Mariana: no limite da insegurança

A tragédia de Mariana: pessoas negras muito mais atingidas. Foto de Doug Patrocio/ Brazil Photo Press/ AFP

Hidrelétrica Risoleta Neves só aguenta mais um metro de lama de rejeito

Por Liana Melo | ODS 11ODS 15ODS 6 • Publicada em 25 de outubro de 2016 - 09:00 • Atualizada em 4 de julho de 2019 - 19:52

A tragédia de Mariana: pessoas negras muito mais atingidas. Foto de Doug Patrocio/ Brazil Photo Press/ AFP
Barragem de Fundao. Foto de Doug Patrocio/ Brazil Photo Press/ AFP
Rompimento da barragem de Fundão completa um ano em 5 de novembro. Foto de Doug Patrocio/ Brazil Photo Press/ AFP

É consenso que o início do período chuvoso vai provocar um deslocamento dos rejeitos de minérios provenientes do rompimento da barragem da Samarco, conhecida como Fundão. Com base no laudo divulgado ontem pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a presidente do órgão, Suely Araújo, não descarta o risco de rompimento da estrutura de Candonga, a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, construída para gerar energia, mas que, à época do acidente, serviu como barreira para deter o tsunami de lama.

“Não afirmamos que a chance de rompimento é zero”, alertou Suely, admitindo que, à medida que as obras de contenção e projetos de recuperação e intervenção nos cursos d´água começaram a ser feitos, o risco diminuiu, mas ele ainda existe. O Ibama vem monitorando a estrutura desde março último e solicitou ao Consórcio Candonga informações adicionais sobre a estrutura da hidrelétrica. “A informação é que as estruturas estão preservadas e íntegras”, disse Marcelo Belisário, superintendente do Ibama em Minas Gerais.

Eu quero deixar claro que a gestão de um evento deste tamanho, de um desastre deste porte, ela não tem precedentes. Então, na verdade, as dificuldades que a empresa está enfrentando, que agora a fundação e os órgãos que estão acompanhando isso estão enfrentando, têm a ver também com o aprendizado de como lidar com um evento deste porte. Você não tem experiências nem no plano internacional

Desde o acidente, em 5 de novembro de 2015, os rejeitos vêm se acumulando de maneira contínua e, de março até agora, já subiram 6,4 metros de altura. A cota de rejeito acumulada na usina pulou de 306 para 312,4. Ao questionar o Consórcio Candonga sobre o nível máximo que a hidrelétrica aguenta, ouviu que os rejeitos podem subir mais um metro de altura e nenhum centímetro a mais.

Como praticamente todas as obras da Samarco atrasaram, os técnicos do Ibama estão em sinal de alerta com a proximidade do início do período chuvoso. Dos 77 pontos vistoriados pelos técnicos do Ibama envolvidos na Operação Áugio, 92% não tinham obras em andamento. A empresa, por sua vez, informou, através de nota, que já recuperou 830 hectares de vegetação, além da limpeza de afluentes e manutenção de áreas de risco.

Ainda conforme o relatório, a Samarco cumpriu apenas 5% das recomendações feitas pelo Ibama. Segundo o órgão, 55% não foram atendidas e 40% foram parcialmente atendidas. O levantamento aponta também erosão em 92% dos 77 pontos verificados. Até o fim das vistorias, de acordo com o Ibama, 473 mil metros cúbicos da Usina de Candonga haviam sido dragados.

“Eu quero deixar claro que a gestão de um evento deste tamanho, de um desastre deste porte, ela não tem precedentes. Então, na verdade, as dificuldades que a empresa está enfrentando, que agora a fundação e os órgãos que estão acompanhando isso estão enfrentando, têm a ver também com o aprendizado de como lidar com um evento deste porte. Você não tem experiências nem no plano internacional”, comentou Suely.

Das 50 multas impetradas contra a Samarco, em Mariana, Minas Gerais, nenhuma foi paga até agora. Às vésperas do primeiro ano da maior tragédia ambiental do Brasil e a mais relevante do mundo envolvendo rejeitos minerais, apenas um dos autos de infração, no valor de R$ 112 milhões, deverá ser pago logo que sair a sentença, porque a empresa não tem mais como recorrer.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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