Reciclar para educar

Aula nas escolas de Reggio Emilia muitas vezes são ao ar livre

Método Reggio adotado em escolas italianas após a Segunda Guerra conquista o mundo

Por Luciana Cabral-Doneda | ODS 4 • Publicada em 1 de setembro de 2016 - 08:00 • Atualizada em 1 de setembro de 2016 - 12:20

Aula nas escolas de Reggio Emilia muitas vezes são ao ar livre
Aula nas escolas de Reggio Emilia muitas vezes são ao ar livre
Aula nas escolas de Reggio Emilia muitas vezes são ao ar livre

Escolas infantis na cidade de Reggio Emilia, na Itália, se tornaram atrações turísticas. Todos os meses chegam delegações internacionais para conhecer o método Reggio de educação, em que o mais importante é aprender a respeitar o tempo do aprendizado e dar espaço para a capacidade de comunicação das crianças. Principalmente através da reciclagem de material e de ideias, expandindo o jogo criativo da escola também para a casa.

É um desafio na sociedade de consumo, somos acostumados a admirar o novo, a desejar o intocado, desperdiçamos dinheiro e energia ao não dedicarmos mais atenção ao material que está disponível e sem uso

Nas instituições dirigidas pela  Reggio Children Foundation, os pais são convidados a participar ativamente ao lado dos professores, através do projeto Remida, imaginando no material reciclável uma forma de mostrar às crianças que a transformação é a base do desenvolvimento. Duas vezes por semana o material reciclável, doado por mais de 200 empresas e instituições das cidades de Parma, Piacenza e Reggio, é  catalogado e distribuído pelos corredores das escolas.  São sobras das produções industriais que viram material didático ou objetos para uso escolar e doméstico. Dali surgem as ideias de criação e reconstrução. De 1996 a 2016 foram 810 toneladas de material doado.

Mas é preciso aprender a ver, entender a linguagem da matéria e descobrir a sua expressividade. Todos os anos a Reggio Children Fondation oferece cursos, ateliês e percursos formativos para que os cidadãos reconheçam no que era descartável não somente a utilidade, mas a beleza. “É um desafio na sociedade de consumo, somos acostumados a admirar o novo, a desejar o intocado, desperdiçamos dinheiro e energia ao não dedicarmos mais atenção ao material que está disponível e sem uso”, explica Laura Pedroni, uma das organizadoras do projeto Remida.

Para festejar o sucesso do Método Reggio todo mês de maio a prefeitura e a fundação organizam o Remida Day, um dia dedicado a renovar os espaços públicos com intervenções artísticas realizadas com material reciclado. Sempre com temáticas ecológicas e incentivo ao cuidado com o meio ambiente. O projeto “Bicitante”, por exemplo, propôs repensar o valor e o uso da bicicleta e se transformou em uma exposição permanente na passagem de nível da estação de trens de Reggio Emilia.

Gosto muito do método, mas me incomoda as visitas dos estrangeiros, tira a liberdade das crianças

Reconhecido como um dos 10 melhores métodos educativos do mundo pela revista Newsweek, o método Reggio é adotado em escolas de diversos países, inclusive o Brasil, e foi criado por Loris Malaguzzi logo após a Segunda Guerra Mundial. Pais e professores se uniram para construir a primeira escola com o dinheiro arrecadado da venda de um tanque, três caminhões e seis cavalos abandonados pelos soldados alemães em fuga no fim da guerra. As crianças que vinham da experiência da destruição aprendem a serem construtores, os próprios interesses são estimulados pelos adultos, educadores dispostos a servir de guia na descoberta de si mesmo e do mundo através da relação com os outros. “E respeito pela linguagem da criança, um comunicador em potencial, capaz de se exprimir em 100 linguagens diferentes, como acreditava Malaguzzi. Acreditamos na pesquisa como um projeto existencial para dar conta desse momento de rupturas em que vivemos”, afirma a pedagoga Carla Rinaldi.

E o melhor lugar do mundo para se exprimir sempre foi a “praça”, o local de encontro, de troca, de conhecimento. Por isso nas escolas infantis italianas do método Reggio as crianças de várias idades se encontram sempre na “praça”, um espaço comum dentro da escola, onde falam, correm, se surpreendem, gritam, choram, empurram, se jogam, inventam, se calam, observam. As diversas linguagens da infância têm espaço livre para acontecer. “Gosto muito do método, mas me incomoda as visitas dos estrangeiros, tira a liberdade das crianças”, observa Valentina Prodomo, mãe de um aluno, mostrando o lado negativo do sucesso do projeto.

 

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