Bora estudar melhor?

Sociedade dos Poetas Mortos: filme mostra cumplicidade entre professor e alunos

A verdadeira revolução começa na sala de aula e dentro do próprio quarto

Por Eduardo Valladares | ArtigoODS 4 • Publicada em 5 de julho de 2017 - 17:00 • Atualizada em 5 de julho de 2017 - 21:50

Sociedade dos Poetas Mortos: filme mostra cumplicidade entre professor e alunos
A mudança começa na sala de aula e dentro do quarto (Foto do Instagram de Julia Muniz – @estudaju)

“É fácil levar a égua até o meio do ribeirão. O difícil é convencê-la a beber a água…”. De fato: se a égua não estiver com sede, ela não beberá água por mais que o seu dono a obrigue. Mas, se estiver com sede, ela, por vontade própria, tomará a iniciativa de ir até o ribeirão. Aplicado à educação: “É fácil obrigar o aluno a ir à escola. O difícil é convencê-lo a aprender aquilo que ele não quer aprender”. O texto é de Rubem Alves e abre uma reflexão a respeito de as escolas terem tirado a criatividade das crianças e, consequentemente, dos professores também.

“Você precisa que o paciente esteja disposto a tomar o remédio”

Timothy Ferris, escritor e palestrante americano, referência mundial em produtividade, defende a máxima de que não adianta você desenvolver estratégias eficazes para incentivar alguém a aprender algo se a pessoa, de fato, não quer. Repito: ninguém faz algo com vontade se não quiser fazer.

Explico mais! Sou professor. Há mais de 17 anos decidi embarcar no mundo da educação. Não me arrependo. Colhi e ainda tenho acumulado experiências muito ricas nessa área. Melhor escolha não poderia ter feito. E, por conta disso, posso afirmar que a educação não funciona se não for prazerosa. O nosso modelo de ensino está atrasado, velho e burocrático. Seguimos ainda no mesmo modelo da década de 70. Repetição, repetição em várias séries, mas o que se absorve e se desperta? Ok. Até aqui, nenhuma novidade, concorda? Não se ensina a gostar de estudar, nem a entender sua importância. E mais que isso: não existe um projeto em torno do processo de aprendizagem.

Partindo-se do princípio de que educação, em seu sentido mais profundo, significa “tornar-se elevado”, como conseguimos justificar que as escolas têm seguido essa definição quando ainda não conseguiram se adaptar àquilo que as crianças, adolescentes e jovens querem, precisam, desejam e sonham em ter numa escola? Tudo mudou no mundo: novos modelos em todos os âmbitos – relações interpessoais, formas de comunicação, sistemas de trabalho, visões de empreendedorismo. Mas faltou abordar e discutir isso na escola.

Só uma pequena mudança: como ensinar autonomia aos estudantes?

A autonomia é a grande referência para essa mudança de atitude. A chave num sistema em que o professor não pode ser visto como um guru, mas como um facilitador. É isso: o epicentro dessa mudança deve ser o relacionamento professor/aluno. Um laço de cumplicidade entre o educando e o educador, para que se desenvolvam sentimentos de igualdade, fraternidade e respeito, como garante o pilar educacional da Unesco “aprender a viver juntos”, estabelecido em 1999. O processo de despertar pode acontecer com empatia, coragem e vulnerabilidade. A tríade que reinventa a educação.

Nesse sentido, cada vez mais, é preciso acreditar no significado da palavra empoderamento. Voltando ao conceito de educação, o ponto principal aqui não é o de transferir responsabilidade. Pelo contrário. Mas assumir que o professor é um treinador, um facilitador de conteúdos e ensinamentos. Porém, nada deve substituir a troca, a colaboração, o engajamento. Quando o aprendizado é simples, fácil e divertido, o aluno não só entende como se apaixona pelo estudo e pelo conteúdo. Ele aprende a aprender e não apenas a fazer um teste. Para aprender a conhecer e para querer usar esse aprendizado, é preciso aprender a gostar de conhecer. Continuo sendo um apaixonado e defensor do que esse tripé valioso pode fazer na vida não só dos estudantes, mas de qualquer pessoa.

