Virada empreendedora

Grupo de voluntários do coletivo Imagina na Copa

Associação Imagina na Copa

Por Felipe Porciuncula | Mapa das ONGsODS 10 • Publicada em 6 de abril de 2016 - 08:00 • Atualizada em 3 de setembro de 2017 - 01:23

Grupo de voluntários do coletivo Imagina na Copa
Grupo de voluntários do coletivo Imagina na Copa
Grupo de voluntários do coletivo Imagina na Copa

O bordão “Imagina na Copa!” carregava o peso de um potencial fracasso. Às vésperas da Copa do Mundo de 2014 a frase era ouvida no trabalho, nos bares, nas ruas, e repetida à exaustão nas redes sociais. A aposta geral era que o país faria feio nos jogos. As previsões mais pessimistas davam conta que haveria apagão nos aeroportos, confusão nos estádios… Estaríamos mesmo prontos para receber a Copa do Mundo? Seria esse o melhor momento?

Um quarteto de jovens decidiu transformar o rótulo negativo em algo positivo e, como uma espécie de força-tarefa, saíram pelo país tentando promover a virada para o Brasil antes do início dos jogos. Se a Copa tinha o poder de mobilizar gente de todo o país em torno de uma reclamação – “se as coisas estão desse jeito agora, imagina na Copa” -, o que ocorreria se toda essa mobilização fosse usada em prol de mudanças positivas para o país?

Usamos a Copa como pretexto para envolver as pessoas que tinham a vontade de abrir novos horizontes e ter um novo olhar. O propósito era refletir sobre como é possível melhorar o mundo com gestos simples

Fernanda Cabral se juntou a Mariana Ribeiro, que chamou Mari Campanatti, que conhecia Tiago Pereira. De forma bem humorada e despretensiosa, o quarteto de jovens – todos trabalhavam em grandes empresas e estavam à procura de novos rumos profissionais – saiu viajando pelo país para descobrir boas histórias para documentá-las. O objetivo era juntar exemplos transformadores. Não foi difícil encontrar boas histórias, como as do casal Elaine e Tommaso, fundadores do “Ler Para Crescer”, que, com o apoio de voluntários do mundo todo, levam educação e diversão para crianças de comunidades ribeirinhas isoladas na Amazônia.

Até o final da Copa, o quarteto visitou 27 capitais brasileiras. Um total de 18 meses conhecendo experiências pelo país afora. Chegaram ao final da viagem com uma produção intensa: 75 curta-metragens, um levantamento debaixo do braço com 152 empreendedores sociais e a elaboração de uma oficina, onde o lema é dar pistas de como cada um pode descobrir seu jeito próprio de transformar o mundo.

A história do quadrinista e estudante de História, Bernardo Aurélio, que levou Machado de Assis para uma escola pública de Teresina, no Piauí, e adaptou o conto Machadiano para história em quadrinhos com a ajuda dos alunos, virou um curta.

Com o tempo, o que nasceu como o projeto “Imagina na Copa” se transformou na ONG Imagina Coletivo. A entidade conta com uma rede de replicadores no Brasil. O leque de temas é amplo: catadores de lixo, mobilidade urbana, refugiados. “Nós não temos uma causa específica. O que fazemos é mapear o que existe de mais relevante pelo país afora”, comenta Fernanda.

A proposta da organização é produzir conteúdo de impacto social em diferentes linguagens e prestar serviços de consultoria em mobilização, comunicação e empreendedorismo social para organizações e grupos que queiram gerar engajamento e ampliar seu impacto. O quarteto oferece material e metodologia para tirar boas ideias do papel – uma ferramenta disponível no site da entidade, o tool kit, é um dos aliados dos jovens.

O orçamento anual de R$ 200 mil é fruto de patrocínios importantes como os da Gol, da Red Bull e da Fundação Telefônica, além de doações individuais. A ONG não publica balanço anual.

A organização trabalha hoje em duas grandes frentes de mobilização. A primeira é o Imagina Você, que pretende mensalmente, a partir de um determinado conteúdo, lançar uma série de produtos que abordem esse tema de vários pontos de vista. Agora em março o primeiro deles será Conflitos. Além de nove vídeos curtos, será apresentado um documentário sobre um case de como resolver melhor os conflitos, a partir de uma experiência bem sucedida em Capão Redondo, bairro da Zona Sul de São Paulo. “A história gira em torno de uma atividade do Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo que trabalha com o conceito de justiça restaurativa”, lembra Fernanda, que cita até um baralho que também faz parte do kit. O próximo tema deve ser a representatividade negra na infância.

Outra área de ação é o “Imaginadora”, que agrega as parcerias que a organização tem com instituições como a Universidade de São Paulo (USP), e a Fundação Telefônica.

Felipe Porciuncula

Jornalista com 25 anos de estrada. Passou pelas redações de Jornal do Comercio, TV Pernambuco, Valor Econômico e GloboNews. Faz parte da Ashoka Society, onde teve apoio para seu projeto Agência Popular de Notícias. Foi consultor da Unicef e da Unesco. Editou o livro “Guia para o amanhã: sustentabilidade e mudanças climáticas”, publicado pela editora Senac (finalista do Prêmio Jabuti 2010). Adora cinema e viajar. Escreve ficção. Gosta muito de estudar a ciência da política.

Newsletter do #Colabora

Um jeito diferente de ver e analisar as notícias da semana, além dos conteúdos dos colunistas e reportagens especiais. A gente vai até você. De graça, no seu e-mail.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *