Festinhas descartáveis

Da decoração às lembrancinhas, quase tudo é descartável em festas infantis

Lembrancinhas de aniversários de crianças são, em sua maioria, quinquilharias made in China; por que não um livrinho?

Por Ciça Guedes | ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 1 de maio de 2016 - 08:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:49

Da decoração às lembrancinhas, quase tudo é descartável em festas infantis
Da decoração às lembrancinhas, quase tudo é descartável em festas infantis
Da decoração às lembrancinhas, quase tudo é descartável em festas infantis

De volta às festinhas infantis para acompanhar duas lindas netinhas, eu me confesso estarrecida com as mensagens de desperdício e insustentabilidade que elas – as festas, não as netinhas! – deixam para as crianças. Há festas mais cabeça (embora não cheguem ao paroxismo do brigadeiro de inhame) e outras mais pé na jaca, mas todas têm um traço em comum: um consumo assustador de descartáveis, desde os copos que as crianças (e os adultos…) largam em qualquer lugar até as quinquilharias chinesas dadas como brindes.

Zero preocupação em manter, ao menos para fins educativos, um recipiente de bom tamanho para os copos e outros itens recicláveis. Há condomínios que separam o que é reciclável, vendem à empresa que recolhe uma ou duas vezes por semana na rua, e o valor apurado fica com os empregados. Por que não doar os restos da festa a um condomínio que tenha esse esquema? Ou ver se o próprio prédio onde rola a festinha tem como aproveitar esses resíduos?

Se você for às áreas de comércio popular, como a Saara, no Rio de Janeiro, ou a 25 de Março, em São Paulo, verá que são lojas e mais lojas vendendo os badulaques. O que me faz pensar em contêineres e mais contêineres dessas bugigangas de plástico atravessando oceanos ao longo de 45 dias, da China até aqui. Para quê?

Já as quinquilharias dos brindes, fica um pouco mais complicado. São pequenas peças, algumas com baterias, que vão durar pouquíssimo e serão descartadas. Acham que exagero? Vejo sacos enormes cheios desses brindes nas festas. Se você for às áreas de comércio popular, como a Saara, no Rio de Janeiro, ou a 25 de Março, em São Paulo, verá que são lojas e mais lojas vendendo os badulaques. O que me faz pensar em contêineres e mais contêineres dessas bugigangas de plástico atravessando oceanos ao longo de 45 dias, da China até aqui. Para quê?

Além de distribuir as bugigangas ao longo da festa, há o costume de entregar lembrancinhas que são também… chinesas. Para piorar, os adultos criaram o hábito de partir pra cima das lembrancinhas para que seus filhos, que não podem ser frustrados jamais (este é um dado de realidade de educação de crianças de classe média), ganhem não apenas um pacote de lembrancinhas, mas até mais de um, assim ele chegará triunfante em casa com o dobro de quinquilharias!

Como já disputei muito espaço em supermercado com o rapaz que manejava a terrível máquina de remarcar produtos, durante os fracassados planos econômicos pré-real, assim como quase saí no tapa por alguns bifes para a família durante a escassez do Plano Sarney, e cozinhava ao sol na fila para abastecer durante o racionamento de combustível nesse mesmo governo inesquecível do grande literato do Maranhão, não enfrento barraco para disputar uma estrela-do-mar que pisca, ou um apontador que não vai funcionar já no segundo lápis.

Não se enganem – pouco, muito pouco, na verdade, nada será reciclado. Já é um grande esforço para as empresas reciclar até o nobre PET das garrafas de bebidas (por causa da tampinha e do rótulo, de plásticos inferiores, pois  não há como pagar empregados para retirá-los e ninguém se lembra de fazer isso na hora de descartar), imaginem minúsculas pecinhas de brinquedinhos.  Minha sugestão: em vez de dar um monte de quinquilharias, dê uma única lembrancinha bacana. Que tal um livrinho?

Ciça Guedes

Jornalista e economista, trabalhou em O Dia, Folha de S.Paulo, Globo News, O Globo, e no departamento de comunicação de empresas como Banco do Brasil e Vale. Em 2014, lançou o livro "O Caso dos Nove Chineses" (editora Objetiva), escrito em parceria com Murilo Fiuza de Melo.

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