A experiência literária

O jovem Pedro Henrique Teixeira e a sua maior paixão: os livros

Funcionário público incentiva a leitura espalhando pelas ruas livros com dedicatórias

Por Paula Autran e Reneé Rocha | ODS 9 • Publicada em 14 de abril de 2017 - 20:07 • Atualizada em 15 de abril de 2017 - 13:35

O jovem Pedro Henrique Teixeira e a sua maior paixão: os livros
O jovem Pedro Henrique Teixeira e a sua maior paixão: os livros
O jovem Pedro Henrique Teixeira e a sua maior paixão: os livros

Bacharel em direito, carioca de 29 anos “abandona” livros nos quatro cantos da cidade – com dedicatória e tudo – para serem encontrados e lidos por outras pessoas. A história, inspirada na ideia de uma atriz inglesa, dava um livro. Ou um filme. Tem até título: “A experiência literária”. E já deu uma página no Facebook e um perfil no Instagram, além de fazer a alegria de mais de trinta leitores. Até agora.

Sempre fui viciado em livros. Tinha o sonho de ser escritor. E lá em casa já não tem mais espaço. Meu pai sugeriu que eu vendesse alguns. Mas livro não é para vender, e sim para dar. Então, veio a ideia de deixar os livros por aí, para serem encontrados e lidos

“Li uma reportagem sobre a Emma Watson, que abandonava livros no metrô para que outras pessoas lessem”, conta o protagonista desta história, Pedro Henrique Teixeira Gomes, que trabalha na Defensoria Pública. Em resumo, a atriz e embaixadora da boa vontade da agência ONU Mulheres decidiu criar uma espécie de clube do livro com os seguidores dela no Twitter. Chamado Our Shared Shelf, o clube propõe a leitura de clássicos feministas e publicações contemporâneas, e contou com a ajuda do projeto Books on the Underground (“Underground” é como o metrô é chamado em Londres), cuja ideia é encorajar pessoas a lerem e compartilharem livros no transporte público da cidade.

"Em busca do borogodó perdido", no CCBB. Foto divulgação
“Em busca do borogodó perdido”, no CCBB. Foto: divulgação

No total, segundo o site Buzzfeed, foram cem livros espalhados por Emma com dedicatórias especiais que ela mesma escreveu. Era a inspiração de que Pedro precisava: “Sempre fui viciado em livros. Tinha o sonho de ser escritor. E lá em casa já não tem mais espaço. Levei alguns para a casa do meu pai, mas a prateleira de lá envergou por causa do peso. Então ele sugeriu que eu vendesse alguns para um sebo. Mas livro não é para vender, e sim para dar. Só que aqui as pessoas não leem no metrô. Então veio a ideia de deixar os livros por ai, para serem encontrados e lidos”.

A lista de livros “abandonados” por Pedro é muito eclética: infantis, infanto-juvenis, romances, clássicos… Vai de Agatha Christie a Virgílio, passando por Thalita Rebouças, Virginia Woolf, Luigi Pirandello e Marcelo Rubens Paiva. “Aqui em casa, todos os livros são meus, ainda que não sejam”, diz ele, que mora com a mãe e o irmão. “Li 90% do que já abandonei. Mas tem uns livros dos quais não consigo me desfazer. Os da Lygia Fagundes Telles, da Raquel de Queiroz…Também aceito doações. Uma amiga me deu alguns para deixar por aí. Entre eles estava “Crime e Castigo”, do Dostoiévski. Eu já tenho este livro, mas é um crime abandoná-lo!”, brinca Pedro, que nunca esquece a dedicatória. “Não posso deixar sem nada escrito, porque a pessoa tem que saber que aquilo me doeu o coração. Eu escrevo sobre a experiência literária em todos (“Este livro faz parte da experiência literária”). A ideia é incentivar essa corrente do bem. O recado traz o leitor para você”.