Três palavras que reinventam a educação (Foto de arquivo pessoal)

Empatia – Colocar-se no lugar do outro por meio da imaginação, compreendendo seus sentimentos e perspectivas para guiar suas próprias ações.

Coragem – Agir com o coração. Reconhecer que o medo faz parte do processo.

Vulnerabilidade – É um compromisso, uma escolha em assumir riscos e se envolver, se entregar por inteiro.

Guia do estudo perfeito (Foto do Instagram da aluna Rayane – @studyidiom)

Dessa forma, dar autonomia e liberdade ao aluno seria mudar o modelo de ensino, torná-lo mais participativo. Implementar de vez o growth mindset – o aprendizado com a valorização dos erros. Em toda minha atividade, sempre defendi um modelo de aula em que o professor passa determinados conceitos, mas o aluno sempre tem o que chamamos de escuta ativa e de participação colaborativa. E isso só fundamenta o que penso hoje: a educação deve ser uma abertura para novas possibilidades, em que o aluno é o responsável por essa construção. Aos poucos, estamos construindo uma (nova) estrutura de competências necessárias para o estudante do século XXI. Eis algumas habilidades fundamentais:

Método e processo de aprendizagem: ter disciplina, criação de rotina, planejamento de tarefas;

Aprendizado colaborativo: estudantes contribuem com cada colega e o professor se transforma num facilitador do processo de aprendizagem, mas não o tempo inteiro. Isso aumenta o encorajamento e a interação.

Formação de estudantes-líderes: estímulo ao desenvolvimento de embaixadores. Responsabilidade, participação, inspiração, ensinamentos são divididos entre os membros de um grupo com a mesma finalidade.

Modelos de autoavaliação e análise de performance: entender que estudar apenas lendo e fazendo anotações não basta. Assimilar que a vida de estudante é que nem a de um atleta. Treino, estratégia, performance e resultado – são as palavras que contribuem para o mindset de um estudante profissional.

Diciplina e planejamento (Foto do Instagram da aluna Allana Beatriz – @vempramimedicina)

O que você gostaria de ter aprendido na escola?

Se você parar para pensar um pouquinho só: quais são as principais recordações que você traz da escola? Lembrou? Não tão fácil, não é? E se você inverter e pensar agora: o que você gostaria que ela o tivesse ensinado? Fiz essa pergunta em meu Twitter e recolhi algumas impressões:

> Como aprendo sozinho?

> Como posso ser mais confiante em mim mesmo?

> Como posso ser mais corajoso na hora de fazer uma prova?

> Como organizo meus estudos e aumento meu rendimento nas provas?

> Como aprendo a ganhar dinheiro e a gastar menos?

> Como lido com a ansiedade?

> Como faço para abrir uma empresa?

> Como tenho mais foco e concentração?

> Como aprendo a ser mais produtivo e a procrastinar menos?

Estou convicto de que estamos no caminho de uma nova escola. Mais que necessário.

Eduardo Valladares

Entusiasta da aprendizagem. Palestrante. Autor. Professor de Redação e Linguagens. Treinador de jovens e adultos. Lidera um trabalho ligado aos valores da autonomia, criatividade, colaboração e confiança com a missão de preparar o aluno a ser um indivíduo mais completo. Coordena um movimento com comunidades sociais na internet - grandes grupos de estudos - e é treinador de jovens e adultos no que diz respeito à técnicas de aprendizagem, habilidades comportamentais e estratégias de prova. Sua maior missão é levantar a auto-estima, a curiosidade, o conhecimento e o entusiasmo dos alunos em todo o Brasil. Quer saber mais sobre o Valladares? Só segui-lo nas redes sociais: @eduvlld

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Um comentário em “Bora estudar melhor?

  1. Bianca Milano disse:

    Grande Vallad! Sou sua aluna no descomplica e grande admiradora do seu trabalho! Fico feliz em ver o GEP ganhando destaque em todos os âmbitos! Abraço e sucesso!! #BoraEstudarMelhor

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