Mãe Natureza: revelada e protegida

Fêmea de bicudinho-do-brejo. Foto de Ricardo Bemonte Lopes

Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais

Por Fernanda Portugal | Mapa das ONGsODS 10 • Publicada em 29 de agosto de 2016 - 08:00 • Atualizada em 3 de setembro de 2017 - 01:21

Fêmea de bicudinho-do-brejo. Foto de Ricardo Bemonte Lopes
Fêmea de bicudinho-do-brejo. Foto de Ricardo Bemonte Lopes
Fêmea de bicudinho-do-brejo, uma das espécies estudadas

O que nós, humanos urbanos, temos a ver com aquele sapinho que vive escondido no alto de uma montanha situada num fragmento de Mata Atlântica? Ou com as diversas aves e os insetos que sobrevoam plantações? No DNA de cada ser vivo, pode estar a cura para doenças que nos afligem e, num bater de asas, a garantia da comida em nossa mesa. Há 30 anos na luta pela conservação da biodiversidade brasileira, o Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais tem no currículo 78 projetos e a descoberta de nada menos do que 26 novas espécies animais.

Segundo Paulo Pizzi, presidente da organização sediada em Curitiba (Paraná), a indústria farmacêutica é um dos setores que tem mais a perder com o desaparecimento de espécies. “A diversidade biológica é um baú ainda inexplorado de possibilidades de descobertas, por exemplo, de novos antibióticos. Isso num cenário em que vemos o surgimento de superbactérias contra as quais os atuais remédios começam a não fazer mais efeito”, alerta o biólogo.

A diversidade biológica é um baú ainda inexplorado de possibilidades de descobertas, por exemplo, de novos antibióticos. Isso num cenário em que vemos o surgimento de superbactérias contra as quais os atuais remédios começam a não fazer mais efeito

Outro campo que sofre grande impacto com a perda de biodiversidade é o da agricultura. Mais de três quartos dos vegetais plantados com fins alimentares dependem da polinização – feita principalmente por insetos e aves – para serem produzidos com qualidade e em quantidade suficientes, segundo o Ministério do Meio Ambiente.

Entre as diversas iniciativas do Mater Natura em andamento, estão ações de restauração florestal, de pesquisa e de criação de reservas, entre elas a que leva o nome de Bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris), espécie de pássaro descoberta pelo Instituto em 1995 e atualmente ameaçada de extinção. Em 2009, cinco pessoas físicas, associadas à ONG, adquiriram a área na baía de Guaratuba, no Paraná. Agora, a batalha é para obter a qualificação de Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Anfibio-Foto de Luis Fernando Ribeiro
Anfíbios lideram o ranking de descobertas feitas pela ONG

O Bicudinho foi uma das 5 espécies de pássaros descobertas nas últimas três décadas pelo Mater Natura. O recorde, porém, é dos anfíbios: foram 21 novos sapinhos dos gêneros Melanophryniscus e Brachycephalus revelados apenas entre 1998 a 2016, durante expedições em regiões montanhosas do Paraná e de Santa Catarina. A descoberta de tantas novas espécies em tão pouco tempo sugere que a diversidade de anuros de montanhas pode estar muito  subestimada.

Movimento nasceu em universidade

Patativa. Foto de divulgação
Anilhamento e tomada de medidas

Associação civil ambientalista sem fins lucrativos, de caráter científico, educacional e cultural, o Mater Natura já teve seus diversos projetos patrocinados por 35 instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais. Entre elas, o WWF Brasil, o Unicef, o Ministério do Meio Ambiente, a Petrobras e a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

A ONG também recebe doações de pessoas físicas. Segundo Pizzi, no ano de 2015, um dos mais difíceis para o Mater Natura, a entrada de recursos para a execução dos trabalhos foi de R$ 329 mil. O Instituto tem quatro funcionários celetistas e, em 2015, para ações específicas, contratou 12 consultores temporários e contou com nove voluntários.

pesquisador no meio da mata procurando anfibio-Foto de Marcio P
Pesquisador no meio da mata

Um grupo de 25 estudantes de Biologia da PUC do Paraná formou o Movimento Ecológico Mãe Nature em 1983, quando participou de encontro que denunciava a utilização indiscriminada de agrotóxicos em plantações locais. Nos primeiros anos, realizou atividades no campus, como palestras e exposições. Depois, se engajou em campanhas históricas, como o apoio à adoção da Educação Ambiental nas escolas; ações contra a caça às baleias no Brasil; e mobilização pelo fechamento de estrada que cortava ilegalmente o Parque Nacional do Iguaçu. Em maio de 1987, foi registrado em cartório e, a partir de janeiro de 1993, passou a ter a atual denominação.

Segundo Pizzi, um dos projetos de maior destaque no passado foi a criação da Ecolista (Cadastro Nacional de Instituições Ambientalistas). O trabalho, que virou referência nacional, começou em 1992, época da realização, no Rio de Janeiro, da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco-92. Para suprir a carência de informações que havia sobre o Terceiro Setor, o Mater Natura elaborou e editou relação de 1.891 instituições: 1.533 ONGs e 358 órgãos governamentais. “Fomos pioneiros num tempo em que não havia internet e eram poucos os computadores pessoais”, conta o biólogo.

Fernanda Portugal

Fernanda Portugal é carioca, formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Já foi editora de Saúde, Mundo, Meio Ambiente e Cidade do jornal 'O Dia'. Como repórter, no mesmo jornal, fazia matérias com temas ligados aos Direitos Humanos e ganhou o Prêmio SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) três vezes.

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