A vez do disruptivo ‘Maxi Uber’

Afinal uma novidade nas ruas brasileiras: o Uber Maxi Pool (Foto Cris Faga/NurPhoto)

O dia em que o designer mais incrível do Jardim Botânico descobriu um novo meio de transporte

Por Leo Aversa | Mobilidade UrbanaODS 12ODS 16 • Publicada em 4 de janeiro de 2017 - 11:05 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 22:55

Afinal uma novidade nas ruas brasileiras: o Uber Maxi Pool (Foto Cris Faga/NurPhoto)
Enfim uma novidade nas ruas brasileiras: o Uber Maxi Pool (Photo by Cris Faga/NurPhoto)
Enfim uma novidade nas ruas brasileiras: o Uber Maxi Pool (Foto Cris Faga/NurPhoto)

Para onde? Pergunta o app do Uber. Leblon, escreve Guilherme Augusto Castro Maia, Billy Castro, o designer mais genial de todo o Jardim Botânico. O aplicativo mostra um valor absurdo. É o maldito preço dinâmico, se conforma Billy. Duas vezes? Três vezes? Como saber, o espertalhão não avisa mais. E o Uber black? Dá um preço próximo ao do X. O que fazer? É capaz dessa equação mudar até o carro chegar. São muitas contas, demais, sou de humanas, pensa atordoado.

E se eu for no, com perdão da palavra, meu carro?  A reunião é perto do baixo Leblon mas é mais fácil ganhar na mega-sena do que achar vaga naquele lugar. Tem um estacionamento ali na Dias Ferreira, aquele do Caetano, mas estacionamento no Leblon é coisa pra banqueiro, não para designer, mesmo o designer sendo eu, Billy Castro.

De repente para um veículo que nunca havia visto antes. Parece uma mistura de caminhão com van. Será um Uber gigante? Como nunca reparei nisso? Preciso ver mais sites e revistas nacionais. Todas as pessoas entram. Já sei! É o Maxi Uber Pool! Li algo sobre isso em San Francisco

O táxi 99 com desconto de 30%. Salvação! Opa, não tem nenhum por perto. Estranho, sempre que o Uber entra em preço dinâmico o 99 com desconto desaparece. Alguém tem que investigar isso. Vou falar com meus amigos jornalistas. O problema é que sempre que ligo me pedem dinheiro emprestado. Melhor deixar pra lá.

Cabify. Esse sim resolve! Novo, moderno. Vamos ver…tem um! Que está em….Madureira. Chega em duas horas e meia. Hummm… acho que o pessoal da reunião não vai achar isso muito engraçado. Tem a bicicleta elétrica mas a minha está com a bateria descarregada. Teria que ir pedalando…o suor vai estragar meu visual do Brooklyn. Nem pensar.

Billy tem um acesso de fúria: Maldito país atrasado! Não tem transporte público! Terceiro mundo horroroso! Devia ter ficado em Berlim, em Londres!

Eis que ele vê um agrupamento de pessoas na rua.

O que elas estão fazendo ali? Será que também estão esperando baixar o dinâmico do Uber? Vou me juntar a eles, todo artista tem que ir onde o povo está.

De repente para um veículo que nunca havia visto antes. Parece uma mistura de caminhão com van. Será um Uber gigante? Como nunca reparei nisso? Preciso ver mais sites e revistas nacionais. Todas as pessoas entram. Já sei! É o Maxi Uber Pool! Li algo sobre isso em San Francisco, parece que estavam testando por lá. Ainda bem que sou antenado. Que rápido a novidade chegou neste balneário decadente. O mundo tá mudando.Não posso me atrasar, vou com a galera.

Escaldado pelo Uber X, Billy pergunta ao motorista se ele sabe o caminho ou precisa de ajuda. O sujeito olha desconfiado. Deve ser um daqueles motoristas novos, que estão dirigindo por conta da crise. Só por isso não vou tirar estrelas dele. Insolente. Nem imagina com quem está falando.

O Maxi Uber tem um motorista auxiliar, que faz a cobrança. O problema é que exigem pagamento na hora. Que coisa antiga. Tento o cartão de crédito e ele ri na minha cara. Outro insolente. Três estrelas pra esse, sem perdão. Sento junto com os outros passageiros do pool. Tem uns trinta ou quarenta, o Uber é realmente revolucionário, aumentaram o pool otimizando os custos. Gênios, vou anotar a ideia na minha Moleskine. Quero ver esses taxistas medievais detonarem esta ideia. O nome é que tem que mudar, a marca é “troncal”, é o que está escrito na frente. Péssimo branding.

Até que vamos rápido, ao menos o motorista não se atola com o Waze. Já o ar-condicionado é meio capenga e algumas pessoas estão em pé, o projeto precisa de ajustes. Chego rápido no Leblon.

Na reunião, para mostrar quem é vanguarda, digo que vim no novo tipo de Uber e explico a novidade para os caipiras. Escuto risinhos, certamente de inveja, não suportam a ideia de que estou sempre um passo a frente

Um diretor de arte metido à besta me recomenda o Uber Under, ainda mais moderno que o Maxi Pool, nem tem motorista. So cool! Diz em voz alta, tentando de maneira patética imitar meu grito de guerra. Conta que vai do Leblon à, com perdão da palavra, Barra em vinte minutos.

É o meio de transporte mais underground que existe, garante um fotógrafo. Mais risinhos. Por aqui pouca gente conhece, você entra por uma passagem secreta que tem na praça Antero de Quental

E tem app? Pergunta Billy, já sacando o seu poderoso iPhone 8

Tem, mas só para Android, respondem em coro

Maldito país atrasado! Grita Billy Castro

Os risinhos invejosos tomam conta da reunião.

Leo Aversa

Leo Aversa fotografa profissionalmente desde 1988, tendo ganho alguns prêmios e perdido vários outros. É formado em jornalismo pela ECO/UFRJ mas não faz ideia de onde guardou o diploma. Sua especialidade em fotografia é o retrato, onde pode exercer seu particular talento como domador de leões e encantador de serpentes, mas também gosta de fotografar viagens, especialmente lugares exóticos e perigosos como Somália, Coreia do Norte e Beto Carrero World. É tricolor, hipocondríaco e pai do Martín.

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Um comentário em “A vez do disruptivo ‘Maxi Uber’

  1. Wagner disse:

    “Vejo este texto chamando os taxistas de “medievais”, enaltecendo uma variação do Uber Pool, que é uma variação das Vans e das lotadas, que são invariavelmente proibidas no Rio, a não ser quando carregam a etiqueta da moda. Se for assim, pode. Se for à margem da lei, é civilizado. No final, todos gritam “Fora, Temer”. Chega a ser patético, francamente. Dou uma estrela para a redação”.

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