Ajudando a pensar o Brasil

Alunos de uma escola em Guaratinguetá se divertem durante experimento no Programa

Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial

Por Marina Ribeiro | Mapa das ONGsODS 10 • Publicada em 17 de dezembro de 2015 - 12:03 • Atualizada em 3 de setembro de 2017 - 01:27

Alunos de uma escola em Guaratinguetá se divertem durante experimento no Programa
Alunos de uma escola em Guaratinguetá se divertem durante experimento no Programa
Alunos de uma escola em Guaratinguetá se divertem durante experimento no Programa

Transformação social não se faz só por meio de ações, mas do entendimento da realidade local. Foi exatamente da vontade de compreender melhor a realidade brasileira que há quase 30 anos, o Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial foi fundado pelo jornalista norte-americano Norman Gall, em São Paulo. Junto de economistas, empresários, lideranças públicas e jornalistas, o think tank busca formas de superar os problemas institucionais que inibem o desenvolvimento humano no Brasil e na América Latina.

Para atingir este objetivo, desde 1987, já organizou mais de 230 seminários e conferências, financiou diversos pesquisadores e publicou 50 edições de seu informativo Braudel Papers. Os temas tratados vão de segurança pública, reformas educacionais, fenômenos climáticos a grupos terroristas; todos elementos que ajudam a compreender a complexa sociedade contemporânea.

Em 2011 surgiu também a oportunidade de ampliar contextualização destas informações. O blog “Brasil, Economia e Governo” traz textos que pretendem explicar as escolhas feitas pelo setor público quando se trata da gestão econômica. Os autores são assessores parlamentares concursados e especialistas responsáveis pelos pareceres técnicos que respaldam o trabalho legislativo. Com o conhecimento adquirido nas pesquisas e experiência profissional, ajudam outros eleitores a compreender melhor os meandros da política brasileira.

O instituto tem duas vocações de pensar o Brasil, tendo contato com a sociedade e as soluções possíveis, surgem ideias de como trabalhar para melhorá-lo. Nosso debate seria pobre se não tivesse estes dois eixos

Mais do que compreender e explicar a realidade do Brasil, o instituto articula ações para transformá-la. O diretor-adjunto da entidade, Lourival Sant’Anna, relembra o início do programa Academia de Ciência, que dá suporte a professores de ciências da rede pública de ensino para a manutenção de laboratórios e execução de atividades experimentais. Atualmente atingindo 5.247 jovens de escolas de São Bernardo do Campo e Guaratinguetá, o projeto surgiu de um seminário para discutir os rumos do ensino público de Ciências, realizado em 2005. Após notar a demanda de iniciativas na área durante o encontro, um ano depois o programa estava com um piloto em três escolas na grande São Paulo.

Círculo de Leitura em escola cearense. No estado, a parceria com a Secretaria de Educação fez com que o programa atingisse mais de 7 mil jovens de 32 municípios
Círculo de Leitura em escola cearense

A fórmula de atividades no contraturno formando grupos de jovens estudantes e possibilitando seu desenvolvimento já era utilizada pelo instituto há alguns anos. Em 2000 surgiu o programa Círculos de Leitura, desenvolvido após pesquisas de campo nas escolas públicas da periferia de grande São Paulo um ano antes, quando se constatou que a prática da leitura era inexistente, faltava reflexão e não se promovia debate na sala de aula.

A metodologia é relativamente simples. Educadores pagos e voluntários se dividem para trabalhar com grupos de 10 a 15 jovens. Cada aluno recebe seu próprio livro e os alunos se alternam lendo em voz alta durante os encontros, fazendo pausas para discutir sobre o significado dos trechos lidos. Os títulos escolhidos são grandes clássicos da literatura como “A Odisseia”, de Homero, “A Trilogia Tebana”, de Sófocles, “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare.

O projeto atua em cinco escolas do distrito paulistano de São Miguel Paulista e em outras 52 do estado do Ceará. No total, são mais de 7 mil alunos atingidos pelas atividades. “Permitir que um jovem acredite que pode almejar muito mais é um fator transformador que não tem como mensurar seu real impacto“, afirma a adiministradora, Margarida Guimarães. Dentre os resultados práticos dos programas está a presença de dois ex-membros dos Círculos de Leitura do Ceará dentre os estagiários do instituto. Ambos se mudaram para São Paulo e cursam ensino superior em faculdades tradicionais com bolsa integral.

Parcerias

Para viabilizar todos os projetos o instituto conta com parcerias. A Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) sede espaço para o escritório, onde é realizada grande parte dos seminários e há salas para abrigar pesquisadores financiados pela organização. Para suas atividades usuais, o Braudel conta com o apoio institucional de doadores como Grupo Ultra, Safra, Estadão, Bradesco, Itaú, Armínio Fraga, Jayme Garfinkel e Miguel Lafer. O orçamento foi de R$ 1,1 milhão em 2014. O balanço deste ano ainda não foi fechado. A entidade não publica prestação de contas no site. Divulga informações financeiras apenas para seus membros e parceiros.

Já os projetos educativos dependem do financiamento de empresas. A empresa química alemã BASF financia a Academia de Ciências, daí a escolha das cidades. A empresa tem fábricas em São Bernardo do Campo e Guaratinguetá. Já os Círculos de Leitura são financiados pelo Instituto Votorantim, via Programa de Ação Cultural (Proac), Unilever, Fundação Itaú Social e Secretaria de Educação do Estado do Ceará. A parceria com o setor público garantiu a capilaridade do projeto no estado nordestino.

Projetos educacionais dependem do investimento de parceiros para ocorrerem. Por isso, ficam restritos geograficamente aos interesses dos investidores
Projetos educacionais dependem do investimento de parceiros capitalistas

Para o futuro, a organização espera conseguir fazer com que os programas educacionais se tornem política pública para atingir ainda mais alunos. Em 2016, um programa de avaliação de impacto liderado pelo Insper ajudará a mostrar os resultados dos programas na vida dos estudantes. A vontade de expandir para atingir ainda mais jovens e de mais localidades é forte, resta encontrar investidores para a ampliação.

Ampliar a atuação internacional também está no radar. Em 2016, serão duas conferências internacionais: uma em março sobre democracia em parceria com o Instituto Fernando Henrique Cardoso e outra sobre a escassez de água em São Paulo, Lima e Cidade do México. Além disso, há a intenção de traduzir para o inglês os textos do blog  “Brasil, Economia e Governo”.

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