Vamos falar de política

Enquanto o país discute o preço dos pedalinhos , mais da metade dos brasileiros continuam sem saneamento básico. A crise reduziu os investimentos nesta área e torna mais distante a redução da desigualdade

Num país dominado pelas certezas, a difícil tarefa de estabelecer prioridades

Por Agostinho Vieira | ArtigoODS 4 • Publicada em 12 de março de 2016 - 09:00 • Atualizada em 19 de março de 2016 - 00:00

Enquanto o país discute o preço dos pedalinhos , mais da metade dos brasileiros continuam sem saneamento básico. A crise reduziu os investimentos nesta área e torna mais distante a redução da desigualdade
Enquanto o país discute o preço dos pedalinhos , metade dos brasileiros para a conta de uma vida sem saneamento básico
Enquanto o país discute o preço dos pedalinhos , metade dos brasileiros paga a conta de uma vida sem saneamento básico

Nos últimos dias, dois amigos me perguntaram por que o #Colabora não falava sobre política. Estranhei a indagação. Tratamos de política quase todos os dias. Lembrei o artigo recente do professor Eustáquio Diniz sobre empoderamento das mulheres, o do Francisco Carlos sobre desigualdade, o trabalho da Simone Marinho em relação ao preconceito, o belo texto da Flávia Oliveira destrinchando o acarajé, a nossa preocupação constante com saneamento básico, educação, saúde e mobilidade urbana. Até o humor refinado do Leo Aversa discutindo a fiscalização na pizzaria Guanabara eu citei. Tudo isso é política, com P maiúsculo, no melhor sentido da palavra.

Estamos no meio de uma guerra. E quando isso acontece, não há vencedores. Todos perdem. E a primeira a morrer, fulminada, é a razão.

Eles balançaram a cabeça, riram, mas não se deram por satisfeitos. Queriam saber sobre a outra política. Aquela de Brasília, a que divide o país entre “coxinhas” e “petralhas”, “delatores” e “delatados”, “corruptos” e “honestos”. Vale lembrar que a formação destes dois últimos grupos varia de acordo com o interlocutor. Uma hora os corruptos são os honestos e vice-versa. Não há dúvida de que o tema é importante, mas pouca gente está realmente interessada em falar ou pensar a sério sobre ele. Ouvir, ponderar, refletir, são verbos que não se conjugam mais. Vivemos no país das certezas, das paixões futebolísticas e esperamos apenas o apito do juiz para saber quem ganhou o jogo. Mesmo que ao final da prorrogação não tenhamos mais estádio ou bola para começar uma próxima partida.

Nunca se viu uma campanha eleitoral tão longa quanto esta. Ela começou em meados de 2014 e continua até hoje, sem previsão para acabar. Temos debates diários na TV, nos jornais, no Congresso, nos tribunais e, principalmente nas redes sociais. O clima funciona como gasolina no fogo da crise econômica: desemprego, recessão, redução nos investimentos…E o que torna o momento ainda mais diferente, é que ninguém sabe o que acontecerá ao final. Se é que teremos um final. A dúvida não é apenas sobre quem governará o país em 2016, 2017 ou 2019. Mas como, em que ambiente, com quais apoios. Será que alguém realmente acha que os nossos problemas estarão resolvidos com o eventual impeachment da presidente Dilma e a possível prisão do Lula?

Estamos no meio de uma guerra. E quando isso acontece, não há vencedores. Todos perdem. E a primeira a morrer, fulminada, é a razão. Não existem argumentos lógicos que justifiquem o que está acontecendo. A batalha entre petistas e tucanos levou à eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara e, junto com ela, trouxe de volta a agenda do atraso.  E foi só o que conseguimos até agora: atraso. Num país que não tinha tempo a perder. Os desvios que aconteceram na Petrobrás e no Governo, comprovados ou não, só confirmam a falência de instituições de controle como os tribunais de contas. A quem caberia alertar sobre os desmandos.

Mais uma vez, ingenuamente, o país espera que um herói resolva as suas mazelas. Foi assim com Getúlio e seu cavalo, Jânio e sua vassoura, Castelo Branco e seus soldados, Collor e sua pose, Fernando Henrique e seus diplomas e Lula e seu discurso. Agora chegou a vez de Sérgio Moro e seus japoneses. Uma nação séria não pode depender de indivíduos, por melhores que sejam ou pareçam ser. Precisamos de instituições que funcionem, cumpram suas tarefas e respeitem os seus limites constitucionais.

O país não pode parar cada vez que um político faz uma reforma em um sítio, tem um caso extraconjugal ou constrói um aeroporto na sua propriedade. Se essas coisas acontecem, precisam ser apuradas, comprovadas, os responsáveis julgados e, se condenados, punidos. Enquanto discutimos os nomes nos pedalinhos, temos 30 mil jovens sendo mortos por ano, sete milhões de brasileiros sem banheiro em casa, mulheres perdendo espaço no mercado de trabalho, a zika crescendo em todas as regiões e as nossas cidades parando por falta de mobilidade. Essas são as verdadeiras prioridades do Brasil. Uma país ainda muito pobre e desigual. Esses são os temas do #Colabora.

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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4 comentários “Vamos falar de política

  1. Maria Helena Pereira Colnaghi disse:

    Colabora e isso mesmo.
    Colaboração por parte dos brasileiros é o que falta para nossos dirigentes trabalhem em PAZ.
    Até quando vão ficar inventando titicas pra paralisar o governo?
    Governo trabalhando pra passar o BR a limpo.

  2. FOLMER Q TORRES disse:

    Acredito que quando se tem um líder político (presitenta) incompetente: afundando economicamente o país, não toma as medidas necessárias para resolver de fato os problemas, apenas superficialmente, acoberta ladrões e corruptos (Lula), crítica o MP que faz trabalho bem feito, caçando partidários do PT, libera verbas para investimentos em países socialistas, ao invés do próprio país com inúmeras necessidades.
    Desculpe, mas não acredito que não devemos falar sobre isso ou dizer que esse assunto é secundário. Esse assunto determinará a direção de todos os outro que o senhor Agostinho Vieira mencionou. Determinará minha vida e de todos os brasileiros. Me responda, como é um assunto é secundário?

  3. aparecido de brito disse:

    E A POLITICA E UM VAI E VEM DANODO DESTE A REILEIÇÃO DE DIMA OS CORONEIS NÃO ACEITARAM A DERROTA. ELEJERAM UM PRESIDENTE PARA O CONGRESSO DOIS ANOS DE ATRASO TUDO CONTRA O POVO OS PLANOS DE GOVERNO QUE PLANOS QUEREM O PODER. ESTÃO HOJE NO PODER SÃO COMO CRIANÇA MIMADOS
    BIRRENTA NÃO PODE TIRAR O BRINQUEDO UM BRINQUEDO CHAMADO BRASIL

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