Gentileza gera riqueza

Campanha pela tolerância e gentileza em Nova Iorque. Foto de Troy Lambert/ Citizenside/ AFP

A influência do bem-estar da sociedade na superação de crises econômicas, como a que vive o Brasil

Por Suzana Kahn | Artigo • Publicada em 10 de março de 2017 - 09:00 • Atualizada em 10 de março de 2017 - 12:38

Campanha pela tolerância e gentileza em Nova Iorque. Foto de Troy Lambert/ Citizenside/ AFP
Campanha pela tolerância e gentileza em Nova Iorque. Foto de Troy Lambert/ Citizenside/ AFP
Campanha pela tolerância e gentileza em Nova Iorque. Foto de Troy Lambert/ Citizenside/ AFP

A crise econômica em que o Brasil e o estado do Rio de Janeiro se encontram fez com que o comportamento com o consumidor fosse levemente alterado positivamente. Apenas com base na minha observação, percebo que muitos dos prestadores de serviço, exceto serviço público, qualificados ou não, se tornaram mais gentis, o que me fez concluir, empiricamente, que crise gera gentileza. Inicialmente pode-se supor que este novo padrão mais gentil seja apenas uma estratégia de conquistar o consumidor cada vez mais escasso e mais receoso de desembolsar seus recursos minguantes. Porém, além desta conclusão óbvia pode-se também inferir que, ao praticar a gentileza, passemos a torná-la um hábito incorporado à nossa cultura, criando uma sociedade mais amigável e gerando mais bem-estar.

O bem-estar é a causa e não o sintoma do crescimento econômico

Alguns autores demonstram com estatísticas e regressões matemáticas que o bem-estar da sociedade influencia no crescimento econômico através da variação do nível de investimento, poupança e aumento de expectativa de vida. Neste caso, o bem-estar é a causa e não o sintoma do crescimento econômico. Um nível mais elevado de satisfação faz com que as faltas ao trabalho sejam menores e melhore a produtividade e desempenho. Os custos com saúde diminuem, solidariedade e respeito ao bem comum aumentam, gerando uma maior riqueza material para a comunidade.

Um grau mais alto de confiança na sociedade em que se vive reduz os “custos de transação”, desta sociedade, que passa a poder ter menores gastos com fiscalização, burocracia, corrupção, litígios, contratos e regulações.

Satisfação pessoal

Este reconhecimento da importância do bem-estar para o desenvolvimento faz com que o modelo econômico tradicional vigente seja ampliado para incorporar questões como economia ambiental, onde se internaliza os custos dos danos causados ao ambiente e à sociedade e economia comportamental, onde se busca entender o comportamento humano e suas preferências e atitudes como consumidor na busca de maior satisfação pessoal.

Na década de 80, Celso Furtado já apontava esta direção da economia quando argumentava que o processo de desenvolvimento não diz respeito apenas a um maior nível de renda, mas à complexidade das necessidades de cada conjunto social. O ganhador do prêmio Nobel de economia Amartya Sem já enxergava, também na década de 80, a importância de permitir que as pessoas priorizassem suas escolhas buscando o bem-estar como objetivo final. Já Joseph Schumpeter, que cunhou o termo “destruição criativa”, na década de 40, afirmava que o desenvolvimento é um processo de ruptura com padrões existentes, destacando a importância dos ciclos de inovação.

Buscando juntar os três renomados pensadores à minha singela observação empírica, vejo o comportamento mais gentil como um vetor para provocar a ruptura, como mencionava Schumpeter; o bem-estar como objetivo principal de uma sociedade, como afirmava Amartya Sen; e o atendimento às necessidades sociais, essenciais para o desenvolvimento, como mostrava Celso Furtado.

Isto posto, uma campanha de incentivo à tolerância e a gentileza seria útil para a tão esperada retomada de nosso crescimento, aumentando nossa riqueza.

Suzana Kahn

Engenheira mecânica com doutorado em engenharia de produção. Professora da COPPE/UFRJ, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança Climática e coordenadora do Fundo Verde da UFRJ.

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