"Fala sério, professor", na Floresta da Tijuca. Foto divulgação
“Fala sério, professor”, na Floresta da Tijuca. Foto: divulgação

No começo, no fim de 2016, Pedro espalhava os livros pelo Centro do Rio, perto do seu local de trabalho. “A Casa de Carlyle e outros esboços”, de Virginia Woolf, por exemplo, foi deixado no Shopping Vertical. Já “Em busca do borogodó perdido”, de Joaquim Ferreira dos Santos, ficou no CCBB. “Como não quero repetir os lugares, passei a levar um comigo para todo lugar a que vou. Fui ver uma tia na Lagoa, deixei um lá. Fui ao Andaraí, levei outro. Minha mãe, que trabalha no campus da Praia Vermelha da UFRJ, deixou um no Rio Sul. Meu irmão, que estuda no Fundão, também levou um para lá”, enumera ele.

Agora, Pedro começa a ampliar os horizontes. Recentemente, foi a Conservatória e deixou “A Última Música”, de Nicholas Sparks, na Travessa Professora Geralda Fonseca, no centro da cidade. O recado escrito nele tinha tudo a ver com a fama musical do município: “Futuro leitor, letras de músicas podem ser consideradas literatura? O Nobel de Literatura fornecido a Bob Dylan reacendeu essa discussão infindável. De fato, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Milton Nascimento, Chico Buarque, Gilberto Gil e outros provaram que a música pode ser também poesia. Da mesma forma, incontáveis livros já retrataram o mundo da música, seja em biografias, romances ou obras de não-ficção. Este romance, por exemplo, tem como um dos personagens principais um ex-pianista. Como se vê, a literatura e a música podem se entrelaçar, e quem ganha com isso é o público. Boa leitura! Pedro”

"O marido perfeito mora ao lado", na Marina da Glória. Foto divulgação
“O marido perfeito mora ao lado”, na Marina da Glória. Foto: divulgação

“Nas dedicatórias, sempre tento fazer um paralelo entre o livro e o lugar onde ele vai ser deixado”, explica. E, aos poucos, os retornos começam a chegar. A escritora Thalita Rebouças ficou tão emocionada ao saber que seu “Fala sério, professor” fora deixado na Floresta da Tijuca durante o carnaval que gravou um vídeo emocionado para Pedro. “Quando você pega um livro que já leu e abandona num lugar para o livro escolher a pessoa que vai lê-lo, acho que está espalhando amor. E esse amor é mil vezes maior do que quando você compra um livro de presente. Porque é um livro que já tem uma história com você. Eu acho que o que mais me tocou foi a dedicatória para a pessoa que ia pegar o livro. Espalhar livro é espalhar amor, e isso vai ter sempre o meu total apoio”, diz ela. Já Anna Carolina Paixão, que encontrou “A fera em mim”, de Serena Valentino, no interior de um ônibus da linha 217 (Andaraí/Carioca), escreveu na página do Facebook da Experiência literária, no dia 20 de março: “Estou amando o livro. Parabéns pelo projeto!!”

Por essas e por outras, Pedro nem pensa em colocar um ponto final nesta história.

Paula Autran e Reneé Rocha

Paula Autran e Reneé Rocha se completam. No trabalho e na vida. Juntos, têm umas quatro décadas de jornalismo. Ela, no texto, trabalhou no Globo por 17 anos, depois de passar por Jornal do Brasil, O Dia e Revista Veja, sempre cobrindo a cidade do Rio. Ele, nas imagens (paradas ou em movimento), há 20 anos bate ponto no Globo. O melhor desta parceria nasceu no mesmo dia que o #Colabora: 3 de novembro de 2015. Chama-se Pedro, e veio fazer par com a irmã, Maria.

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3 comentários “A experiência literária

  1. Laura Moraes disse:

    Pedro, que o seu projeto continue tocando vidas de diferentes formas… a literatura pode mudar a vida de uma pessoa, e, consequentemente, de uma comunidade, um bairro, uma cidade, um estado, e temos esperança que de um país também!

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