins acreditem estar na companhia de muitos outros.

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