Quando ler (literalmente) faz bem

Editora e loja on-line, que fazem sucesso com livros e revistas, doam parte do lucro

Por Carla Lencastre | ODS 17ODS 9 • Publicada em 18 de abril de 2016 - 09:00 • Atualizada em 18 de abril de 2016 - 11:30

 

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Cinquenta histórias entre divertidas, esquisitas e inusitadas, mas quase sempre inspiradoras para arrumar a mala ou a mochila e ir a lugares como Guarapari ou Sri Lanka, recheiam o livro “Eu amo viajar”. Sugestões bem-humoradas de como lidar com seu amigo enochato e escolher o rótulo certo para presenteá-lo estão no saboroso guia “Mundo do vinho”. E comprando um ou outro você ainda pode ajudar uma comunidade de artesãos no Piauí a fazer do seu trabalho um objeto de design e uma atração turística. Ou incentivar jovens de Rio, São Paulo e Salvador a transformar comida em modo de vida.
O livro e o guia fazem parte do catálogo da Editora Mol, de São Paulo, especializada em publicações com um objetivo social. Ano passado, para melhor distribuir o conteúdo produzido desde 2008, a editora criou a Banca do Bem, uma banca virtual de revistas, livros e guias que existem apenas em versão impressa. Uma parte do valor arrecadado com as vendas vai sempre para alguma causa social. Desde 2008, segundo a editora, já foram doados mais de R$ 15,5 milhões para mais 30 ONGs de diferentes áreas de atuação. Hoje são nove títulos próprios, entre eles as revistas “Sorria” e “Todos”, vendidas nas redes de farmácias Droga Raia e Drogasil, respectivamente. No site você escolhe o que vai comprar pelo tema de interesse ou pela instituição com a qual quer colaborar.

“Para sobreviver ao século 21, acreditamos que uma banca não pode ser mais só uma banca, assim como uma revista não pode ser apenas uma revista. Nossos produtos da Banca do Bem são também uma forma de realizar microdoações para causas que você apoia”, diz Roberta Faria, editora executiva da Mol, que na Banca do Bem vende apenas publicações próprias.

Todos nossos produtos dão lucro também, porque somos um negócio. De impacto social, mas, ainda assim, um negócio, e não uma ONG

Entre os livros, os best-sellers são os títulos “Eu amo viajar” e “Eu amo correr”, cada um com 50 histórias repletas de fotos. Lançados há dois anos, eles custam R$ 34 (dos quais R$ 3 são doados), e também podem ser encontrados em lojas físicas, como as das livrarias da Travessa e Cultura, entre outras.O próximo, “Eu amo comida”, deve ser lançado ainda este ano.

“Temos patrocínio para produzir os livros e doamos 9% do preço de capa. Os projetos editoriais também dialogam com os interesses do público dos nossos parceiros que vendem ou patrocinam as publicações”, ressalta Roberta. “Por exemplo, a revista ‘O que tem pra jantar?’, que pode ser comprada na rede de supermercados St Marche, em São Paulo, é de receitas”.

A série de livros “Eu amo” vendeu cerca de cinco mil exemplares em dois anos. No caso do “Eu amo viajar”, as doações (R$ 3) de cada exemplar vão para a Garupa e o Icei Brasil. O Instituto de Cooperação Econômica Internacional (Icei), que atua no Brasil desde 2003, desenvolve o ecoturismo no Amazonas e promove o turismo sustentável e a cultura local em Pernambuco. Criada em 2012, a Garupa também incentiva o turismo sustentável, e financia seus projetos através do site Catarse. Já arrecadou quase R$ 200 mil e tem projetos bem-sucedidos em vários estados brasileiros. O mais recente, em janeiro deste ano, foi uma expedição por Várzea Queimada, comunidade de artesãos que trabalham com palha de carnaúba e borracha de pneu de caminhão na Chapada do Araripe, Piauí.

“Um novo site está em fase de teste para lançamento nos próximos dias. Será uma plataforma de referência e divulgação de destinos brasileiros, o Guia Garupa do Brasil Autêntico”, diz Mônica Barroso, diretora executiva da Garupa. “Com a recente doação da Editora Mol financiaremos um vídeo institucional do novo momento da Garupa”.

