Tragédias que transformam

O empresário Beto Neves, da Complexo B, montou a Complexcidade, uma incubadora de moda

Dono da Complexo B cria incubadora de empresas voltada para a moda

Por Gilberto Scofield | ArtigoODS 1 • Publicada em 7 de fevereiro de 2016 - 08:00 • Atualizada em 10 de fevereiro de 2016 - 11:44

O empresário Beto Neves, da Complexo B, montou a Complexcidade, uma incubadora de moda
O empresário Beto Neves, da Complexo B, montou a Complexcidade, uma incubadora de moda
O empresário Beto Neves, da Complexo B, montou a Complexcidade, uma incubadora de moda

Tragédias pessoais podem imobilizar uma pessoa para sempre. Ou servirem de inspiração para uma reinvenção que pode ser realmente transformadora. Foi o que aconteceu com o empresário e designer Beto Neves, dono da marca de roupas Complexo B. Há pouco mais de um ano, Neves perdeu a mãe, Linete, a sobrinha, Manuela,  e o namorado da sobrinha, Rafani, assassinados por um matador de aluguel contratado, suspeita a polícia, pelo ex-padrasto de Manuela,  Michel Salim. O crime chocou o Rio e o mundo da moda e deixou Neves arrasado.

Pode uma pessoa sobreviver à perda das pessoas mais importantes de sua vida? É possível achar alguma explicação nisso, seguir em frente e ainda enxergar o futuro?

Complexcidade, incubadora de moda na Lapa
Complexcidade, incubadora de moda na Lapa

Beto Neves provou que sim. Em outubro passado, ele inaugurou num sobrado da Lapa a Complexcidade, uma incubadora de empresas voltadas para a moda, um ramo no qual Beto já atua há 30 anos com a Complexo B. Nada melhor do que alguém com experiência no sobe-e-desce da moda há décadas para ensinar todas as etapas de um negócio de muito glamour – aparente glamour –, mas muito, muito esforço e suor.

– Eu passava por uma crise pessoal e senti que precisava me reinventar. E a melhor maneira de fazer isso seria compartilhando o conhecimento do setor de moda que eu acumulei nesses anos todos com gente criativa que tinha a ideia, mas não sabia como colocá-la em prática – conta ele.

O resultado é que Beto Neves  se associou a Fernanda Rivera e Fernando Assumpção para, sem deixar a direção criativa da Complexo B, colocar de pé a Complexcidade, uma empresa que pega um punhado de jovens criativos e ansiosos – são 10 empresas no momento – e as ensina tudo sobre criação, mas também sobre a exploração do mercado, vendas, modelagem e gestão do negócio.

– Tem muita gente com ideias ótimas na cabeça, mas que se atrapalham na hora de colocar o negócio em pé. Mas o fato é que neste mercado não se vence sem saber um pouco sobre como funciona noções elementares de gestão e venda – explica.

Então, duas vezes por semana à tarde, ou no sábado o dia inteiro, os moleques sentam para discutir conceito de marca, stakeholders, como montar uma turma confiável de fornecedores baratos, modelagem, concorrência, contabilidade básica. São R$ 6 mil por empresa e por 100 horas e consultoria, ou seja, se a marca possui três sócios, sai R$ 2 mil. No final, para Beto Neves o dinheiro serve basicamente para bancar o sobrado e as aulas. Mas é uma recompensa enorme para uma pessoa que sofre um baque e, de repente, não via muito mais graça em nada na vida.

O empresário Beto Neves e as empreendedoras Julia Sampaio (de blusa branca) e a sócia
Beto e as sócias da 2Versos:  Julia Sampaio (de blusa branca)  e Claudia Montelage

No dia 29 de dezembro de 2015, lá fui eu ao casarão da Mem de Sá onde rolaria uma pop up store para os criadores apresentarem ao público os seus produtos. E ali encontrei a filha de uma amiga querida, Julia Sampaio,  que com a sócia Claudia Montelage, expunham sua empresa de camisas baseadas em trechos de músicas famosas de compositores que elas admiram, uma ideia simpática e capaz de tocar qualquer um. Afinal, quem não tem um trecho de música a embalar algumas fases da sua vida? Facilitou que as duas são produtoras culturais e já trabalhavam com alguns dos compositores cujas músicas tietavam.  Assim nasceu a 2Versos, que hoje opera online e em feiras de moda, além de vender em dois locais fixos: a concept store Praha, em Laranjeiras, e na própria Complexcidade, na Lapa,  onde há um showroom para os alunos.

– A gente trabalha com músicas de domínio público, como é o caso de Noel Rosa, ou parcerias com os músicos, como fizemos com Gilberto Gil e Geraldo Azevedo, de modo a baratear o custo com as licenças. O comércio online ganhou uma força com as aulas sobre outras etapas do negócio que tivemos aqui, tipo como acertar nos fornecedores. Uma experiência única – diz
Julia Sampaio.

Na arara, os modelos exibiam camisetas, batas e golas V com trechos como “Tempo rei, transformai as velhas formas do viver” ou “Com que roupa eu vou para o samba que você me convidou?”, “Mel , quero mel de toda a flor”, entre outras.

O clima era de cachorro quente, gargalhadas e muita vontade de vender e crescer. Uma aula de empreendedorismo, para todos, e uma história individual de superação que não se resume à tarja preta.

Gilberto Scofield

É jornalista e, atualmente, trabalha como consultor de comunicação da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, em Brasília. Além de ser sócio-fundador da empresa Butique Comunicação e marca. Foi editor do jornal O Globo e repórter especial da sucursal de São Paulo após ter passado cinco anos como correspondente em Pequim, na China, e dois anos como correspondente em Washington, nos EUA. retornando ao Brasil em 2010. É colaborador da Globonews, comentarista da rádio CBN e autor do livro "Um brasileiro na China", publicado em 2006. Autor dos blogs "No Império – impressões de um brasileiro na capital dos EUA" e "No Oriente diário de um brasileiro na China“ (Globo Online). Ao longo de sua carreira, escreveu para o Jornal do Commercio, do Rio, Revista Exame, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo, Revista Época, IG Finance, O Globo e Globo Online.

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