Os preços dos produtos variam. Enquanto os livros saem por R$ 34, um guia ilustrado sobre chocolate ou vinho, que funciona também como uma coleção de pôsteres temáticos coloridos (as páginas são destacáveis), custa R$ 6, dos quais R$ 1 vai para o Banco de Alimentos, que evita o desperdício de alimentos, e o Gastromotiva, que capacita jovens em gastronomia e já tem mil profissionais formados, dos quais 70% empregados em restaurantes de Rio e São Paulo. Os R$ 5 restantes cobrem o custo de produção e os impostos. Os guias ilustrados fazem parte da coleção de revistas “O que tem pra jantar?”. Cada revista trimestral de 32 páginas, com fotos em cores, custa R$ 4,90, e R$ 1 também vai para o Banco de Alimentos e o Gastromotiva.

“Todos nossos produtos dão lucro também, porque somos um negócio. De impacto social, mas, ainda assim, um negócio, e não uma ONG”, diz Roberta. “Como nossas tiragens costumam ser bem grandes, a soma de todas as publicações vendidas gera um grande volume de doações, mesmo com o preço de capa baixo e descontando custos e impostos.”

Como são as publicações

O #Colabora comprou um livro e um guia, e ajudou quatro instituições. O livro “Eu amo viajar” começa com um lindo índice em um mapa-múndi colorido. Mapa-múndi, como se sabe, funciona como imã para quem ama viajar. Mas antes de embarcar nos textos e fotos, há dicas de como fazer a mala. Quer que desenhe? As dicas são acompanhadas de ilustrações.

A maioria das histórias se passa na América do Sul e na Europa, mas há também relatos de aventuras nas outras duas Américas, na África, na Ásia e na Oceania. Há quem viaje para correr, comprar, comer; em busca de praias, festas ou jogos de futebol; a cavalo, de moto e até de avião. E há também quem vá para onde ninguém vai, como o Afeganistão. Este foi um dos muitos destinos incomuns já visitados pelo jornalista André Fran e o economista Felipe Ufo, criadores e apresentadores dos programas de televisão “Não conta lá em casa”, exibido pelo Multishow, e “Que mundo é esse?”, na GloboNews. Ver a linda foto de um dos lagos do parque Band-e Amir, que ilustra o relato, dá quase vontade de ir para o Afeganistão.

“Mundo do vinho” começa com um divertido perfil dos diferentes apreciadores de vinho. Em seguida o guia apresenta, de maneira simplificada, o processo de fabricação, as características básicas de cada tipo de uva, os espumantes, as uvas que simbolizam os grandes países produtores do velho e do novo mundo. Gráficos bem-humorados tentam ajudar a escolher a bebida certa para cada ocasião e dar dicas de harmonização e degustação.

Outra página divertida do “Mundo do vinho” tenta associar gostos culturais e esportivos a tipos diferentes de vinho. Chorou assistindo a “Titanic”, sabe todas as letras das canções do Abba e vibra com salto ornamental mesmo sem conhecer as regras? Seu vinho é um chardonnay. Prefere os filmes do Clint Eastwood e as músicas dos Beatles e seu esporte é futebol? Harmonize com um cabernet sauvignon. O recém-lançado guia do chocolate segue a mesma receita: história, processo de produção, dicas de degustação, sempre com desenhos e gráficos que valorizam o bom humor. Afinal, humor é fundamental para tudo na vida, inclusive para fazer o bem.

Carla Lencastre

Jornalista formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalhou por mais de 25 anos na redação do jornal O Globo nas áreas de Comportamento, Cultura, Educação e Turismo. Editou a revista e o site Boa Viagem O Globo por mais de uma década. Anda pelo Brasil e pelo mundo em busca de boas histórias desde sempre. Especializada em Turismo, tem vários prêmios no setor e é colunista do portal Panrotas. Desde 2015 escreve como freelance para diversas publicações, entre elas o #Colabora e O Globo. É carioca e gosta de dias nublados. Ama viajar. Está no Instagram em @CarlaLencastre 

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